Professora usa bordado para conscientizar docentes sobre dificuldade dos alunos - PORVIR
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Diário de Inovações

Professora usa bordado para conscientizar docentes sobre dificuldade dos alunos

Coordenadora colocou professores no papel de estudantes para mostrar como alunos se sentem em relação a novos conteúdos

por Daniela Cordeiro de Almeida Lemos ilustração relógio 23 de março de 2016

Após acompanhar o Transformar 2015, evento sobre inovações educacionais, resolvi aplicar algumas ideias expostas no encontro e lançar um desafio. Agendei uma reunião com todo o corpo docente do colégio Maria Clara Machado, em Belo Horizonte, que conta com aproximadamente 20 profissionais.

Comecei explicando que, para o professor, a matéria que ele ministra é um conteúdo fácil, já que ele vê aquilo todo dia, todo ano. Além disso, falei da importância do aluno entender o processo de ensino-aprendizagem e fiz um resumão do Transformar.

Com a proposta de fazê-los se sentir como alunos, ministrei uma aula de bordado. Expliquei toda a história do bordado, mostrei um passo a passo, coloquei uma videoaula e, no final, perguntei se eles tinham alguma dúvida. Todos responderam que não, que aquilo “era tudo muito simples”. Então eu respondi: “Tudo bem. Agora é a aula prática”.

Eles entraram em desespero quando perceberam o quanto aquilo era difícil. “É assim que o aluno se sente”, eu falei pra eles. O aluno se sente angustiado porque, na teoria, quando o professor está explicando, é tudo muito fácil. Mas na hora que ele tenta, não consegue.

Essa experiência serviu para que os docentes vissem como, no olhar do aluno, o conteúdo está muito longe da realidade. Eles vivenciaram um pouco dessa angústia. Além disso, eu comparei com os métodos tradicionais de aula e mostrei como o estudante se sente frente a uma disciplina nova pela qual não possui habilidade nem empatia.

Durante o processo, era engraçado porque o professor de inglês falava assim “volta lá na videoaula!”. Então eu fazia exatamente como é o vício do professor em sala de aula: “nossa gente, é muito simples, peguem aí a linha, passem no buraquinho da agulha, não é possível que vocês não dão conta”.

Eu escolhi o bordado por ter experiência e, pra mim, ser uma coisa fácil. Queria escolher uma atividade que eu já tivesse habilidade. Quando uma pessoa vai dar aula de física, por exemplo, ela já tem habilidade em física. Além disso, o bordado sai mesmo de qualquer conteúdo curricular de sala de aula.

Depois da experiência, os professores começaram a olhar os alunos de maneira diferente, não como uma caixa de depósito de conteúdo. Eles perceberam que os jovens têm habilidades e competências diferenciadas. Por exemplo, no início desse ano, todos os professores já começaram a aula de forma diferente. A professora de matemática, do oitavo ano, usa o tablet uma vez por semana para dar aula de geometria.

Quando eu fiz essa proposta, o legal foi que eles compraram a ideia. Se o grupo virasse pra mim e falasse: “nós não vamos fazer isso, isso não tem sentido”, eu não teria obtido esse resultado. Comecei a perceber um movimento de mudança; os professores começaram a trabalhar de maneira mais interdisciplinar. É muito bacana ver a equipe integrada e acreditando que podemos mudar a forma de se ensinar!


Daniela Cordeiro de Almeida Lemos

Bióloga, pós-graduada em bioética, química, neurociências e psicanálise da Educação e psicopedagogia. Atualmente é coordenadora educacional do ensino fundamental II e médio e professora de química no 3º ano do ensino médio no Colégio Maria Clara Machado. Coordena um Centro de Estudos, onde realiza acompanhamento escolar e intervenções psicopedagógicas.

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