Alunos escrevem cartas de desabafo durante projeto sobre depressão e automutilação
Em Araguaína (TO), professora de português conta como desenvolveu projeto para trabalhar saúde mental com estudantes do ensino fundamental
por Ionara Miranda 8 de janeiro de 2020
Sou professora de português e desenvolvo trabalhos com foco em estimular o cognitivo e o socioemocional dos alunos. Criei o Projeto Borboletas Amarelas para trabalhar com turmas do sexto ao nono ano do Colégio Estadual Henrique Cirqueira Amorim, em Araguaína (TO), os temas: automutilação, depressão na adolescência, síndrome do pânico, transtorno bipolar, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) comportamento agressivo, indisciplina escolar, entre outros.
No projeto, trabalhei a relação intrapessoal para que os alunos pudessem aprender a reconhecer seus pontos fortes e suas fraquezas. A partir disso, a ideia era que eles procurassem uma forma de superar suas próprias dificuldades e compreendessem a fraqueza do próximo para não construir julgamentos, mas oferecer ajuda.
Durante o desenvolvimento do projeto, os alunos participaram de debates e assistiram a filmes que tratavam do tema. Ainda foram convidados psicólogos para ministrar palestras na escola e falar da importância de procurar ajuda médica para tratar a depressão. Também tivemos apoio da Justiça Restaurativa de Araguaína, que fez uma atividade de círculos com a proposta de restaurar a paz e estimular o aluno a colocar para fora o que lhe angustiava.
Também pedi que eles escrevessem a carta do desabafo como ponto de partida para cada um compartilhar seus problemas. Feito isso, queimamos as cartas para simbolizar que, assim como os papéis, o sofrimento também poderia acabar. Nesse momento, muitos dos objetos cortantes que alguns alunos utilizavam para se automutilar acabaram caindo. Muitos deles já estavam com os braços cicatrizados sem nenhum novo corte.
Com esse projeto, foi perceptível que alunos com o socioemocional bem trabalhado também conseguem desenvolver melhor seu aspecto cognitivo. O projeto teve início no dia 10 de setembro de 2019, conhecido como Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, e estava previsto para terminar no dia 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental. No entanto, ele se tornou um trabalho contínuo por causa da sua relevância e dos seus impactos.
Ionara Miranda
Professora formada em Letras pela UFT (Universidade Federal do Tocantins). Trabalha com educação desde 2014 e tem atuação em projetos voltados para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos alunos.