Minibibliotecas incentivam a leitura em pontos de ônibus
Piracaia na Leitura espalha casinhas de madeira pelo interior de São Paulo e reúne acervo com mais de 10 mil livros
por Marina Lopes 18 de janeiro de 2016
Passar um tempo no ponto de ônibus pode ser cansativo e até mesmo chato para muita gente. Quem nunca se pegou olhando o relógio, impaciente, esperando a condução passar? Em Piracaia, no interior de São Paulo, este momento se transformou em um encontro literário após a instalação das minibibliotecas do projeto Piracaia na Leitura.
Com casinhas de madeira inspiradas no projeto Little Free Library, iniciado nos Estados Unidos, as minibibliotecas reúnem poesias, contos, crônicas, revistas e livros, nacionais e internacionais. “O projeto é comunitário e sem burocracia”, define uma das idealizadoras Amanda Leal de Oliveira, socióloga e especialista em mediação de leitura. Sem a exigência de cadastros ou das tradicionais carteirinhas da biblioteca, qualquer pessoa pode escolher um livro, levar para casa e devolver quando terminar.
A ideia de espalhar minibibliotecas pelos pontos de ônibus da cidade surgiu um pouco depois que ela e o marido Marco Maida se mudaram de Itu para Piracaia, após também já terem morado na capital. “Quando chegamos em Piracaia, vimos uma cidade de 25 mil habitantes e apenas uma biblioteca pública [em funcionamento]”, relembra Amanda.
A primeira minibiblioteca foi inaugurada no dia 16 de junho de 2014, no ponto do Posto de Saúde, na av. Dr. Cândido Rodrigues. Na época, a estrutura de madeira foi construída com o apoio da marcenaria da prefeitura. De lá para cá, seis casinhas já foram instaladas e outras duas estão em construção. “Logo que chegamos à cidade, os pontos de ônibus nos chamaram muita atenção, porque eles são bonitos e bem construídos. Pensamos que, além das pessoas ficarem esperando os ônibus, esse lugar público poderia se tornar um ponto de encontro com a leitura”, explica Maida, psicólogo e mestrando em Mudança Social e Participação Política, pela USP (Universidade de São Paulo).
Totalizando um acervo de mais de dez mil exemplares, todos recebidos por meio de doações, o projeto propõe trazer a leitura para o cotidiano de diversas faixas etárias. Todas as casinhas são estrategicamente colocadas em uma altura que permite uma criança, a partir dos seus seis ou sete anos, escolher seu livro sozinha. Aliás, o próprio nome do projeto foi escolhido por alunos da rede pública e privada de Piracaia. “Levamos cédulas com cinco sugestões de nomes [distribuídas por meio de parceria com Departamento Municipal de Educação] e eles votaram em Piracaia na Leitura [uma brincadeira com o nome da cidade e o convite para cair na leitura]. Quando passávamos por um ponto de ônibus, tinham crianças que falavam: ah, eu votei nesse nome”, diz Amanda.
Caia na leitura e nas escolas
Para incentivar que os alunos tenham mais contato com as casinhas, algumas escolas próximas a pontos com as minibibliotecas também começaram se aproximar. “Em toda inauguração de casinhas, fazemos questão de convidar escolas da vizinhança”, destaca a especialista em mediação de leitura, ao mencionar que o Piracaia na Leitura já foi convidado para participar de saraus em escolas e até mesmo levar parte do seu acervo para os alunos conhecerem. No começo deste ano, também está prevista a inauguração de uma nova minibiblioteca em um ponto na zona rural próximo da Escola Municipal de Educação Básica Eurides Badari, que já procurou o projeto para desenvolver um trabalho conjunto.
A aproximação mencionada por Amanda pretende ajudar a quebrar o estereótipo que o lugar da biblioteca costuma assumir em muitas escolas. “Você tem a sala de aula e a biblioteca, o pátio e a biblioteca, a quadra e a biblioteca. O livro está em um ambiente separado, guardado e catalogado. Ele está muito longe. Com o livro solto, você consegue mudar o envolvimento entre o leitor e o livro”, defende Maida.
Segundo o psicólogo, o espaço de leitura deve ser repensado. “No ensino fundamental e médio, principalmente com a chegada das novas tecnologias, é ridículo achar que a biblioteca serve apenas para pesquisar. A biblioteca tem que se tornar um ambiente vivo, de aproximação das pessoas com a leitura.”
Vaquinha virtual para dobrar a quantidade de minibibliotecas
Para manter e ampliar o projeto, o Piracaia na Leitura está captando recursos em uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Kickante. A ideia é arrecadar R$34.069,60 para dobrar a quantidade de minibibliotecas, formar voluntários em cursos de mediação de leitura e organizar rodas de histórias no parque ecológico da cidade. Até o dia 23 de janeiro, os apoiadores podem contribuir com valores a partir de R$15,00.