Como os objetivos da educação midiática encontram espaço no ensino híbrido - PORVIR
Crédito: natasaadzic/iStockPhoto

Inovações em Educação

Como os objetivos da educação midiática encontram espaço no ensino híbrido

Entenda como a educação midiática desenvolve a autonomia de crianças e jovens e por que professores são essenciais para decidir e guiar os momentos individuais e coletivos, síncronos e assíncronos

Parceria com EducaMídia

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 4 de agosto de 2021

O ensino remoto mostrou novas possibilidades a partir do uso de ferramentas online e da combinação de momentos individuais e colaborativos. Esse novo desenho, em que a tecnologia tem papel de destaque, é o principal fundamento da educação midiática, que pode ser muito trabalhada ao longo do período de retomada das aulas presenciais.

O assunto foi tema da live “Educação midiática e ensino híbrido”, promovida pelo EducaMídia, na qual Mariana Ochs, coordenadora do programa, explica que habilidades que os alunos estão praticando neste momento de aulas a distância ou presenciais, como construção autônoma do conhecimento, uso qualificado da tecnologia e produção criativa, ética e crítica de mídias, estão diretamente relacionadas às habilidades dos eixos ler, escrever e participar da educação midiática.

Compartilhando objetivos 
Há uma correspondência entre os objetivos da educação midiática e da híbrida. Ao passo que a primeira demanda o desenvolvimento de habilidades para acessar e avaliar informações, a segunda indica o uso do ambiente digital para construção autônoma do conhecimento, por exemplo. Da mesma forma, o domínio crítico de linguagens e ferramentas da educação midiática corresponde à criação de mídias para autoexpressão no ensino híbrido.

“A educação híbrida prioriza a construção autônoma de conhecimento, apoiada em um ambiente de reflexões coletivas e troca entre pares, e é potencializada pelo acesso ao ambiente digital, que expande as fronteiras da sala de aula. Para isso, é preciso não só dominar as tecnologias ou ferramentas de informação e comunicação, mas, sobretudo, fazer uso qualificado delas. Ou seja, saber ler, escrever e participar na sociedade conectada, de forma reflexiva, segura e responsável, e com confiança para consumir e produzir conteúdo, o que é exatamente o foco da educação midiática”, explica Mariana.


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Para que esses objetivos sejam alcançados, é preciso reforçar que a concepção de educação híbrida discutida na transmissão e trazida por Mariana é mais complexa e vai além de dividir atividades entre a casa e a escola. Para a especialista, o momento atual, em que as aulas presenciais não foram totalmente retomadas, não deve levar o nome de ensino híbrido, uma vez que a metodologia não diz respeito ao arranjo geográfico da educação, mas sim à construção de autonomia e desenvolvimento de uma postura ativa e engajada frente ao aprendizado por parte dos alunos.

“O ensino híbrido tem muito mais a ver com a combinação de momentos de construção autônoma com momentos de trabalho e reflexão coletivas, de forma muito intencional, e fazendo um uso da tecnologia para potencializar o acesso à informação, a criatividade e a colaboração, além de possibilitar a criação de percursos personalizados”, defende Mariana.

Aprender a viver e conviver em meio ao digital  
Hoje aparelhos como celulares e tablets são praticamente uma extensão do corpo humano, ao que parece ser inconcebível passar um dia sequer sem navegar na internet. Essa facilidade de acesso às informações tem seu lado positivo e negativo.

Por isso, Mariana pontua que nesse momento de abundância de informações que não se traduzem necessariamente em mais conhecimento – já que, na internet qualquer pessoa pode escrever e publicar textos –, a educação midiática é essencial ao desenvolvimento da autonomia de crianças e jovens diante de seu processo de aquisição de conhecimento e aprendizagem nesse mundo conectado.

“Nós ganhamos ao preparar o jovem para navegar com confiança o ambiente informacional da sociedade, em que há conteúdo por toda parte, mas também muita desinformação, opiniões, sátiras, publicidade, propaganda, estereótipos, preconceitos, vozes omitidas e tantos outros aspectos e modalidades que precisam ser compreendidas e decodificadas”, pontua.

Essa autonomia não deve ser confundida como uma “dispensa ao professor”. A coordenadora do EducaMídia reforça que, nesse novo desenho educacional, os professores continuam sendo figuras fundamentais não apenas para pensar um esquema que mescle momentos individuais e coletivos, síncronos e assíncronos, presenciais e a distância, mas para a concatenação de diferentes momentos com objetivos próprios de aprendizagem, que podem ser moldados às necessidades individuais dos estudantes.

Integração
Engana-se quem pensa que integrar a educação midiática e realmente promover o ensino híbrido é tarefa impossível. O que caracteriza a inclusão da educação midiática é o uso intencional de exemplos de textos de mídia para trabalhar não só o conteúdo curricular, mas também praticar cotidianamente essa leitura reflexiva e decodificação.

Tanto presencial como remotamente, estudantes podem criar conteúdo em mídias diversas, atividade que pode contribuir para que demonstrem a compreensão dos conteúdos e suas escolhas responsáveis e conscientes enquanto autores de mensagens de mídia.

“É possível envolver os alunos que estão colaborando remotamente em um exercício de curadoria e avaliação de textos de mídia para apoiar a investigação sobre determinado conteúdo, por exemplo. Eles podem pesquisar individualmente e colocar contribuições em um documento ou mural compartilhado. Esses textos podem ser analisados quanto à sua confiabilidade e propósito, seja na forma de comentários no documento, seja através de uma discussão ao vivo”, exemplifica Mariana.

Além da análise e produção de mídias  
A camada de educação midiática pode ser adicionada a projetos já existentes. É o que exemplifica Carolina Benazzato, educadora Google e especialista em tecnologias na aprendizagem.

A partir da formação de multiplicadores EducaMídia, ela desenvolveu o e-book “Guia do professor para o Projeto Cidades Visíveis”, baseado em um projeto que já realiza em parceria com professoras de histórias e geografia. O material traz uma proposta também interdisciplinar, só que mais ampla, envolvendo literatura, redação, história, geografia e artes, com o objetivo de debater diversidades políticas e culturais das cidades da obra “As Cidades Invisíveis”, de Italo Calvino.

Dessa forma, Carolina ressalta que trabalhar a educação midiática vai além do acesso, da análise, criação e participação crítica dos meios informacionais e midiáticos – que são requisitos fundamentais para a construção de um cidadão consciente –, mas abre possibilidade de trabalhar os mais diversos temas, como, no seu caso, sociedade, política, cultura e cidadania.

“Há tempos discute-se o ideal da construção da escola como arquiteta da ponte que conecta o mundo dos alunos ao conhecimento e à cidadania. Ao trabalhar valores como sociedade, política e cultura em sala de aula, mostrando a relação profunda existente entre eles e a mídia, aproximamos nosso projeto escolar desse ideal. Acredito que esse seja o modelo de educação requerido pelo século 21”, defende.

A educadora explica que o projeto proposto pelo guia contempla múltiplas habilidades pois estimula o pensamento crítico, a comunicação efetiva e a participação cidadã ativa. Todas essas frentes são possíveis uma vez que as atividades envolvem diferentes espaços de estímulo a questionamentos e reflexões sobre as informações transmitidas pelas mídias, os formatos de mídias e a investigação de variadas perspectivas de um mesmo fato. “O trabalho com múltiplos pontos de vista promove a interdisciplinaridade, capaz de valorizar cada uma das abordagens possíveis, explorando diferentes áreas do conhecimento e promovendo o olhar investigativo para as mídias”, completa.

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coronavírus, educação midiática, ensino híbrido

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