Como apoiar os alunos a controlar emoções e lidar com conflitos
Quando os alunos passam por turbulências emocionais, é fundamental reconhecê-las e usar estratégias que os ajudem a se acalmar e recuperar o controle
por Ruam Oliveira 12 de março de 2025
Uma das perguntas mais frequentes que recebo como consultor comportamental é: “Quais são as melhores estratégias para acalmar uma situação?”. Existem diversas abordagens possíveis, mas um ponto fundamental é entender o papel do cérebro no comportamento.
Muitas vezes, ao observarmos um comportamento desafiador, buscamos formas de corrigi-lo. No entanto, isso ignora um fator essencial: o cérebro é o grande responsável por essas reações.
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Quando um aluno entra em crise, ele age a partir da amígdala, a região do cérebro que controla as respostas de luta, fuga ou congelamento diante de estímulos externos ou situações que parecem ameaçadoras.
Nesses momentos, normalmente esperamos que o aluno use seu córtex pré-frontal para modificar o comportamento. No entanto, como explica Lori Desautels no livro “Connections over compliance: rewiring our perceptions of discipline” (“Conexões em vez de obediência: reconfigurando nossa percepção da disciplina”, em tradução livre), pesquisas mostram que, durante um estado de desregulação, o córtex pré-frontal simplesmente se desliga. Essa região é responsável pela tomada de decisões, avaliação de consequências e adaptação do comportamento a diferentes contextos. Ou seja, quando o aluno está em crise, ele não consegue pensar logicamente, refletir sobre suas ações ou resolver problemas.
Por isso, ao lidar com alunos emocionalmente instáveis, a prioridade deve ser conectar-se com suas emoções, reconhecendo a resposta da amígdala e criando um ambiente seguro que facilite a regulação emocional.
Previsibilidade e calma
Reduzir a tensão não se trata apenas de acalmar o aluno, mas também de manter o próprio equilíbrio emocional. Um adulto descontrolado não pode ajudar uma criança desregulada. Para isso, a previsibilidade é essencial.
Ser previsível significa agir com coerência, mantendo consistência nas emoções e reações diante do comportamento do aluno. Quando ele sabe o que esperar do educador nos momentos mais difíceis, passa a enxergá-lo como uma presença segura e confiável.
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Ambientes previsíveis geram calma, e a calma favorece a regulação emocional. Para lidar com comportamentos desafiadores, podemos seguir uma sequência estruturada chamada “Estratégia CALM” (Conectar, Afirmar, Ouvir, Meu Plano).
Vale ressaltar que a palavra “calm” em inglês significa “calma”, o que reflete a intenção da estratégia: criar um ambiente tranquilo e controlado para ajudar os alunos a se acalmarem e lidarem melhor com suas emoções. Embora o acrônimo original tenha sido adaptado para o português, a letra “L” foi traduzida como “Ouvir” (em inglês, “Listen”), mantendo o foco na criação de um ambiente de escuta ativa e empatia, fundamental para o processo de regulação emocional.
C – Conexão com o aluno
Diante de um comportamento desafiador, antes de impor limites ou redirecionar, é essencial lembrar que a reação do aluno é um reflexo da ativação da amígdala. Portanto, estabelecer uma conexão emocional é o primeiro passo para sinalizar ao cérebro que ele pode começar a se acalmar.
Faça perguntas a si mesmo:
– Qual é minha relação com esse aluno?
– Ele me vê como alguém seguro para ajudá-lo a se acalmar?
– Como posso demonstrar minha intenção de ajudá-lo?
Antes de corrigir o comportamento, fortaleça o vínculo. Fale sobre algo que o aluno gosta, reconheça qualquer comportamento positivo que ele tenha demonstrado, utilize um tom de voz empático e deixe claro que seu objetivo é ajudá-lo a recuperar o controle.
A – Afirmação dos sentimentos
Comportamentos desafiadores muitas vezes são pedidos de ajuda. Para alguns alunos, podem ser a única forma conhecida de expressar emoções avassaladoras.
Ao validar seus sentimentos, demonstramos que estamos ouvindo e que suas emoções são legítimas. Frases como “Eu sei que você está chateado, eu também ficaria” ou “Parece uma situação muito difícil, eu entendo” ajudam o aluno a perceber que ele não está sozinho.
L – Listen (Audição)
Essa pode ser a parte mais difícil para muitos adultos. Quanto mais intenso for o comportamento do aluno, mais serena deve ser a resposta do educador.
Ouvir de forma genuína é essencial para compreender o que o aluno está sentindo. Pergunte se ele quer falar sobre a situação ou se prefere um momento de silêncio. Demonstre escuta ativa com frases como:
– “Me conte mais sobre isso”
– “Como você se sentiu naquele momento?”
– “Foi frustrante para você?”
M – Meu plano
À medida que o aluno se acalma e recupera o controle sobre suas emoções, podemos ajudá-lo a refletir sobre a situação e criar um plano para lidar melhor com desafios futuros.
Essa reflexão é essencial para a mudança de comportamento e para o desenvolvimento de novas estratégias de regulação emocional. Algumas perguntas úteis nesse momento são:
– “O que podemos fazer da próxima vez que você se sentir assim?”
– “Como podemos lidar melhor com essa situação no futuro?”
– “O que você espera dos adultos quando estiver passando por um momento difícil?”
Da mesma forma que a previsibilidade do educador é essencial para acalmar a situação, o aluno também precisa de previsibilidade para desenvolver suas próprias estratégias. Nesse momento, podemos sugerir alternativas como pausas programadas, encontros com um adulto de confiança, espaços seguros dentro da escola e acordos sobre como os professores podem ajudá-lo nesses períodos.
Apoio coletivo
Quando um aluno age de forma desregulada, é porque essa é a única estratégia que ele conhece para lidar com suas emoções. Esse comportamento tem um propósito, e dentro das habilidades que ele possui naquele momento, é a melhor solução que ele encontrou.
Ao entender a regulação emocional como um processo que auxilia o funcionamento do cérebro do aluno, mudamos nossa abordagem. Em vez de tentar controlar o comportamento, passamos a trabalhar junto com o aluno para desenvolver novas formas de lidar com desafios emocionais.
Utilizar a estratégia CALM não só favorece a regulação do aluno, mas também ajuda o educador a manter o equilíbrio emocional e agir de forma mais eficaz nos momentos mais difíceis. Dessa forma, transformar a tensão em calma se torna um processo de conexão, aprendizado e crescimento para ambos.
* Publicado originalmente em Edutopia e traduzido mediante autorização
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