Comunicação com comunidades é chave para o sucesso de um projeto de tecnologia
Introduzir tecnologia nas escolas depende também de diálogo com a comunidade escolar para que os processos sejam compreendidos por todos
por Ruam Oliveira 4 de junho de 2021
A aproximação entre escola e comunidade não é um conceito novo. Há muito que pais, mães e outros familiares, docentes, estudantes e demais educadores compõem todo o contexto escolar e influenciam no que pode ou não acontecer na escola.
Nessa relação, construir processos de comunicação efetivos e claros faz parte da rotina de preocupações dos gestores. A fim de ver cumpridos os objetivos que a liderança desenha, comunicar – com a comunidade interna e externa – é um passo importante e fundamental. Em um projeto que envolve tecnologia educacional, não basta apenas uma conversa com os pais sobre qual tecnologia aplicar ou não em sala de aula, mas também com os educadores e com os estudantes, todos interessados nessa equação.
“O gestor tem que ser o exemplo também na forma de comunicar-se com toda a comunidade escolar”, afirma o professor José Moran, pesquisador e designer de ecossistemas inovadores na educação. Entre as habilidades necessárias, o pesquisador aponta que usar bem os recursos de redes, por exemplo, é essencial.
No momento em que escolas enfrentam retornos e novas suspensões de aulas presenciais devido à pandemia de covid-19, tendo que recorrer ao ensino remoto por longos períodos, tornou-se comum dizer que a tecnologia está transformando a educação como nunca se viu. Mas este também não é um cenário recente.
“É um momento para repensar a escola como um todo, não é só a tecnologia. A escola é um espaço de comunicação, de encontro entre pessoas – umas mais experientes e outras mais novas”, destacou o professor Moran.
O professor Rui Christofoletti, diretor educacional do Colégio Koelle, uma Apple Distinguished School localizada em Rio Claro, interior de São Paulo, conta que desde 2014, a escola onde atua vem investindo em tecnologia de maneira gradual. Primeiro foi o terceiro ano do ensino médio que recebeu iPad para trabalhar em sala de aula, em seguida essa medida se estendeu para todo o ensino médio e, posteriormente, para o ensino fundamental 2, a partir do 6º ano. O fundamental 1 e a educação infantil também estão em contato com tecnologia, porém usando o que chama de laboratório móvel, com carrinhos que atendem diversas turmas.
Quando houve a decisão de usar iPad em sala de aula, segundo Rui, a preocupação dos pais inicialmente estava na segurança – tanto de dados, quanto de uso – e na forma que a escola planejava administrar o ambiente digital. “Lembro muito da primeira reunião em que compartilhamos no telão a imagem do iPad e respondemos com demonstrações na tela as perguntas dos pais”, disse. “A visão precisa ser clara para a pessoa que está na gestão”.
O professor José Moran destaca que, para além do aparelho tecnológico em si, há uma questão de relação humana que deve ser valorizada, e o hardware usado passa a ser encarado de maneira mais natural. “Em alguns momentos, você nem percebe que está com tecnologia”, apontou.
Cabe, portanto, ao gestor identificar a melhor maneira de gerenciar tais ferramentas. Yuri Ribeiro, coordenador de educação da Sejunta, afirma que esse gerenciamento passa por oferecer ao professor a ferramenta de um jeito simplificado.
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Com uma maior inserção de tecnologia em razão da pandemia, Yuri afirma que ficou mais fácil observar gargalos onde elas podem ser inseridas de maneira mais assertiva e é possível ouvir o professor no momento de optar por uma tecnologia específica, por exemplo. Nesse sentido, o papel da liderança está em apoiar também ideias que venham dos educadores.
O professor Moran destaca que apoiar docentes, principalmente os que já têm experiência, pode ajudar a chegar no objetivo de envolver o aluno, colocando-o como elemento central da aprendizagem.
Investir no uso das tecnologias de uma forma interessante e apoiar esses educadores, trazendo-os para um comitê de inovação, por exemplo, são ações que um gestor pode realizar não somente para valorizá-los, mas também para que eles possam servir de tutores ou mentores dos demais.
E tanto saber ouvir quanto manter canais de comunicação claros e definidos impactam diretamente no engajamento da própria comunidade escolar, é o que destaca Yuri. “[A comunicação] é essencial para a gente ter o desenvolvimento da equipe, porque se não tivermos momentos em que essa equipe se comunica, consegue crescer junto e se engajar junto, o projeto pedagógico não vai ter sucesso”.
Para Rui, entender como se comunicar com a comunidade, principalmente ao introduzir um assunto novo, foi um processo de aprendizagem. A tomada de decisão sobre qual canal usar, se email ou mensagem via whatsapp, por exemplo, foi acontecendo aos poucos. Ele destaca que, como um dos principais desafios, está encontrar o tom correto, o jeito ideal de traduzir a visão que a escola tem sobre o projeto pedagógico.
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