Como tornar o pensamento visível e melhorar o engajamento dos alunos - PORVIR
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Inovações em Educação

Como tornar o pensamento visível e melhorar o engajamento dos alunos

Mark Church, pesquisador da Universidade de Harvard, apresenta rotinas que podem ser colocadas em prática por professores à medida que as ideias dos alunos são expressas, discutidas e documentadas

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 26 de novembro de 2018

Muitas vezes basta uma mudança de enunciado para os alunos terem dificuldade diante de uma questão e dizer que o conteúdo não foi ensinado exatamente daquele jeito antes da prova ou projeto. Uma maneira de promover o engajamento dos alunos e fazer com que eles entendam o que está por trás da pergunta é trabalhar o pensamento visível, como defende Mark Church, professor e pesquisador do Project Zero, um programa da Escola de Educação da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Durante visita à unidade de São Paulo da Escola Concept, onde realizou oficinas para educadores e familiares sobre aprendizagem ativa, Church mostrou como essa metodologia pode ser colocada em prática por professores à medida que as ideias dos alunos são expressas, discutidas e documentadas. Ela está baseada em três elementos: afirmação (uma explicação ou interpretação a respeito de um tópico), apoio (coisas que você, sente e sabe para apoiar a afirmação) e pergunta (o que foi deixado de lado? O que não foi explicado? De onde tirou tal afirmação?).

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Por criatividade, professor precisa tornar o pensamento do aluno visível

Em conversa com o Porvir, o professor explicou como diferentes situações de sala de aula podem ser vistas a partir deste tripé. Church também apresenta exemplos sobre como tornar esses movimentos um hábito e, assim, ajudar estudantes a identificar notícias falsas e ir além do superficial quando são convidados a opinar sobre um determinado fato, seja em matemática, literatura ou história. Da educação infantil ao fim do ensino médio, tais rotinas não devem ser pensadas como algo que tira o tempo de outras atividades, mas que precisam estar incorporadas em todos os momentos, segundo o pesquisador.

“Escolas e sistemas educacionais melhoram com um bom currículo e boas avaliações, mas nós estamos começando a discutir que isso não é suficiente, porque esses fatores dependem do que cada professor e do que a comunidade de professores cultiva no dia a dia”, disse ao comentar a necessidade da qualificação do debate em sala de aula e da necessidade de apoiar professores na criação desses momentos.

Leia abaixo como foi a conversa:

Mark Church, professor e pesquisador da Harvard Graduate School of EducationCrédito: Vinícius de Oliveira

Porvir – Em que consiste o trabalho de pesquisa para tornar o pensamento visível?
Mark Church – Nosso trabalho sobre o pensamento visível busca entender as disposições de pensamento. Uma coisa que sabemos é que os hábitos que levam até elas não podem ser ensinados e precisam ser incorporados. Eu não posso ensinar curiosidade durante aula e dizer imediatamente que os estudantes tornaram-se curiosos, mas se quero criar o hábito de que eles façam perguntas e busquem o que está por trás das perguntas, preciso saber o fazer em situações desconhecidas. Onde posso encontrar linguagem, oportunidades, situações, interações e rotinas para isso?

Uma das piores coisas acontece quando um professor diz ao aluno: ‘Oi, quero que você seja criativo e curioso’. Na verdade, essa é uma situação em que não há tempo e nem ferramentas para o aluno se expressar. Se quisermos que isso se torne um hábito, temos que trabalhar todas essas áreas mencionadas. São as interações, a linguagem e as rotinas do professor em sala de aula que vão permitir às crianças entenderem que é importante a busca por uma nova perspectiva, usar a imaginação e olhar por sob as camadas para descobrir a complexidade das coisas.

Escolas e sistemas educacionais melhoram com um bom currículo e boas avaliações, mas nós estamos começando a discutir que isso não é suficiente, porque esses fatores dependem do que cada professor e do que a comunidade de professores cultiva no dia a dia. Quando chegam ou vão embora, o que colocam ou não nas paredes, como falam e quais perguntas fazem nunca estão escritas em um currículo. Meu currículo nunca vai dizer que quando a criança fizer essa afirmação na quinta-feira deve-se dizer isso. É por isso que em nosso trabalho olhamos para hábitos de pensamento que as crianças devem desenvolver. Como a cultura em sala de aula ajuda a moldar isso? As rotinas são uma maneira, assim como a linguagem, a interação, o tempo. Se pudéssemos garantir o aprendizado da criança apenas com o que o currículo diz, não importaria quem os acompanha em sala de aula.

Porvir – Como tornar o pensamento visível pode ajudar alunos a entender o que acontece no mundo e saber se proteger de conteúdos nocivos e de notícias falsas em redes sociais?
Church – Eu não sou especialista em notícias falsas e acho que não consigo fazer alguém desmascarar notícias falsas. Quando alunos encontram uma notícia ou se deparam com um fenômeno, eu não posso forçá-los a agir de uma determinada maneira, mas consigo dizer quais ferramentas, estruturas e hábitos precisam demonstrar.

O problema com as notícias falsas está quando o falso não é detectado. As notícias que tratam de algo que eu não gosto são mais fáceis de serem percebidas, mas quando o conteúdo assume uma postura que você apoia, é sempre mais difícil. Então, a discussão deve estar nos hábitos que foram criados para que eu possa lidar com isso de maneira que não seja guiado apenas por aquilo que acredito.

Que tipo de hábitos preciso ter para avaliar afirmações? Que tipo de rotina de pensamento posso usar? Uma coisa que posso olhar é a maneira com que essa afirmação está apoiada. Qual sua origem? Qual pergunta posso fazer para essa afirmação? Que análise tenho para tal afirmação? Esse hábito de afirmação-apoio-pergunta é algo que o estudante pode levar consigo, independente se gostar ou não de uma opinião. Pessoas que tendem a navegar por notícias falsas, tendem a trazer esse padrão de pensamento.

Porvir – Professores de diferentes disciplinas podem usar o mesmo tipo de rotinas?
Church – As pessoas costumam me perguntar se tenho boas rotinas para tornar o pensamento visível na educação infantil, para matemática, para ciências… e eu sempre digo talvez, porque questiono o tipo de movimento cognitivo que eles ou elas estão querendo que seus alunos façam. É um momento em que você quer que eles olhem de forma analítica? Que eles considerem perspectivas? Façam uma conexão?’

Para nós, não existem rotinas de matemática, de ciências, de história ou específicas para educação infantil. Tudo o que existe é rotina de pensamento. Nós temos toda uma série de perguntas como afirmação, apoio e questionamento. Em uma aula de matemática, história ou literatura, quando é o momento ideal para olhar uma afirmação e examinar o que é importante?

Eu era professor de matemática e crianças de 11 a 14 anos me diziam ‘Oh, o Sr. Church esse resultado continua sempre. É como o infinito’. E eu respondia: ‘Essa é uma afirmação interessante. Você acha que isso vai durar para sempre, que não tem fim e vai ao infinito. Bem, o que te faz dizer isso? Isso é raciocínio. O que te faz dizer isso? Quais as evidências você tem? Que pergunta você tem para essa afirmação? Há pessoas que acham que isso acaba? Que não vai para sempre? Esse é o momento que afirmação- apoio-questionamento funciona na minha aula de matemática, porque a criança me deu uma afirmação para que pudéssemos analisar

Em um contexto de aula de história, os estudantes podem dizer ‘Precisamos votar para esse partido’. Essa é uma boa afirmação, mas qual base você possui para isso? Você percebe como essas mesmas rotinas se desenrolam em disciplinas muito diferentes? As rotinas de pensamento estão mais relacionadas à situação do que à disciplina. Crianças da educação infantil e jovens de 18 anos terão maneiras próprias de olhar para uma afirmação terão maneiras próprias de olhar para uma afirmação.

Porvir – Como essa prática pode ajudar na hora de fazer provas e exames tradicionais?
Church – De modo geral, nossa pesquisa nunca teve como foco a melhorar os resultados dos exames. Não quer dizer que não estamos interessados ​​nisso, mas não é esse o nosso fator de motivação. Estamos interessados ​no processo de aprendizagem. O que acontece quando as pessoas aprendem poderosamente, existem certos movimentos que eles fazem cognitivamente? Se os estudantes ficam bons e tornam um hábito a análise detalhada e a consideração de diferentes perspectivas, eles podem encontrar uma maneira para lidar com o desconhecido ao fazer uma prova.

Nós vemos esse fenômeno quando os estudantes demonstram todo o conhecimento do assunto, as habilidades, mas quando estão diante de uma prova, têm dificuldade porque a questão não está apresentada da maneira praticada e não sabem como resolvê-la. E aí se viram para e dizem “Você não nos ensinou como fazer essa aqui”. E isso machuca o coração do professor, que diz “você sabe como resolver, só não reconheceu isso”. Eu acho que aqui está a questão fundamental. Se nossos alunos são bons em olhar de perto e fazer conexões independentemente do direcionamento do professor, então vamos vê-los colocando esses hábitos em prática.

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competências para o século 21, ensino fundamental, ensino médio, ensino superior

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