‘A escola é da comunidade, não de professor ou diretor’ - PORVIR
Crédito: Masson / Fotolia.com

Diário de Inovações

‘A escola é da comunidade, não de professor ou diretor’

Professor de Salvador (BA) conta como a escola diminuiu a evasão quando se abriu para a comunidade

por Luiz André Degaut ilustração relógio 12 de junho de 2015

A nossa escola em 2011 estava prestes a ser municipalizada. Com a construção da Unidade de Polícia Pacificadora da Polícia Militar e o nível de desemprego crescente no entorno da unidade escolar, aliados a um problema de violência urbana, desenhava-se um quadro de problemas socioculturais da comunidade escolar e do bairro da Santa Cruz, em Salvador (BA). 

No início de 2012, iniciamos um projeto educacional que tinha o objetivo de elevar a autoestima dos alunos e moradores do bairro usando a tecnologia das mídias digitais e interdisciplinarizando todas as atividades da unidade escolar. Nascia aí, o projeto Aqui da Favela.

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Os nossos alunos saíram pelos becos e vielas da comunidade para fazerem uma pesquisa com os moradores sobre o que achavam da escola e quais atividades gostariam de encontrar lá. Quando começamos a levar os nossos alunos para a rua, o povo começou a olhar. Quebrarmos os muros da escola, integrando a comunidade ao nosso cotidiano.

Ao realizar a pesquisa, muitos demonstraram o interesse em participar de ações de capoeira, esporte, dança, teatro, fanfarra e trabalho com tecnologia. Passamos a integrar os nossos alunos em oficinas voltadas para a comunidade. A escola é da comunidade, não de professor ou diretor.

Exercitando a cidadania com aulas expositivas e abertas tanto na área da escola como nas ruas do bairro, não só revertemos a situação da escola frente à secretaria, como adotamos a expectativa de ensinarmos aos educadores de outras unidades escolares a execução de projetos interdisciplinares.

Antes a escola não tinha uma identidade, um motivo educacional. Com uma visão humanista, conseguimos agregar valores para os nossos alunos, passando a inserir a visão deles no currículo.

Diário de Inovações_interna2Divulgação

A grande sacada que tivemos foi saber que jovem educa jovem. Passamos a pegar os alunos como monitores em atividades da escola. Os mais velhos tinham que ensinar os colegas mais novos. A linguagem de um aluno para o outro é muito mais eficiente que o discurso acadêmico de um professor.

Dentro do projeto Aqui da Favela, envolvemos diferentes atividades. Na horta escolar, por exemplo, os alunos de 5º e 6º ano fazem semeaduras. Com base nisso, os professores de ciências ensinam a medir o pH do solo. Em história e geografia eles discutem questões sociais de reforma agrária e do movimento da terra. Na disciplina de matemática, física e química entram com a parte de cálculos e oxidação. 

Também temos um projeto que produz arte com materiais recicláveis e fazemos um festival com apresentações de música, teatro, dança e mídia. Os alunos fazem o registro de todas as atividades e colocamos no YouTube EDU e no Facebook.

Esse projeto de forma integrada conseguiu reverter o processo de autoestima dos alunos. A estima deles melhorou muito, tanto que a evasão escolar reduziu e hoje já não chega nem a 5%. Inclusive os professores que estavam cansados e desmotivados começaram a pegar esse vírus da mudança e ficaram impressionados.


Luiz André Degaut

Licenciado em geografia, com ênfase em educação ambiental, pela Faculdade de Ciências e Tecnologia-FTC. É professor de geografia da Rede Estadual de Ensino da Secretaria de Educação do Estado da Bahia-SEC, no colégio Estadual General Dionísio Cerqueira.

TAGS

educação integral, engajamento familiar, ensino fundamental, uso do território

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