No ensino médio, acolher também significa dar ao aluno a chance de se expressar
No momento em que for seguro voltar às aulas presenciais, incentivo à expressão e curiosidade dos estudantes pode ajudar a lidar com dificuldades que apareceram durante a quarentena
por Fernanda Nogueira 22 de julho de 2020
A escola terá de ser um local onde o estudante de ensino médio possa investir em seu projeto de vida no retorno às aulas presenciais, quando houver segurança para isso. Mais do que buscar a recuperação de conteúdo, redes estaduais de ensino devem permitir que os jovens se expressem, seja de forma oral, escrita ou por linguagens artísticas. Essa será a melhor forma de ajudá-los a lidar com questões como morte, doença de pessoas queridas, violência, falta de trabalho e renda e incerteza sobre o futuro na retomada das aulas após meses de fechamento das escolas devido à pandemia do coronavírus (COVID-19).
“Tematizar a doença, a morte, a violência ou as possibilidades de projetos pessoais deveria ser uma constante da atividade escolar. E não é exatamente isso o que tem caracterizado o trabalho docente, inclusive porque o magistério também está posto em uma organização burocrática que não favorece a sua própria expressão quanto aspectos da vida como esses”, afirma Elie Ghanem, professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
A implantação de um currículo humanitário pode ser um caminho a ser seguido no retorno às escolas. “Seria o resultado de uma necessária inversão da lógica mais comum da educação escolar. Segundo essa lógica, a escola deve ensinar saberes previamente reunidos e organizados em campos disciplinares. Faz isso independentemente da disposição de cada estudante para lidar com esses saberes e de forma dissociada dos assuntos que já assaltam a curiosidade individual. É essa curiosidade que precisa estar no início e muitas vezes no centro das atividades educacionais, para repensá-la, compará-la com a dos pares e expandi-la ao máximo. Nesse movimento é que se recorreria aos saberes já sistematizados pelas disciplinas escolares”, explica Elie.
Este tipo de currículo leva em consideração a formação do ser humano em sua integralidade, de acordo com Danila Di Pietro Zambianco, mestre em Educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), especialista em competências socioemocionais. “Não somos apenas alunos nas escolas, somos pessoas. Pessoas que sabem pensar racionalmente, para resolver alguma questão de química, por exemplo, mas também pessoas que sofrem diante da ruptura dos seus sonhos. Por isso, não desligamos nossa humanidade na hora de aprender, de estar na escola. Ela é intrínseca à nossa existência e à nossa convivência com o outro.”
Danila faz parte do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral), que integra pesquisadores de diversas universidades e contribuiu para a preparação de um material do Observatório da Educação do Instituto Unibanco sobre os efeitos psicológicos da pandemia. Confira o vídeo de apresentação, que traz explicações de pesquisadores.
O currículo humanitário, de acordo com Danila, considera as várias dimensões do desenvolvimento do ser humano – intelectual, afetiva, moral, artística, corporal e de integração com o meio ambiente. “Para implantá-lo, deve-se considerar todas as dimensões no mesmo peso e medida, em articulação com os componentes curriculares. Precisa ter ações explícitas, planejadas, da mesma maneira que se planeja matemática, português, geografia, também ações sistemáticas avaliadas com frequência pela escola, para que ela possa perceber qual é a contribuição que está fazendo para a sociedade. Essa é uma tarefa da escola, se ela está ajudando a formar seres humanos. As ações devem ter espaço e tempo na grade horária desses alunos, permeada por uma robusta formação de professores, para que essa formação humana seja viva e não apenas um documento de gaveta.”
Projete-se: Podcast de Porvir e Instituto iungo sobre projeto de vida
Vacina
Gina Vieira Ponte, professora da educação básica no Distrito Federal, lembra que só profissionais de saúde poderão dizer qual será o momento seguro de voltar. “Se a escola não controla nem piolho, como vai controlar o vírus? Temo que retorne para teste, mas a escola é vetor da COVID-19. Se abrir, vai colocar o vírus para circular com intensidade.”
Elie Ghanem também ressalta a importância de que o retorno seja feito apenas quando houver segurança. “É preciso levar em conta que o retorno às aulas presenciais sem que haja imunização por vacina será colocar vidas em risco e causar inúmeras mortes, como já tem ocorrido com o relaxamento do isolamento físico. Segundo os estudos rigorosos que vêm sendo divulgados, não há protocolos a seguir que eliminem esse risco.”
Quando a volta for possível, será preciso considerar a mudança na rotina dos estudantes, como a redução do esforço físico, a diminuição dos deslocamentos em áreas abertas e situações de tédio durante a quarentena, segundo o professor. “As pessoas estiveram submetidas à intensificação do estresse corriqueiro das relações no ambiente doméstico. Foram privadas da insegurança comum, mas também da segurança comum implicada nas interações sociais físicas e próximas, especialmente das manifestações corporais de afeto, que vão do sorriso ao abraço ou às relações sexuais. Por fim, cada indivíduo dispôs de muito menos informação sobre vários aspectos da vida das pessoas conhecidas.”
Será necessário ainda reconhecer o sofrimento dos estudantes. “Eles experimentaram a insegurança com relação ao momento que estamos vivendo, com relação ao futuro, tanto a preocupação material, de garantia do sustento da família, quanto na saúde ou na observação e no convívio com pessoas doentes, falecendo”, diz Danila.
Parte dos jovens conviveram em casa com o aumento da violência doméstica e o aumento do consumo de drogas e de álcool. Lidaram ainda com a frustração, pela quebra da rotina, dos planos e da convivência com colegas e professores. “Eles também experimentaram a vulnerabilidade. Foi um sentimento bastante vivenciado durante o afastamento involuntário, pois não temos controle do que pode nos acontecer. A soma desses fatores acarreta um sofrimento inerente a todos nós”, afirma a pesquisadora.
CEDOC: Confira o estudo do Unicef “Principais mensagens e ações para a prevenção do coronavírus (Covid-19) em escolas”, que traz dicas para a comunidade escolar.
Para Gina, o acolhimento na retomada das aulas presenciais só será efetivo se for iniciado durante a quarentena. “O que conecta o aprendizado são os vínculos, os afetos, se sentir pertencente, acolhido, apoiado. O ensino remoto é importante para a escola garantir a manutenção do vínculo do estudante com a escola e com a aprendizagem.”
É preciso fazer uma reflexão e uma avaliação sobre o trabalho da escola, de acordo com a professora. “Pensar se as atividades são capazes de gerar engajamento, se dialogam com o contexto. Todos nós vamos levar uma memória da pandemia. Vamos construir uma narrativa sobre isso. Dependendo do que a escola fizer, o estudante pode ter dor, abandono, fracasso, por não poder acompanhar.”
Logo no início da quarentena, as redes se preocuparam em enviar tarefas aos alunos, mas deixaram de lado a escuta e o acolhimento, segundo Gina. “O que se deve fazer primeiro, que demanda uma ação planejada, com intencionalidade, alinhada ao perfil das famílias, é a escuta.”
CEDOC: O documento “Proteção da Saúde Mental em Situações de Epidemias”, da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), escritório regional para as Américas da OMS (Organização Mundial da Saúde), traz informações sobre cuidados psicológicos e sociais em situações de epidemias, principalmente em populações vulneráveis.
Estudo
Na pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus” – promovida pelo CONJUVE (Conselho Nacional da Juventude), em parceria com Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco e Visão Mundial – sete em cada dez jovens disseram que seu estado emocional piorou por causa da pandemia.
Ansiedade, tédio e impaciência foram apontados como os sentimentos mais presentes durante o isolamento social. O acolhimento aparece como o sentimento mais positivo, que pode estar relacionado ao convívio familiar ou a interações remotas, mostra o estudo.
Do total de 33.688 jovens de 15 a 29 anos participantes da pesquisa – realizada entre 15 e 31 de maio em todo o Brasil por meio de um questionário online -, seis a cada dez consideram que suas instituições de ensino devem priorizar atividades para lidar com as emoções e cinco em cada dez querem aprender estratégias para gestão de tempo e organização.
Cuidado
Para Danila, o acolhimento na volta às aulas deve ser entendido como necessário, prioritário e realizado através da escuta e do cuidado. “Acolher significa estar disponível para escutar e se colocar à disposição para ajudar naquilo que o sujeito que está sendo escutado indica como importante para ele, sem julgamentos prévios daquele que está escutando, daquele que está acolhendo. É o acolhido que vai direcionar como ele quer e como precisa ser cuidado.”
Para isso, as escolas terão de preparar espaços de escuta. “A escola pode criar, por exemplo, círculos de acolhimento e escuta, onde os jovens podem expressar o que estão sentindo, o que mais os preocupa. A escola também pode organizar uma equipe de acolhimento, específica para este momento, que vai apoiar ações dentro da escola, para ajudar em todo esse processo de acolhimento e cuidar das demandas que vão surgindo nesse retorno”, afirma Danila.
Podem ainda haver equipes específicas de ajuda para os problemas mais recorrentes e um incentivo às pessoas a acolherem umas às outras, segundo a pesquisadora. “A escuta do jovem é preciosa, porque eles são muito criativos. Uma ideia seria a colocação de cartazes do tipo ‘preciso de ajuda em…’ e ‘posso ajudar em…’ ou ‘coloque aqui a sugestão de como a escola pode acolher nesse retorno’.”
Este acolhimento na escola não significa tratamento psicológico. “Para isso, temos profissionais e locais específicos. Não somos, na escola, responsáveis por resolver todos os problemas que vão chegar a ela, mas o movimento de acolhimento significa um exercício de humanidade. Algo que as escolas nunca deveriam deixar de ter em primeiro plano”, diz Danila.
Para Elie Ghanem, o momento de acolhimento será uma oportunidade para conversar sobre experiências pessoais que aconteceram durante a pandemia, o que pode favorecer o autoconhecimento. “Será sobretudo uma ocasião preciosa para a reflexão coletiva a respeito das rotinas automatizadas no tempo anterior à pandemia, o que ensejará a proposição de atividades com mais sentido e formas mais equilibradas de viver. Aproveitar dessa maneira o momento do reencontro parece mais acertado do que o afã de voltar às rotinas antes praticadas.”
Temas como gostos pessoais e relações afetivas e amorosas podem fazer parte das conversas com os jovens, além da nova realidade. “Certamente também serão momentos propícios a demandar a informação e a reflexão sobre a conexão mundial dos seres humanos que a pandemia escancarou, principalmente naquilo que tal conexão demanda em termos de solidariedade entre grupos e povos, e de responsabilidade para com o meio ambiente natural”, diz o professor.
Gina considera que os primeiros a serem acolhidos no retorno terão de ser os professores, principalmente as mulheres. “Estarão voltando de perdas, com estresse, sobrecarregadas, com trabalho remoto e doméstico, acompanhando filhos. Para acolher os estudantes, precisam se sentir acolhidas.”
O trabalho pedagógico com os estudantes terá de ser empático, incluindo a escuta, mas há limites, de acordo com Gina. “Podemos ter alunos que precisarão de atendimento de saúde mental. Teremos que identificar os casos mais críticos e encaminhá-los para atendimento psicológico específico.” Outra preocupação é o alto risco de evasão, principalmente no ensino médio.
“Será preciso ter uma busca ativa, uma ação articulada. As famílias empobreceram, vão precisar de ajuda, de uma renda complementar para manter o estudante na escola. É uma situação complexa com uma série de fatores a observar. Tem a questão financeira, de saúde, pode ter gerado um sentimento no aluno de que ele perdeu muita coisa. Os docentes terão de fazer uma interlocução com as famílias, para construírem ações mais adequadas”, afirma Gina.
A escola deve atuar em parceria com a rede de proteção do Estado, segundo Danila, mas também usar soluções internas, como levantar fundos para oferecer cestas básicas aos mais necessitados, por exemplo. Sobre o futuro, a escola tem papel primordial na discussão do tema com os estudantes de ensino médio.
“Talvez uma maneira de colocar um pouco de esperança é, além de acreditar na finitude, de que isso vai passar, é saber que esse jovem pode contar com seus pares e com a escola para passar por este momento. Mesmo que às vezes ela não consiga resolver ou encaminhar todas as questões do jovem, ela pode se mostrar junto, ao lado dele, acolhendo, escutando e cuidando”, diz Danila.
O plano “Preparação para a reabertura das escolas” (em inglês), da Unesco, traz orientações sobre o planejamento das ações para a retomada das aulas.
Ansiedade
Micael Rodrigo dos Santos, de 17 anos, faz o terceiro ano do ensino médio, na escola estadual Tomé Gibson, em Recife. O estudante conta que sentiu a mudança na rotina com a suspensão das aulas. “Antes saía, ia para a escola, conversava, botava a mente para se exercitar. Em casa, com a quarentena entre quatro paredes, mudou totalmente a rotina. O psicológico muda. Eu me sinto ansioso, quero sair, construir algo novo, estudar. Tenho uma sensação de impotência.”
A escola faz falta por vários motivos. “É onde me empenho para estudar, posso falar com o professor, tirar dúvidas. Em casa, estudo pela internet, às vezes não consigo acesso e o professor nem sempre está disponível. Eu vendia brigadeiro antes de ir para a escola e vendia o que sobrava lá. Usava a renda para pagar um curso de informática profissionalizante. Como minha renda caiu, consegui uma bolsa de 50% e continuo fazendo o curso pelo Google Sala de Aula.” Na comunidade Passarinho, onde mora, o jovem participa de ações sociais com os amigos.
Na retomada das aulas presenciais, Micael diz esperar que exista segurança em primeiro lugar. Ele conta que sempre se sentiu acolhido pelos professores e profissionais da escola e espera que isso se intensifique. “Espero que seja maior, porque podemos voltar com problemas psicológicos, que tivemos em casa. Todos vão precisar. Pelo menos, uma parte dos alunos, que não tiveram acesso às aulas, vão precisar de um acolhimento maior. Tem alunos que tinham planejamento para conseguir fazer Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), fazer faculdade, mas, com a quarentena, não tiveram acesso às aulas. Vão precisar que a matéria seja repassada.”
Vitor Lauro Zanelatto, de 18 anos, faz o terceiro ano do ensino médio, na escola de educação básica Doutor Frederico Rolla, em Atalanta (SC). O estudante diz se sentir privilegiado por viver em uma cidade pequena, com uma comunidade unida, em que os professores se esforçam para continuar ensinando pela internet, para entregar atividades nas casas dos alunos sem internet e para acolher os jovens.
“Num cenário local, estão bastante preocupados, mas acho que na região e no Estado poderia ter mais iniciativa de contato, pesquisa, escuta dos alunos, para ter um processo de forma mais humana, mais acolhedor e menos mecânico. Onde estudo os professores e a direção ouvem os alunos. Perguntam como cada um tem enfrentado a situação, como estamos conseguindo estudar, se estamos com dificuldades. Na região e no Estado, acho que não aconteceu até hoje, mas pode vir a acontecer amanhã. Acho importante manter a esperança”, diz Vitor.
Estagiário de uma entidade do terceiro setor de ativismo ambiental, o jovem conta que consegue se organizar para estudar e trabalhar em casa, mas sente falta do contato. “Achei tranquilo no início, mas ficou difícil depois do segundo e do terceiro mês. Já são quase quatro meses sem sair, sem ver o pessoal do trabalho, da escola, os professores. Sinto falta da interação, de ter o momento de recreio com meus colegas, mesmo que mantenha contato pelas redes.”
O estudante diz que gostaria de voltar às aulas presenciais, mas acredita que isso não será possível ainda neste ano. “Gostaria de poder voltar, mas, analisando a situação, acho que não vai acontecer. Vão flexibilizar o horário e a grade, estão se organizando para entregar os diplomas de conclusão do ensino médio em dezembro. Ficaria feliz se pudesse ter aulas em janeiro, pelo menos para ter alguma preparação maior para o Enem, mas acho difícil acontecer.”
Vitor se preocupa ainda com as incertezas em relação à realização do Enem e dos vestibulares. “Não sabemos quando as universidades voltam a funcionar. Como vão ocorrer os processos seletivos. É um período de bastante angústia, principalmente sobre as incertezas do que vem depois. É um processo complexo e difícil, que já seria em um cenário normal.”
– “Nunca me sonharam”: O documentário que mostra o ensino médio pela voz do jovem
Desigualdades
Para minimizar desigualdades e fortalecer a equidade no retorno, as escolas e o país terão de discutir a questão racial, segundo Gina. “É determinante e estruturante das desigualdades”, afirma. “O apartheid do Brasil é histórico, abandona as pessoas negras à própria sorte. As favelas do Rio de Janeiro, sem saneamento básico, são um exemplo. É preciso pensar na geografia, na arquitetura, na política habitacional para garantir uma vida digna a crianças e adolescentes.”
Outra agenda a ser implementada será a da inclusão digital, de acordo com Gina. “A escola que insistimos em manter em pé é de outra época. Prepara os alunos para um mundo que não existe mais. Garantir acesso à tecnologia é inadiável para garantir educação. Internet é artigo de luxo para muitos. O Estado pode fazer com que a conectividade, a internet, o celular e tecnologias a serviço da aprendizagem cheguem a todos. Para acontecer, também é preciso formar os docentes, para poderem inserir a tecnologia no fazer pedagógico, sem perder a autonomia.”
Para Danila, equidade é cuidar das pessoas dentro da necessidade da pessoa e não do ponto de vista do outro. “É preciso organizar uma série de ações e que elas estejam em comunhão com a escuta desses jovens, na constante checagem, para tentar entender que o que a escola está promovendo está, de fato, atendendo a demanda necessária. Embora esses movimentos de acolhimento, de escuta, cuidado e equidade estejam sendo requisitos com mais urgência neste momento, o ideal seria que eles fizessem parte da cultura da escola, independe da pandemia.”
Um caminho para enfrentar as desigualdades sociais dentro da escola é abordar suas manifestações fora dela, de acordo com Elie Ghanem. “Isto é, pesquisar as condições de vida das famílias de estudantes e os direitos humanos que não são respeitados, num empreendimento de conhecimento conjuntamente conduzido por docentes e discentes. Nessa trilha, a reflexão coletiva a respeito das rotinas automatizadas do período pré-pandemia será um incontornável ponto de partida.”
Empatia
Iniciada em 2019, a Apoie (Ação Psicossocial e Orientação Interativa Escolar), da Secretaria da Educação do Espírito Santo conta com uma psicóloga, uma assistente social e uma pedagoga. Criada com o objetivo de ajudar as escolas a lidar com as questões emocionais de estudantes e professores, a área oferece apoio remoto às escolas durante a pandemia. Participa ainda da preparação para o retorno.
As diretrizes incluem a importância da escuta empática da gestão com profissionais e alunos. Sugerem ainda que a escola identifique alunos que perderam entes queridos, para propor dinâmicas e atividades para a elaboração do luto, e faça o acolhimento dos professores logo na primeira semana de aulas “Precisa ouvir como viveram o isolamento e receber as pessoas na sua totalidade”, explica a psicóloga Priscila Maria do Nascimento Pereira, coordenadora da Apoie.
CEDOC: Covid-19: implicações e aplicações da psicologia positiva em tempos de pandemia
Outra sinalização é para a necessidade de um protocolo de ações para casos de COVID-19 na escola. “É importante evitar a tendência de estigmatização e culpabilização da pessoa que é vítima da doença”, diz Priscila.
Será responsabilidade da escola ainda estimular os alunos a pensar em formas de convivência com menos contato físico e desenvolver atividades sobre respeito, empatia, cuidado consigo mesmo e com os outros. “Além de acolher sentimentos ruins e difíceis que as pessoas tiveram durante a pandemia, será o momento para ouvir boas experiências, o que aprenderam, sem romantizar, mas para construir pontes com o futuro.”
A Secretaria da Educação de Goiás planejava voltar às aulas presenciais em agosto, mas devido à situação da pandemia, ainda aguarda uma decisão da área de saúde. A acolhida à comunidade escolar deve ocorrer ao menos nos três primeiros dias de volta às aulas. “No primeiro, teremos o acolhimento aos professores, no segundo, às famílias e no terceiro, aos estudantes”, explica Osvany da Costa Gundim Cardoso, superintendente de ensino médio da secretaria.
As atividades devem incluir orientações, informações sobre como será o retorno, ações para garantir a saúde na escola, questões pedagógicas e emocionais, segundo Osvany. “Pretendemos promover rodas de conversa, contando com os jovens agentes (estudantes que atuam como líderes nas escolas), para promover a escuta. Sabemos que os estudantes trarão experiências dolorosas deste período.”
As questões emocionais serão abordadas de acordo com o resultado de uma pesquisa, realizada em parceria com o Instituto Unibanco. “Faremos uma discussão coletiva na secretaria para entender até que ponto temos ou não temos condições de atender os estudantes e de que forma atendê-los”, afirma Osvany.