O Futuro se Equilibra #007 - Sem teto para a lição de casa - PORVIR
Jéssica Figueiró / Porvir

Podcast O Futuro se Equilibra

O Futuro se Equilibra #007 – Sem teto para a lição de casa

Ouça agora o episódio sobre moradia e aprendizagem de O Futuro se Equilibra, o podcast do Porvir sobre equidade na educação.

por Redação ilustração relógio 2 de fevereiro de 2022

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Podcast O Futuro se Equilibra

Ter um lar, um lugar para estudar, uma mesa, por exemplo, são fatores extremamente importantes na vida escolar de qualquer criança, adolescente ou jovem.

Neste episódio de O Futuro se Equilibra olhamos para os impactos da moradia na aprendizagem das pessoas e como isso está relacionado com a equidade.

Vamos ouvir a história da professora Elaine Bogo, que recebeu um pedido inusitado de seu aluno durante uma aula remota. Participam deste episódio a arquiteta, urbanista e educadora Beatriz Goulart e o engenheiro Luiz Kohara, que trazem sua experiência sobre as relações entre aprendizagem e moradia.

Leia a pesquisa do Luiz Kohara

Ouça mais episódios aqui

Apresentação: Tatiana Klix
Produção: Gabriela Cunha e Larissa Werneck
Edição e captação de som: Gabriel Reis
Roteiro: Ruam Oliveira e Tatiana Klix
Concepção: Ruam Oliveira, Tatiana Klix e Vinícius de Oliveira
Apoio estratégico: Vinícius de Oliveira e José Jacinto Amaral
Música: Unicorn Heads, Asher Fulero, Babylon, Dan Henig, Septahelix e Airtone.

 

Jéssica Figueiró / Porvir
identidade visual de o futuro se equilibra - o podcastJéssica Figueiró / Porvir

 

[início]

[música de fundo]
[Tatiana Klix]

2020 veio e passou. 2021 veio e passou.

Chegamos a 2022. As casas, ou os espaços onde habitamos têm hoje significados totalmente alterado. Sim, estou falando da pandemia e de toda a reestruturação que aconteceu em nossas rotinas.

Deixamos os nossos escritórios. Quem pôde deixou até mesmo de sair para evitar o contágio do Covid. E nossas casas se tornaram nossos locais de trabalho, de descanso, de lazer e, também, de estudo.

O futuro se equilibra de hoje olha para a moradia, aspecto tão significativo quando pensamos em dignidade, direitos humanos e equidade. Dentro e fora da educação.

Eu sou Tatiana Klix, diretora do Porvir, e te convido a vir comigo pensar sobre os impactos da habitação – ou a falta de habitação – na aprendizagem.

[música de fundo]

[filtro de voz]
[Tatiana Klix]

“Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.”

[fim do filtro de voz]

[música de fundo]

[Tatiana Klix]

A Clarice Lispector escreveu isso enquanto refletia sobre pertencimento. O título desse texto se chama “Pertencer”.

O berço onde dormimos já nos diz um pouco sobre quem somos. O chão onde nós pisamos e o teto sobre nossas cabeças também.

A mesa onde estudamos, quando há, também molda a maneira como nos relacionamos com a aprendizagem.

Você que já é ouvinte deste podcast sabe que nós sempre iniciamos as discussões trazendo uma história real. Desta vez vamos contar uma situação que ocorreu com a professora Elaine Bogo, que recebeu um pedido inusitado de um de seus alunos durante uma aula remota.

Quem interpreta é a Sarito Rodrigues.

[início da história]

[música de fundo]

Em maio de 2021, com a pandemia causada pelo coronavírus ainda no auge, a gente dentro de casa, dando aulas via chamada de vídeo, eu abri a minha conta no Twitter e escrevi:

“Meu aluno pediu pra sair da aula pq a casa não tinha telhado e o tempo estava fechando. Precisava ajudar a mãe a colocar a lona no telhado”.

[música de fundo mais alta e depois some]

Foi um movimento de espanto que me fez escrever isso. Eu aqui na minha casa, nesse estado que faz um frio danado que é o Paraná, percebi que conhecia pouco sobre alguns dos meus alunos.

Eu sou professora há 36 anos. Dou aulas desde os meus 16 anos, quando comecei o magistério. Há 6 anos eu trabalho na rede pública estadual de ensino e aqui na escola nós temos todo tipo de situação financeira e contexto social: desde aqueles que têm alguma condição até aos que passam muita necessidade.

Eu escrevi esse tuíte, não tinha intenção de que ele se tornasse viral. Era para externar um desconforto. Aqui existem muitos estudantes em situações muito difíceis de vida, com casos de gravidez precoce, em insegurança alimentar etc. Mas foi o pedido dele que me impactou demais.

Esse meu aluno, que aqui vou chamá-lo de Pedro, veio do centro oeste brasileiro junto com sua família. Uma família muito unida, muito ligada. E que se preocupa com a vida escolar do garoto.

Ele mora numa região mais afastada da escola, numa área rural. São 8km que ele precisa percorrer por uma estrada de terra para estudar.

O Pedro tem mais outros três irmãos. Dois adultos e uma mais nova que ele, que está com 9 anos. Pedro tem 12.

[música de fundo]

Eu não o conheci quando estávamos em aulas presenciais, e no período de aulas remotas ele não abria muito a câmera. Apesar de ser um pedido formal para que todos estivessem com as câmeras ligadas, eu não podia exigir. Eu sabia que as condições de internet não eram sempre as melhores para todo mundo.

O Pedro mesmo assistia às aulas sentado num banco de pedra, perto de algumas árvores porque a internet que usava era a da avó. Ou seja, ele não estava dentro de casa no horário da aula. Era muito comum ele pedir licença para usar o banheiro, já avisando que iria demorar um pouco porque o lugar ficava longe de onde ele estava. Ele, muito educado, sempre pedia licença.

Mas nesse dia a licença foi diferente. Ele me disse que precisava sair e que não iria voltar. E aí foi a história do tweet: a casa dele não tinha telhado e ia chover.

De início eu pensei que fosse uma telha quebrada ou algum dos cômodos da casa que estava sem telha. Fiquei com aquilo na cabeça.

[música de fundo]

À noite, uma coordenadora mandou no grupo de professores um vídeo. Alguém tinha ido até lá para filmar a casa. E não era um cômodo sem telhado, era a casa inteira. A casa inteira de um único cômodo.

Eu fui até lá para ver a situação pessoalmente. Tive dificuldade de início para encontrar a casa, mas me deparei com um cenário onde havia falta de energia elétrica, fogão, chuveiro… tantas coisas.

E encontrei uma família unida. Feliz. Que me disse repetidas vezes “Olha, o Pedro gosta muito de estudar, ele vê aula de qualquer jeito!”. E via mesmo. Em dias de chuva, sentado no banco de pedra, ele usava uma capa de plástico para se proteger.

Como se aprende desse jeito?

Ele é um bom aluno. Desde que chegou é alguém preocupado em ajudar os outros e na hora de montar grupos, por exemplo, é dos que têm mais dificuldade que ele se aproxima.

[música de fundo]

O tweet que eu fiz só crescia em audiência. Mais de 100 mil curtidas, mais de dez mil retweets, muitas respostas. Eu até conversei com meu marido sobre ter me arrependido da publicação. Não queria expor a família. Mas estávamos recebendo uma atenção que podia ser revertida positivamente para melhorar as condições de vida do Pedro.

Foi assustador. Eu comecei a receber transferências vindas de vários lugares do Brasil e de fora do país também. Dubai, Nova York, Londres…

Com essa ajuda podíamos impedir que o Pedro me pedisse licença mais uma vez para cobrir a casa com a lona.

Alugamos uma casa para a família ficar enquanto fazíamos os consertos na casa deles. Além de recebermos ajuda com alimentação, nós também conseguimos ajuda de outras pessoas da cidade que doaram computador, resolveram o problema de energia elétrica, um outro arranjou a internet.

Agora estamos nos ajustes finais para que eles possam voltar para casa. Ela tinha problemas estruturais, e a maior parte do dinheiro arrecadado depois do meu tweet foi para consertar a estrutura da casa. Então decidi abrir uma vaquinha para conseguir o restante que precisava e finalizar a reforma. Batemos a meta em 24 horas.

[música de fundo]

O Pedro é um menino esforçado. Passou de primeira no sétimo ano, sem precisar de recuperação. Inclusive, quando recebeu a notícia logo me mandou um whatsapp com a foto dizendo que tinha passado.

Eu não conhecia a realidade do Pedro, que ia muito além do que eu sequer podia imaginar. Mas eu sei que o lugar onde vivemos faz uma diferença muito grande em como aprendemos. E ainda bem que aquele meu tweet viralizou e que a gente conseguiu alterar um pouco a realidade dessa criança.

Os desafios seguem muitos, todos os dias. Muitas crianças e jovens à minha volta precisam de diferentes tipos de ajuda. Mas, que bom que mais nenhuma delas vai precisar sair da aula porque o telhado não existe.

[música de fundo]

[Tatiana Klix]

A meta número 11 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável quer garantir que até 2030 exista acesso de todas e todos à habitação segura, adequada e a preço acessível. Além disso, prevê urbanizar favelas e facilitar acesso a serviços básicos.

Mas a realidade atual é difícil. O IBGE aponta que 85% da população brasileira vive em centros urbanos, o que não significa, necessariamente, que viva em condições ideais.

O Ranking de Saneamento divulgado pelo Instituto Trata Brasil revelou que seriam necessários aproximadamente R$ 357 bilhões de reais ao longo de 15 anos para que todos os brasileiros tenham acesso a serviços de água e esgoto. Isso levando em consideração os custos médios atuais.

No episódio sobre pobreza menstrual – que você pode ouvir no feed desse podcast – nós falamos sobre as relações entre pobreza menstrual e condições de saneamento e infraestrutura.

No caso do ambiente, a situação pode ser semelhante. Ter um lar, no sentido mais amplo possível – ou seja: com condições básicas de saúde e higiene, alimentação, local para estudo – é extremamente importante.

E isso começa desde a primeira infância.

[Beatriz Goulart]

Esse primeiro ano é fundamental para o nosso equilíbrio, para a nossa saúde emocional e física também.

[Tatiana Klix]

Essa é a Beatriz Goulart, arquiteta, urbanista e educadora.

[Beatriz Goulart]

Então, obviamente que essa saúde vai nos deixar aptos ou não para para observar, para captar as linguagens mais diversas que a escola começa a organizar para nossa vida.

E aí a gente começa a perceber que quem tem um lar e não só uma casa, quem tem uma morada, uma habitação, com as condições mínimas de direito, que seja alimentação, conforto ambiental, ou seja, um telhado, um chão, uma coberta, alimento na geladeira e no fogão, afeto… Ou seja, essa casa ela não é só a infraestrutura física, mas ela vem recheada de outras coisas.

[música de fundo]

[Beatriz Goulart]

E muitas vezes não há uma preocupação, até por desconhecimento dos responsáveis, em oferecer essa infraestrutura mínima de ergonomia para fazer um dever de casa para você ter uma estante organizada. Então nós fizemos alguns projetos de estante de mesa, de quadros, de avisos. Ou seja, nem a nossa casa parece esse habitada, mas era apenas um lugar onde dormia, mas que ninguém, crianças, os filhos não estão ligando muito como é que a cuidar da roupa, nem o lixo… Essa consciência do lar, também ficou claro que ela desconectava o processo de aprendizagem sobre onde eu estou, quem sou eu, assim como desconhecimento do próprio corpo.

[Tatiana Klix]

[música de fundo]

De acordo com uma pesquisa feita pela McKinsey, cerca de 330 milhões de famílias estão financeiramente ameaçadas pelos custos de habitação, com uma projeção de que esse número chegue a 440 milhões em 2025.

As consequências de uma moradia que não é adequada e que é precária são muitas e influenciam negativamente a vida das pessoas. No caso do Pedro, personagem de nossa história de hoje, apesar das dificuldades, ele continuou persistindo nos estudos. Mas a um custo alto demais. Precário demais.

O espanto que a professora Elaine teve, também deve ser o nosso.

Mas por mais bem intencionada e bem sucedida que tenha sido a atitude da professora, não cabe aos docentes se responsabilizar pelas casas de seus alunos. Esse problema requer ações articuladas.

[Beatriz Goulart]

Isso vai depender de políticas públicas intersetoriais, porque não pode ser só uma vontade de um gestor de uma professora, mas o trabalho numa turma, na primeira B, naquela escolinha…

É fundamental que isso esteja desenhado na articulação do plano diretor do plano de saúde, do Plano de assistência do Plano de de Desenvolvimento Urbano, no plano de educação, de cultura, para que as políticas públicas dêem suporte a essas ações articuladas para que elas tenham sentido e apoio.

[música de fundo]

[Tatiana Klix]

Nós conversamos também com o Luiz Kohara, engenheiro civil e doutor em arquitetura e urbanismo, que escreveu a tese “Relação entre as condições da moradia e o desempenho escolar: estudo com crianças residentes em cortiços”. Apesar de ter sido escrita em 2009, pouca coisa mudou em relação aos impactos que um ambiente tem no desempenho escolar de uma pessoa.

Luiz Kohara desenvolveu um estudo com crianças da quarta série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, que fica no bairro do Glicério, em São Paulo. As crianças participantes do estudo viviam em cortiços.

Na segunda parte do episódio, vamos ouvir algumas das reflexões que o Luiz nos trouxe sobre a pesquisa que fez. Muitas das experiências que ele vivenciou são recorrentes em cenários diversos, e ilustram bem a importância de entender que o ambiente onde se vive tem total relação com a aprendizagem.

[Luiz Kohara]

[música de fundo]

Eu participei, fiquei assistindo muitas aulas crianças, dormindo durante durante a aula e muitas vezes levando bronca da professora porque dormia na sala de aula. Outra questão que pude perceber que as crianças não têm um lugar adequado para guardar os materiais

Eu vi uma professora dizendo assim: não adianta o Estado da material para essas crianças que elas não sabe cuidar os pais dela, não sabem cuidar dos materiais. Aí fui ver o lugar que elas guardavam o material como não tem espaço para guardar muitas vezes era só um prego onde pendurava a mochila ou guardava o material onde também guardava comida. Então quando chegava na escola muitas vezes o material estava manchado com o olho e a criança ainda era reprimida pelos professores por que não cuidar adequadamente dos materiais. E os materiais chegavam sujos então além de tudo dela não ter condições ela chegava na escola sofriam repressão.

[Tatiana Klix]

[música de fundo]

Aqui, o Luiz relembra como as condições de habitação que encontrou tinham um impacto determinante na maneira como as crianças olhavam para o próprio futuro.

[Luiz Kohara]

Uma primeira questão foi assim observar que as crianças que moram nessas moradias ela não tem um descanso adequado porque em geral o espaço para dormir é menor do que o número de pessoas.

[Luiz Kohara]

Eu percebia mesmo dialogando muito com as crianças que o fato de morar numa moradia em condições precárias isso gerava discriminação, mas ela também sentia com a autoestima rebaixada, como se ela fosse menos cidadã. Isso faz fazia com que ela não acreditasse no futuro dela então essas condições de moradia elas atingem o aprendizado das crianças de várias formas. Olha eu vejo que os aprendizados das crianças ela ocorre na escola e também depois em todas as outras vivências que a criança tem vivências positiva ou negativa Então a moradia, o lugar social que ela está, também interfere de uma forma positiva ou negativa no aprendizado das crianças

[Tatiana Klix]
Luiz ressalta que é muito importante que a escola e o corpo docente observem as condições de moradia dos estudantes.

[Luiz Kohara]

[música de fundo]

Então é fundamental que a educação os professores e a escola levem em conta também a realidade específica das crianças. Por exemplo conhecer um pouco mais, eu lembro só para ilustrar um pouco aquilo que você traz uma professora contando como às vezes eles estão distantes da realidade específica de cada grupo de crianças. Um dia, umas crianças pequenas estavam correndo na mesa de tomar lanche e a professora me disse: eu tomei todos os cuidados pedagógicos de não reprimir a criança de imediato dizendo “menino desse dessa mesa que falta de educação!” ela falou.

Chamei a criança para dialogar para que ela fizesse um processo dela a compreensão, ela disse que perguntou para o menino: na sua casa você come onde você pisa? Ela percebeu que a criança ficou no um olhar estranho, não entendeu o que é que a professora estava perguntando, aí a criança depois de um certo tempo  acho que de não entender o que ela estava querendo dizer você pisa Onde você come a criança respondeu:  Em casa como no chão e piso no chão professora.

Assim, queremos dizer que coisa mais estranha que ela está fazendo uma pergunta só estou dizendo porque na hora de você criar uma pedagogia uma metodologia não basta a boa intenção e uma boa reflexão de forma genérica da pobreza e das condições que essas crianças vivem. É preciso conhecer a realidade concreta dessas crianças porque é que ela não faz lição, porque ela chegou mais agitada, porque ela dormiu na sala de aula, porque ela veio cheirando mal… tem vários aspectos

[música de fundo]

[Tatiana Klix] 

O Futuro se Equilibra é o podcast do Porvir sobre equidade na educação e conta com o apoio do Instituto Unibanco.

Você pode conferir a transcrição deste episódio no Porvir.

Eu sou Tatiana Klix, diretora do Porvir e roteirizei esse episódio junto com o Ruam Oliveira. Quem produziu foi a Larissa Werneck e a Gabriela Cunha e quem editou foi o Gabriel Reis, eles são a Podmix.

Agradeço à professora Elaine Bogo pelo esforço em melhorar as condições do Pedro e por aceitar dividir conosco sua história. Obrigada também à Sarito Rodrigues pela interpretação.

Não deixe de compartilhar esse podcast com outras pessoas, isso nos ajuda a crescer.

Agradeço pela escuta e até a próxima!

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Créditos de Músicas:
bluenotes by airtone (c) copyright 2021 Licensed under a Creative Commons Attribution (3.0) license. http://dig.ccmixter.org/files/airtone/64427
renewal by airtone (c) copyright 2022 Licensed under a Creative Commons Attribution Noncommercial  (3.0) license. http://dig.ccmixter.org/files/airtone/64601
precarity by airtone (c) copyright 2021 Licensed under a Creative Commons Attribution Noncommercial  (3.0) license. http://dig.ccmixter.org/files/airtone/64030
Cubism Fever Twang by septahelix (c) copyright 2021 Licensed under a Creative Commons Attribution Noncommercial  (3.0) license. http://dig.ccmixter.org/files/septahelix/64364 Ft: spinmeister, mactonite, andrewwainwright, Vidian
mixedSignals by airtone (c) copyright 2021 Licensed under a Creative Commons Attribution Noncommercial  (3.0) license. http://dig.ccmixter.org/files/airtone/63752
reNovation by airtone (c) copyright 2019 Licensed under a Creative Commons Attribution (3.0) license. http://dig.ccmixter.org/files/airtone/60674

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