Bullying, no presencial ou no online, não é coisa de ‘deixar pra lá’
Saiba como tratar do assunto em ambiente escolar e criar espaços de escuta e discussão
por Ruam Oliveira 6 de abril de 2021
Não é que agora, em 2021, o assunto bullying tenha virado moda. Mesmo que não percebido como tal, as brincadeiras e ofensas, quando repetidas diversas vezes podem configurar um quadro de bullying. É comum, principalmente entre os adultos, que a situação seja diminuída por acreditarem ter sobrevivido a situações semelhantes na infância. Mas é preciso ter cuidado com essa afirmação.
O bullying é uma ação sistemática, que acontece com intencionalidade e de maneira deliberada e que não necessariamente possui um motivo aparente, explica Márcia Frederico, psicóloga e consultora pedagógica do LIV – Laboratório Inteligência de Vida.
Podem ser consideradas como bullying agressões físicas ou verbais feitas por uma ou mais pessoas a um único indivíduo. É muito comum que ocorram dentro das salas de aula ou no ambiente escolar de maneira geral. Isso porque é justamente um espaço em que os alunos não têm grande poder de escolha sobre seus pares. É também onde encontram mais pessoas diferentes de si mesmos.
Em 2016, o Brasil instituiu o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, celebrado todos os anos no dia 7 de abril. Baseada no PLC 7/2014, a lei foi vista como resposta a uma série de casos emblemáticos de bullying nas escolas. Um caso conhecido é o massacre de Realengo, no Rio de Janeiro (RJ), em que 12 crianças foram mortas a tiros e a polícia suspeita de que houve indícios de que o autor tenha sofrido bullying na infância.
Nesse sentido, é importante destacar que não se deve colocar em “caixinhas” aqueles que cometem bullying. “O bullying pode ser um pedido de ajuda da pessoa que agrediu, por exemplo, que pode já ter passado pela situação de vítima e usa de suas atitudes como forma de externar seus sentimentos”, aponta o LIV no e-book “Bullying: como lidar com esse desafio” (clique para baixar).
O relatório do PISA 2018 divulgado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) traz um capítulo inteiro dedicado ao tema. De acordo com o documento, pelo menos 29% dos estudantes brasileiros afirmaram ter vivido algum tipo de bullying. Outros 14% informaram que foram deixados de lado de propósito por parte do grupo. O relatório traz dados sobre diferentes perspectivas como agressões físicas, fofocas e rumores negativos e ameaças, por exemplo.
Outra prática que tem surgido e está sob o olhar de pesquisadores e educadores é o cyberbullying, o bullying cometido no ambiente virtual, e que pode ser igualmente perigoso. É preciso estar atento, principalmente neste período em que as telas e as sessões virtuais estão mais presentes no cotidiano dos estudantes.
“Anonimato, possibilidade de esconder a identidade, relativa falta de medo dos perpetradores de serem pegos, falta de supervisão e sentimento das vítimas de que podem ser intimidadas em qualquer lugar, a qualquer momento, estão entre algumas características que diferenciam o cyberbullying do tradicional”, aponta o relatório da OCDE.
E como lidar com isso em sala de aula?
Existem diversas formas de tratar sobre o assunto em ambiente escolar. O principal deles é criar espaços onde seja possível falar – e ouvir – sobre o tema. Ou seja, mostrar que se importa pode fazer diferença.
Tentar evitar rotular ou não sugerir o já conhecido “deixa pra lá” também são elementos importantes no combate ao bullying e à violência nas escolas. Tentar convencer alguém de que algo negativo que lhe foi dito ou feito não tem importância vai ter pouca serventia, pois ela provavelmente já deve ter tentado fazer isso.
O Laboratório Inteligência de Vida preparou um e-book com dicas e mais ideias sobre como lidar com o tema e separou, ao final do documento, questionamentos necessários a serem feitos sobre os relacionamentos no ambiente estudantil.