Alunos de engenharia criam fábrica para produzir doações - PORVIR
Crédito: Ana Felicia Knevitz dos Santos

Diário de Inovações

Alunos de engenharia criam fábrica para produzir doações

Projeto desenvolvido em universidade no Rio Grande do Sul faz futuros engenheiros colocarem a mão na massa com responsabilidade ambiental e social

por Ariel Peixoto Possebon / Felipe Menezes ilustração relógio 22 de junho de 2016

Eu sou professor e coordenador do curso de engenharia de produção e acredito que meus alunos, que serão engenheiros no futuro, têm que deixar de ter uma visão linear e adquirir uma abordagem mais sistêmica. Tudo o que um ser humano faz hoje tem reflexo no todo. Por isso, eu e meu colega Ariel Peixoto, que também é professor do curso, decidimos inserir elementos sociais e ambientais em uma disciplina que tem como meta principal uma questão técnica. A disciplina chama-se projeto de fábrica e tem como objetivo ensinar os alunos a projetar uma fábrica, consolidando todos os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Até há três anos atrás, a disciplina acontecia de forma teórica. Em 2014, nós decidimos mudar.

Aqui na Universidade Feevale (Novo Hamburgo – RS), temos o incentivo para trabalhar com metodologias ativas de ensino, o que nos levou a pensar na disciplina totalmente prática, de modo que o aluno gerencie o próprio aprendizado, além de entender o que vem antes da produção em uma empresa. No início do semestre, todos recebem uma apostila com todo o conteúdo do semestre, então a gente não precisa ministrar aquela aula expositiva, porque o conteúdo teórico já está lá. O que a gente faz é a condução do trabalho, ficamos instigando os alunos a todo momento a tomarem iniciativas, a buscarem informações, a desenvolverem uma parte do projeto de uma forma diferente e a pensarem fora da caixa.

engenharia 01Crédito: Ana Felicia Knevitz dos Santos

A indústria moveleira da região gera bastante resíduo de madeira e, baseado nisso, nós criamos a proposta do projeto interdisciplinar Produzindo Felicidade, que envolve os cursos de Engenharia de Produção e Tecnólogo em Gestão da Produção Industrial. A fábrica criada pelos alunos, deve produzir produtos a partir desses materiais, que devem ser doados para alguma instituição. No primeiro semestre do projeto, por exemplo, produzimos brinquedos para crianças de uma escola pública aqui perto. Já na terceira edição, os brinquedos foram para a Associação AMO Criança (Associação de Assistência em Oncopediatria). Dessa forma, na entrada da matéria prima, existe um viés de responsabilidade ambiental no projeto, e na saída do produto, um viés de responsabilidade social.

Na edição que está acontecendo agora, que é a quinta e está quase no fim, a gente saiu um pouquinho da produção dos brinquedos e vai entregar produtos pra LEME (Associação dos Lesados Medulares do Rio Grande do Sul). Os produtos são mecanismos que facilitam a vida dos cadeirantes. Tem gancho para pegar cabide do guarda roupa, disco para fazer o giro e facilitar a troca da cadeira pra cama e vice-versa, tem mesa pra desenho.

É importante que o aluno seja autônomo, consiga gerenciar suas atividades e entenda o reflexo que suas ações têm

As aulas acontecem em uma oficina dentro da universidade, com máquinas específicas pra trabalhar com madeira. Os alunos pensam o produto, projetam, fazem o protótipo e testam. Nessa parte de idealização, os alunos devem entender quem é o cliente. Para isso, vão até a instituição que será beneficiada para fazer uma pesquisa de campo, entender o que o cliente quer, pra que e como ele vai usar o produto.

Depois, o projeto da fábrica em si envolve, entre outros aspectos, pensar quais são as etapas do processo de fabricação, os respectivos tempos de produção, os custos da matéria prima – como se fosse comercializar, qual seria o preço de venda daquele produto, a capacidade de produção, como organizaria a empresa, quantas máquinas precisaria, quais seriam os critérios de qualidade do processo e de segurança, entre outros.

engenharia 03Crédito: Ana Felicia Knevitz dos Santos

Na primeira edição que a gente fez, foi um susto. É um trabalho grande, os alunos sabiam que iam ter atividades fora do horário de aulas. Mas no final foi gratificante. Na entrega dos brinquedos, tinha aluno chorando. Ali compensou tudo. E isso foi passado para os outros semestres. Então, hoje, dois anos e meio depois de ter começado, os alunos já têm uma expectativa para fazer o projeto da fábrica, criar um produto e doar.

Cerca de 120 estudantes já participaram da disciplina. A grande importância é que eles enxerguem significado e sentido naquilo que estão fazendo. No primeiro semestre, só foi possível entender tudo no final do projeto. É diferente quando eles começam a disciplina já sabendo, isso aumenta o engajamento na sala de aula. Além disso, é importante que o aluno seja autônomo, consiga gerenciar suas atividades e entenda o reflexo que suas ações têm.


Ariel Peixoto Possebon

Possui Graduação em Administração de Pequenas e Médias Empresas pela Universidade Norte do Paraná e Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Atualmente é professor dos Cursos de Engenharia de Produção e Gestão da Produção Industrial na Universidade FEEVALE. Tem experiência na área de Engenharia de Produção com atuação em Gestão de Operações. Especialista em Planejamento, Programação e Controle da Produção e dos Materiais (PPCPM).

Felipe Menezes

Felipe Menezes possui graduação e mestrado em Engenharia de Produção pela Unisinos. É professor desde 2007 , coordenador do curso de Engenharia de Produção na Universidade Feevale desde 2012 e Mentor do Feevale Techpark. Também é co-fundador da Startup Tresderiza e sócio consultor da Opperatio Consultoria, desde 2003, com experiência em mais de 100 empresas.  

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, autonomia, competências para o século 21, educação mão na massa, engenharia, ensino superior

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