Professora usa rotinas de pensamento para engajar alunos do ensino médio
Com metodologias que colocam o aluno como protagonista, professora consegue tornar prática e avaliação mais constantes na aula de inglês
por Lucimara Bauab Bochixio Bello 7 de abril de 2021
Com a chegada da pandemia no início de 2020, todos os professores tiveram um grande desafio à frente: o de se reinventar. E comigo não foi diferente. De repente, em uma sexta-feira, fui “sequestrada” da escola em que atuo desde 2017 como professora de inglês e, na segunda-feira seguinte, já estava online, exercendo uma atividade que não encaro como uma profissão, mas sim, como uma missão de vida, pois tenho um amor e dedicação verdadeiros à educação. Tendo a educação como missão, como inovar em minhas aulas para garantir a atenção e a participação efetiva dos meus alunos de ensino médio perante um cenário e uma forma de escola tão diferentes? Como prender a atenção dos alunos numa aula remota? Como fazê-los produzir? Como avaliá-los?
Essas questões devem estar permeando ainda não só a minha mente, mas a de muitos profissionais preocupados com uma educação significativa e de qualidade. Eu, como professora de inglês, flagrei-me, em muitos momentos, tentando achar as soluções para muitas dessas dificuldades apresentadas e, sinto-me muito feliz em poder compartilhá-las.
Costumo trabalhar muito com a antecipação de conteúdos, ou seja, os tópicos da aula seguinte já são pesquisados pelos alunos previamente. Isso otimiza o tempo de aula e faz com que os alunos busquem a informação por conta própria, desenvolvendo, assim, a sua autonomia; algo essencial para a vida de qualquer ser humano. Além disso, a devolutiva do tópico pesquisado é dada pelos próprios alunos que apresentam o que foi estudado previamente, durante a aula. Nesse momento, o professor deixa de cumprir aquele antigo papel de mero expositor de conteúdos e passa a atuar como alguém que aponta caminhos, esclarece possíveis dúvidas, quando necessário, e faz seus alunos refletirem.
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É nesse processo de pesquisa e exposição dos conteúdos por conta dos alunos que o professor poderá iniciar seu processo de avaliação. A avaliação, aqui, não será aquela clássica e formal, mas será uma cujo empenho e dedicação na busca de informações serão os itens mais valorizados.
Uma outra estratégia que funciona muito no ensino remoto é a gamificação de conteúdos que garante a participação dos alunos em aula. Qual criança ou jovem não gosta de jogar? E hoje há disponível uma gama enorme de aplicativos para isso: Kahoot, Quizlet, Quizizz, entre outros. A gamificação de conteúdos auxilia em sua sistematização, além de ser uma forma garantida de diversão!
No Microsoft Teams, por exemplo, existe o recurso de “breakout room”, ou seja, uma sala de aula virtual onde os alunos são divididos em pequenos grupos, para a prática de conversação com os assuntos da aula, onde o foco é totalmente na oralidade. Em grupos menores, os alunos se sentem mais confiantes para falar e perdem o medo de se expor. O professor “visita” cada grupo, fazendo as devidas correções quanto à pronúncia, possibilitando uma maior atenção a cada aluno. Por estarem em grupos, os alunos não se sentem envergonhados ao serem corrigidos e, inclusive, sentem-se à vontade para abrirem as suas câmeras.
Quanto à produção de textos, sigo as propostas do livro didático com o qual trabalho, pois os temas estão sempre atrelados aos assuntos estudados nas aulas remotas. Com relação a correção das redações, o que aprendi a fazer foram as rubricas que estabelecem parâmetros aos alunos do porquê de determinada nota, facilitando o trabalho do professor quanto a um feedback (retorno) com referência ao texto produzido.
A plataforma Teams também fornece uma área para a produção das rubricas pelo professor. Os alunos as recebem assim que abrem a sua tarefa de redação no Teams para que possam saber no que deverão se pautar no momento em que estiverem escrevendo os seus textos.
Em Santo André, SP, onde leciono no Colégio Arbos, sempre primamos por aulas assim, dinâmicas e no estilo “mão na massa”, e não expositivas, em que os alunos atuam como protagonistas de sua própria aprendizagem. Busquei inovar, também, inserindo, ainda mais, as rotinas de pensamento no ensino remoto. Sendo assim, o plano de aula que vou apresentar foi pensado e efetuado com uma turma de 1º ano do ensino médio.
Iniciei a aula com a rotina de pensamento intitulada “3-2-1 Bridge”, pois o livro didático trazia uma unidade sobre a rivalidade entre irmãos e, para que o texto fizesse mais sentido aos alunos, queria que antes da leitura propriamente dita, os alunos refletissem sobre esse assunto. Assim, montei um Padlet que consistia de três colunas. Esse primeiro Padlet foi nomeado de “Initial Response” – “Resposta Inicial”. Cada coluna recebeu um nome. A primeira era “3 words” – “3 Palavras”, em que os alunos deveriam inserir três palavras que lhe vinham à mente ao pensar no tópico “Rivalidade entre irmãos”. A segunda coluna era “2 Questions” – “2 Perguntas” – em que os alunos deveriam inserir duas perguntas sobre o assunto trabalhado, e a terceira coluna “1 Metaphor” – “1 Metáfora”- em que os alunos deveriam fazer uma comparação entre o conteúdo discutido e uma experiência pessoal vivida sobre esse assunto. Tendo feito isso, apresentei uma palestra TED cujo nome era “Dear Little Sister: The benefit of sibling rivalry” (“Querida irmãzinha: o benefício da rivalidade entre irmãos”).
Leia mais:
– Como tornar o pensamento visível e melhorar o engajamento dos alunos
– Howard Gardner e o trabalho socioemocional para o bem
– A proposta de Harvard para uma educação para compreensão
Para garantir a compreensão do vídeo em inglês, foi montada uma atividade cujo vídeo pôde ser editado do YouTube para o aplicativo EdPuzzle. Nessa plataforma, inseri o vídeo TED e criei questões de compreensão de múltipla escolha para os alunos. O que é fantástico desse aplicativo é a possibilidade que os alunos têm de assistir ao vídeo em seu dispositivo quantas vezes quiserem, até a sua total compreensão, ou seja, executam a atividade de forma autônoma, sem depender do professor. Podem também parar o vídeo quantas vezes quiserem para responder e revisar determinadas questões que, talvez, tenham dúvidas. Ao final, o próprio aplicativo corrige automaticamente as questões de múltipla escolha realizadas pelos alunos, o que poupa, e muito, o tempo precioso de aula. Terminada essa parte, foi feita também uma discussão e um momento de esclarecimento das dúvidas sobre o vídeo apresentado.
Posteriormente, novamente no Padlet, os alunos preencheram as três colunas anteriormente citadas “3 words”, “2 questions” e “1 metaphor”, com o objetivo de comparação entre o primeiro quadro “Initial Response”- “Resposta Inicial”- e entre um último quadro criado exatamente com as mesmas três colunas mencionadas anteriormente, denominado “New Response” -“Nova Resposta”- para poderem ter uma percepção, pelo concreto, dos conceitos e ideias possuídas antes de toda a discussão feita em aula com os novos pensamentos posteriores a toda a discussão. Após essa rotina de pensamento trabalhada, o texto, versando sobre o mesmo tópico, apresentado pelo livro, foi explorado pelos alunos. A vantagem de se iniciar uma aula com essa rotina de pensamento é fazer com que os alunos reflitam sobre o assunto a ser trabalhado em aula, sem ir diretamente ao texto, pois assim, têm também a possibilidade de explorar vocábulos novos e quando forem trabalhar com o texto do livro didático, parte da dificuldade com o vocabulário novo apresentado já poderá estar sanada. Ainda, os alunos têm a oportunidade de comparar o que inicialmente pensavam com as novas ideias e conceitos adquiridos após toda a realização da rotina de pensamento.
Além disso, depois que comecei a trabalhar com as rotinas de pensamento em aula, observei que as reflexões e questionamentos sobre assuntos que seriam expostos nas aulas começaram a ser “automáticos”, ou seja, a participação dos alunos nas discussões começou a ser espontânea, sem eu ter que chamá-los a participar o tempo todo, como ocorria antes. Naturalmente e de forma mais intensa, o ato da reflexão e da participação dos alunos começou a fazer parte da rotina das aulas de língua inglesa.
Lucimara Bauab Bochixio Bello
Graduada na área de Tradução e Interpretação da língua inglesa/língua portuguesa pela Unibero. Tem pós-graduação em língua inglesa/língua portuguesa na área de Interpretação de Conferência pela PUC – São Paulo. É mestre em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo. Trabalha como professora de inglês há 25 anos. Já lecionou língua portuguesa e língua inglesa no ensino superior por mais de dez anos.