Crianças contam suas histórias e mostram o lugar onde vivem pela fotografia - PORVIR
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Diário de Inovações

Crianças contam suas histórias e mostram o lugar onde vivem pela fotografia

Projeto criado por educadora de Niterói (RJ) valoriza o olhar infantil para o cotidiano e estimula a contação de história a partir de recursos imagéticos

por Érika Francisco de Paulo David ilustração relógio 19 de dezembro de 2017

Entendemos que a fotografia tem o papel fundamental de servir como suporte para as narrativas orais dos alunos, que se utilizam deste recurso para contar e dividir com o grupo as suas trajetórias, e, por conseguinte, a história do bairro onde moram. Pensando nisso, desenvolvemos um trabalho com 18 crianças (de 3 a 4 anos) da Unidade Municipal de Educação Infantil Professora Áurea Trindade Pimentel de Menezes, em Niterói (RJ).

Esta iniciativa teve por objetivo promover dentro do ambiente escolar a utilização da prática da fotografia como mais uma forma das crianças contarem a sua própria história a partir de recursos imagéticos e da oralidade. Desta forma, as crianças se reconhecem dentro de uma realidade compartilhada com seus colegas de turma, construindo um discurso que fala da sua história e desta comunidade, localizada no bairro de Itaipú.

As vozes dos alunos, seus interesses, seus gostos e suas histórias são evidenciados em seu recorte fotográfico, possibilitando o estudo e o conhecimento do olhar dos alunos sobre o seu próprio cotidiano, bem como sua identidade e história.

Usamos imagens produzidas pelos alunos dentro e fora do espaço escolar, mas vale destacar que a turma dividiu uma única câmera fotográfica que ia para a casa do aluno e retornava para a escola para ser utilizada por outro colega de turma.

Como foco do trabalho, podemos destacar o estudo da identidade e da ancestralidade das crianças . As narrativas dos alunos aconteceram ao longo do ano, e adotamos uma dinâmica de apresentação de dois trabalhos por semana.

Os alunos levavam a câmera fotográfica para casa e tinham como tarefa a produção de três imagens: uma fotografia da sua família, uma fotografia da sua casa, uma fotografia do seu animal de estimação. Diante do material coletado ao longo de uma semana (registros de dois alunos) a turma se reunia para fazer a socialização das imagens e suas narrativas que eram escritas e registradas por mim.

À medida que as crianças traziam seus trabalhos e apresentava os seus registros, as suas histórias e a história do bairro, bem como suas características, começavam a ganhar contornos.

Durante a realização do trabalho, os alunos produziram fotografias dos espaços da escola de que mais gostavam, para posteriormente levarem a câmera fotográfica para casa e produzirem suas fotografias de família, da casa e dos animais de estimação. De posse das imagens, os alunos socializaram com o grupo de referência suas produções ao longo do ano.

Todo o processo contou também com o apoio de livros de literatura infantil que tratavam das temáticas suscitadas pelos alunos. Se considerarmos uma concepção de educação pautada na vivência cotidiana, vista como um processo de vida e não como preparação para uma vida futura, temos uma abordagem que valoriza o tempo presente, a vida presente, assim nosso ponto de partida foi sempre a história e memória dos alunos.

O resultado final do trabalho da turma foi socializado com toda a escola na Festa Literária, que é realizada anualmente na escola. Nesse momento, toda a escola se mobiliza para compartilhar as produções realizadas durante o ano e também entrar em contato com os trabalhos desenvolvidos em outros grupos de referência.

Com a realização deste projeto, pretendemos proporcionar aos alunos amplo contato com diferentes tipos mídias, obras de arte e diferentes expressões artísticas, bem como o uso de diferentes tecnologias. Esperamos que eles se reconheçam como produtores de fotografias e que possam perceber no registro fotográfico uma atividade subjetiva e uma importante forma de contar a própria história e de refletir sobre ela, ultrapassando o uso do registro imagético na atualidade, que se dá de forma tão fragmentada e superficial.

Diante dessa perspectiva, promover um exercício com as imagens pautado em um trabalho de educação do olhar é usar o estudo imagético em toda sua potencialidade, reconhecendo este recurso como forma de mediação da aprendizagem e de construção do conhecimento.


Érika Francisco de Paulo David

Com formação em pedagogia,  há nove anos se dedica ao trabalho com turmas de educação infantil do município de Niterói. Sempre trabalhou utilizando o suporte da mídias digitais, tendo foco na produção de filmes de animação. Com uma turma em especial, desenvolveu um trabalho voltado para a fotografia. Hoje participa da assessoria de mídias e novas tecnologias na Fundação Municipal de Educação de Niterói (RJ).

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educação infantil

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