Curiosidade é palavra-chave para unir programação e matemática
Com a lógica como base comum, a programação caminha lado a lado com a matemática. Cabe aos professores fortalecer cada vez mais a interdisciplinaridade, dizem especialistas
por Ana Luísa D'Maschio 18 de março de 2022
O professor Pedro Henrique da Silva, de Mariana (MG), bem sabe como matemática e programação são interligadas. Ainda mais em seu planejamento escolar: para as aulas de tecnologia (do 6º ao 9º ano) e de matemática (do 7º ao 9º), com frequência relaciona as duas disciplinas, baseado no que aponta a BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
A competência 5 do documento descreve o quanto o aluno deve utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, reflexiva e ética para produzir conhecimentos e resolver problemas. “Sem matemática, não seria possível programar”, pontua o educador. “As temáticas da matemática, como geometria, álgebra e estatística sempre se relacionam com a programação. Para fazer um algoritmo de divisão, por exemplo, passamos por uma série de processos até chegar à resposta. Na programação, usamos a mesma ideia de organização lógica”, diz o professor do Colégio Flecha.
De acordo com a publicação “Conceitos e conteúdos de inovação e tecnologia na BNCC”, lançada pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), três competências específicas e 21 habilidades de matemática fazem menção à tecnologia. “É o componente curricular com mais menções explícitas à tecnologia nas suas habilidades”, afirma o consultor pedagógico da APDZ Educação e Tecnologia, Daniel Oliveira.
Mas não é preciso ser um expert em matemática para ser um bom programador: no dia a dia da programação, são usados diversos conceitos matemáticos, alguns até sem serem notados, reforça Daniel. “Programação e matemática possuem a lógica como base comum. Para programar, é preciso conhecer conceitos básicos da matemática e utilizar bastante o raciocínio lógico. Programamos para solucionar problemas.”
Diante de um cenário de defasagens e dificuldades históricas em relação à matemática, há uma série de desafios para o planejamento de uma aula interdisciplinar. Segundo Daniel, a grande dificuldade encontrada pelos professores é desmistificar que a matemática é “difícil”, “de outro mundo” ou que “não serve para o cotidiano”. “Por muito tempo, a matemática foi ensinada de teórica e abstrata, sem conexão com o mundo real. Uma das maiores dificuldades encontradas no planejamento e execução de uma aula é mostrar que a matemática pode, sim, ser muito útil para a vida. Assim, o alicerce do planejamento deve ser pautado em objetivos bem definidos, claros, com situações práticas que possam exemplificar a aplicabilidade da matemática na vida do estudante”, explica Daniel.
Ciência viva
Organizadora do livro “(Des)Pluga: o Pensamento Computacional atrelado a atividades investigativas e a uma Metodologia Inovadora” (gratuito e disponível para download neste link), Aline Bona afirma que o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano decorre da sua curiosidade e, por isso, cabe ao professor proporcionar aulas que mobilizem o processo de aprender do estudante.
“O planejamento precisa ter um olhar anterior para quem vou propor as situações de ensino e aprendizagem. A matemática é uma ciência viva, rica de desafios e diversão como sempre digo. Buscar padrões, lógicas e modelos para as situações e problemas da vida pessoal, das aplicações em outras áreas e nas tecnologias é um processo rico de pesquisa.”
Para Aline, também professora de matemática do IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul), são muitas as metodologias e possibilidades estudadas pelas pesquisas em educação matemática e em informática na educação matemática. “Cabe ao professor construir um planejamento com alicerce que promova no estudante a pesquisa, a autonomia e a responsabilidade sobre seu processo de aprender a aprender por meio da proposta desencadeadora planejada”, incentiva.
Como a matemática e a programação andam juntas, complementa Daniel Oliveira, os educadores precisam deixar essa parceria explícita aos alunos e selecionar os objetivos observando as características da tecnologia escolhida. “Os links criados entre tecnologia e qualquer outra matéria devem ficar claros e evidentes para os estudantes, e serem feitos de forma completa. Utilizar experiências práticas envolvendo tecnologia como base para começar ou aprofundar um conteúdo é uma boa forma de atuar de forma interdisciplinar”, sugere o coordenador pedagógico.
Presença uniforme
Matemático e educador, Seymour Papert (1928-2016) foi um teórico pioneiro sobre o uso de computadores na educação, criando a linguagem de programação LOGO, inicialmente para crianças, no final dos anos 1960. “Ele costumava dizer que as crianças ensinaram as máquinas burras, pois elas, sim, são criativas”, relembra Aline.
Programação e matemática e se interligam, e Aline Bona destaca a importância da complementaridade. “Não julgo interessante e nem agregador delinear a ‘melhor’ ou a que vem primeiro. A matemática e todas as demais áreas do conhecimento podem construir programação, com particularidades e raciocínios delineados pelos estudantes”, conclui.
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