Alunos decidem juntos como serão avaliados em disciplina do curso de letras
Professora conta como adotou novas metodologias no ensino superior e envolveu a turma na decisão do processo avaliativo
por Allana Camyle de Melo Lima 22 de maio de 2019
As aulas meramente expositivas e teóricas sempre me incomodaram na universidade. O sistema avaliativo baseado em provas também não fica atrás. Na disciplina “Aprender a Aprender Língua Estrangeira”, ministrada no primeiro semestre do curso de letras/inglês da Universidade Federal do Pará, resolvi jogar tudo isso para o alto!
Mas como cheguei a esta decisão? Como educadora, sempre vivenciei experiências inovadoras, mas observei que estas eram pontuais, aconteciam em pequenos períodos. Além disso, durante minha prática como professora na universidade em questão, notei que os alunos do turno da noite, período em que lecionei a disciplina, estão em sua grande maioria cansados, desmotivados e possuem poucas ou nenhuma expectativa acerca de sua formação e futura prática profissional. Sendo assim, resolvi romper com todos os paradigmas.
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Como inovar em sala de aula? Como avaliar sem provas? Cheguei à conclusão de que seria impossível modificar minha prática em sala de aula e manter um sistema avaliativo tradicional. O contrário também seria bem demagógico. Ou seja, eu ia acabar modificando apenas alguns aspectos e mantendo outros, meramente tradicionais. Além disso, a avaliação é sempre um desafio, principalmente quando vivenciamos experiências inovadoras, pois sabemos que não há fórmulas.
Resolvi, então, colocar os alunos no centro do processo e deixar que eles decidissem isto. No primeiro dia de aula, reservei um momento especial para conhecê-los e para que pudéssemos refletir juntos sobre como eles gostariam de ser avaliados nesta disciplina.
Alguns alunos não sabiam exatamente como definir isto, pois segundo eles, nunca tiveram esta oportunidade na vida acadêmica. Tentei mediar o processo discutindo sobre algumas possibilidades, tais como: criação de materiais digitais, encenações teatrais, apresentações de seminários, provas escritas, portfólios físicos e/ou virtuais, resenhas, resumos, entre outros. Os alunos também tiveram a oportunidade de sugerir alguns destes instrumentos avaliativos!
Discutimos juntos sobre cada um destes instrumentos avaliativos e suas possibilidades. No final, escolheram ser avaliados pela produção de portfólios e pela apresentação de seminários sobre assuntos de seu interesse em inglês. Em nosso segundo encontro, apresentei aos alunos alguns critérios avaliativos que poderiam constar em suas produções e permiti que estes escolhessem alguns destes critérios e/ou sugerissem outros, além de negociar com eles os prazos de entrega e/ou apresentação de cada instrumento avaliativo.
No decorrer do semestre apliquei a metodologia da sala de aula invertida, buscando proporcionar o processo de descoberta e reflexão dos alunos. Senti a necessidade de manter um diálogo entre as tarefas e dinâmicas em sala de aula com o processo avaliativo adotado. Ainda que o objetivo deste meu relato não seja descrever as atividades e/ou recursos usados no decorrer do semestre, achei importante mencionar a existência destes.
Quanto aos resultados obtidos? Comprometimento dos alunos. O fato de terem escolhidos como e quando gostariam de ser avaliados os engajou bastante durante as atividades. Eles relataram que ficaram mais motivados e sentiram-se mais responsáveis por participarem deste processo.
Além de seus relatos, foi possível observar o empenho em suas produções. As apresentações de seminários nos surpreenderam com tanta criatividade e autenticidade. Cada aluno trouxe para a sala de aula um assunto do seu interesse em inglês e isto nos fez aprender mais uns sobre os outros. Nos portfólios físicos e/ou virtuais, dedicação não faltou. Os alunos os fizeram em diversos formatos com muita criatividade, reflexão sobre seu processo de aprendizagem e inglês.
Allana Camyle de Melo Lima
Possui graduação em letras com habilitação em língua inglesa (UFPA) e certificação internacional de proficiência em inglês(TOEFL). Especialista na área de ensino da língua inglesa e suas literaturas pela Universidade Integrada Brasil Amazônia. Professora substituta na Universidade Federal do Pará, discente do programa de pós-graduação em Criatividade e Inovação Metodológica (PPGCIMES-UFPA) . Possui dez anos de experiência na área de ensino e aprendizagem contemporânea do inglês, com ênfase em práticas de ensino mediadas pelas tecnologias digitais como instrumento de motivação, autonomia e prática autêntica do idioma. Anteriormente, trabalhou como professora no programa Idiomas sem Fronteiras ( IsF)/ NucLi- UFPA/ CAPES) e além disso, prestou serviços de tutoria on-line para o MEC em apoio ao programa. Também, atuou como professora em cursos livres de idiomas.