9 reflexões sobre a adoção da aprendizagem ativa na escola - PORVIR
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Inovações em Educação

9 reflexões sobre a adoção da aprendizagem ativa na escola

Especialistas apontam a importância de promover um olhar atento às dificuldades naturais do processo, bem como a promoção de diferentes formas de praticar o aprendizado

Parceria com CLOE

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 31 de agosto de 2021

Adotar um novo modelo educacional dentro de uma escola ou rede de ensino consiste em uma mudança complexa, pois envolve regras, normas e atores com experiências, práticas e concepções de ensino e aprendizagem já consolidadas.

Por isso, para implementar, por exemplo, uma cultura de aprendizagem baseada em projetos – uma das estratégias da metodologia aprendizagem ativa – é necessário envolver e sensibilizar as lideranças escolares. Entretanto, quais outros fatores precisam ser compreendidos antes que uma escola possa, de fato, viver a aprendizagem ativa? Quais pontos devem ser adaptados? Como gestores podem motivar os professores e como esses, por sua vez, podem engajar os alunos?

Kevin Mattingly, professor, administrador e diretor de co-curriculum na Riverdale School (de Nova York, nos Estados Unidos) e Naheeda Karnali, especialista em psicologia infantil, em liderança educacional e doutoranda com especialização em estudos de currículo pelo Teachers College (EUA), responderam algumas dessas questões durante o painel “Como preparar sua escola para aprendizagem ativa”, realizado durante o ALLS (Active Learning Leadership for Schools), um evento online promovido pela Camino School e pela plataforma CLOE entre os dias 22 e 24 de julho com o objetivo de debater a importância de lideranças escolares para uma aprendizagem ativa.

Durante o bate-papo, os especialistas deram algumas dicas sobre como é possível envolver estudantes e professores em reflexões sobre o tema e, assim, desenhar estratégias e colocar em prática propostas que, aos poucos, serão aprimoradas para se parecer cada vez mais com a aprendizagem ativa. O Porvir separou alguns pontos a ter em mente, bem como dicas de estratégias. Confira a seguir.

  1. Mudança de mentalidade
    Fazer com que professores compreendam que mudar o jeito de aprender é um processo difícil e que nem sempre será divertido é uma tarefa complexa, que exige mudança de mentalidade de todas as partes envolvidas.
  2. Importância da dificuldade
    Um dos pontos que os especialistas reforçaram é a importância da dificuldade. “Se as crianças não estão enfrentando algum tipo de dificuldade, isso significa que não está acontecendo tanto aprendizado, pois elas já sabem o que você está ensinando ou não estão tão engajadas”, comentou Kevin. Segundo o especialista, as crianças precisam compreender que uma aprendizagem duradoura, profunda, que realmente é fixada na memória e que poderá ser usada na vida fora da escola não é um processo fácil. Nesse sentido, é interessante que os professores deixem claro que eles desejam que os alunos enfrentem o que Kevin chama de “dificuldade produtiva”, e não a dificuldade improdutiva que desmotiva. “A dificuldade é parte do acordo para [promover] a aprendizagem profunda e isso precisa ficar claro para os alunos também.”
  3. Diagnóstico
    Quase uma continuação do item anterior, professores devem realizar processos de diagnóstico continuamente, de forma a promover um acompanhamento dos estudantes, identificando aqueles que estão com dificuldade excessiva e entender como é possível ajudá-los e motivá-los.
  4. Acessar o aprendizado
    De acordo com Kevin, a ciência cognitiva explica que a aprendizagem “muda memórias de longo prazo”. Ou seja, quando professores ensinam seus alunos, a ideia é usar estratégias que ajudem a criar memórias duradouras. Outro passo importante é ajudar os estudantes a acessar essas memórias posteriormente. “Muito do que as crianças ‘esquecem’ está no fato de que não sabem como acessar a informação que está nas suas cabeças. Mas existem técnicas que professores podem utilizar para que os alunos mudem suas memórias de longo prazo e acessem e utilizem esse conhecimento quando necessário. Esse tipo de ensino não é fácil de se fazer.”
  5. Motivação
    Para incentivar que os estudantes tenham uma motivação intrínseca, isto é, que vem de dentro e não de um elemento externo, Kevin comenta que existem alguns fatores. O sentido de propósito, ou seja, entender o significado e relevância da proposta pedagógica em questão é um deles, pois ajuda os estudantes a entender porque estão fazendo determinada tarefa. O senso de autonomia e independência é outro fator, possibilitando que, dentro dos limites, crianças e jovens façam escolhas sobre sua aprendizagem. O senso de competência também ajuda na motivação, pois os alunos entendem que são capazes de determinada ação. O especialista também reforça o papel da conexão interpessoal entre professores e estudantes, de forma a gerar um sentimento de pertencimento do aluno na turma e a presença do professor como impulsionador de sua evolução. Por fim, paixão e curiosidade igualmente atuam como fatores de motivação, apesar da variação a depender do tema e conteúdo de estudo.
  6. Feedback (retorno avaliativo, devolutiva)
    “Eu, particularmente, acreditava que era um ótimo professor em dar ‘feedbacks’ pois sempre devolvia as tarefas com múltiplos comentários. Mas em retrospecto, entendo que não dei muitas oportunidades para os alunos usarem meus feedbacks na prática”, comentou Kevin. Por isso, quando o assunto é devolutiva aos estudantes, é interessante responder três perguntas: onde estou em termos de aprendizado, onde preciso estar e o que fazer para chegar até lá. Nesse sentido, a ideia é que professores ajudem as crianças a entender o que precisam fazer para alcançar essa aprendizagem, e fazer isso não é tão simples.
  7. Praticar é fundamental
    Retomando o fato de que esquecer um conteúdo está relacionado ao fato de o aluno não conseguir acessá-lo em sua memória, Kevin explica a importância de o professor promover diferentes maneiras de crianças e jovens lembrarem do que aprenderam, a chamada “retrieval practice” (em tradução livre, prática de recuperar/relembrar). Trata-se de um ato de modificação da memória, acessando-a de múltiplas formas, o que ajuda a fortalecer o conteúdo em questão. Em uma aula, por exemplo, um professor pode pedir para que alunos escrevam o que mais acharam mais importante na leitura de lição de casa. Em seguida, podem discutir com o colega do lado e comparar suas respostas e, no momento final, abrir o debate com a sala inteira. Nesse exercício, foram usadas três maneiras diferentes para acessar a memória.
  8. Espaçar a aprendizagem
    “Spaced Learning” é outra abordagem que pode ser usada para facilitar a criação de aprendizagens duradouras que poderão ser acessadas quando os alunos precisarem. Em tradução livre, o aprendizado espaçado significa ensinar um mesmo conteúdo mais de uma vez ao longo de períodos espaçados, retomando pontos principais para criar uma memória mais forte. Para Kevin, que atua dessa forma, esse é um dos princípios da aprendizagem duradoura.
  9. Aprendizagem ativa para professores
    Os especialistas também reforçaram que não se trata apenas de esclarecer a aprendizagem ativa para os estudantes, mas também entre os próprios educadores. Como se trata de uma metodologia muito diferente, é importante considerar um processo de adaptação, motivação e incentivo aos educadores, que poderão sentir-se inseguros diante da mudança. “Não se trata de infantilizar os professores, mas a questão é que todos aprendemos de formas semelhantes em termos de criar memórias e acessá-las. O que vai motivar os professores quando falharem na aprendizagem ativa, por exemplo?”, questiona Kevin.

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aprendizagem ativa, aprendizagem baseada em projetos, avaliação, ciências, socioemocionais

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