Crianças descobrem a ciência brincando com carrinhos de rolimã - PORVIR
Crédito: Ricardo Miura/Escola Móbile

Diário de Inovações

Crianças descobrem a ciência brincando com carrinhos de rolimã

Entre muitas perguntas e testes de previsões, professores apresentam a física na educação infantil e alunos já levam o que aprenderam para fora do ambiente escolar

por Marcel Bozzo ilustração relógio 21 de junho de 2017

É possível ensinar ciências na educação infantil de forma sistemática e significativa? Sim, é possível. E é importante que a escola, além de contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo, forme cidadãos capazes de resolver problemas de toda ordem.

Nessa abordagem, a criança deve sair do mundo das ideias e colocar em prática seus saberes. Questionar, fazer perguntas, experimentar, testar e descobrir relações tornam a criança protagonista e a inserem no centro do processo educativo. E como esses princípios se traduzem concretamente em inovação em sala de aula?

Para ensinar força e movimento para o infantil 5 e ilustrar essa metodologia, coordenei o planejamento de atividades que privilegiam o caráter lúdico, a intensa exploração de materiais, o resgate de brincadeiras tradicionais, a mediação clara e precisa das professoras e, sobretudo, a oportunidade de os alunos realizarem previsões e testá-las.

Primeiramente, as crianças brincaram nas aulas de ciências e de educação física e aprenderam que quanto maior a massa do objeto a ser deslocado, maior a intensidade da força a ser aplicada. Depois de várias mediações e intervenções feitas por mim e pelas outras professoras, foi gratificante observar as crianças utilizando espontaneamente o conceito de massa no contexto científico.

EscolaMobile_RicardoMiura_2Crédito: Ricardo Miura/Escola Móbile

Em seguida, foram realizados testes sistemáticos com carrinhos e rampas para que as crianças concluíssem que há relação entre a inclinação de um plano, o tempo necessário para percorrê-lo e o deslocamento que o objeto realizará ao final do percurso.

Há melhor forma de aplicar todos esses conhecimentos do que as próprias crianças construírem e realizarem testes num projeto de engenharia?

Os alunos observaram um modelo de carrinho de rolimã. Em seguida, receberam um kit de peças para montar seu próprio veículo: parafusos, rolimãs, porcas, arruelas, prancha e pedaços de madeira. Cada grupo de cinco alunos construiu um carrinho personalizado em conjunto.

Carrinho pronto. Mão na massa. Os alunos precisavam aprender com segurança a conduzir o veículo que construíram. Puseram seus equipamentos de segurança, ajudaram-se uns aos outros e foram para as rampas da escola viver ciência.

Estávamos preocupado em como os alunos justificavam a influência de atributos como as cores, que eles viram que são causas acessórias, e não fundamentais. Fizemos o teste com uma aluna usando o carrinho da cor 1 e a da cor 2 e ela percebeu que o que influenciava era a altura da rampa, esse sim um atributo fundamental.

O vídeo a seguir ilustra como foram realizadas algumas etapas da unidade didática:

Uma de nossas alunas do Infantil 5 contou que está ensinando alguns conceitos a seu irmão mais novo fazendo algumas experiências: “Tem um tapete no meu quarto que tem muito atrito. Meu irmão jogou um carrinho nele e o carrinho deslocou muito pouco e parou. Na minha vez de jogar, tiramos o tapete que tinha muito atrito e aí meu carrinho foi bem longe. Aí eu pensei que o do meu irmão não deslocou muito, mas o meu, sim. Isso tudo aconteceu na minha casa!” Só essa fala já evidencia a diferença observada na vida de nossos alunos depois de aprenderem ciências.


Marcel Bozzo

É graduado em ciências biológicas pela Unesp e mestre em ensino de ciências pela USP. Atuou como orientador na Rede São Paulo de Formação Docente, programa da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. Ao longo da docência da rede municipal, foi supervisor do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência no subprojeto do Instituto de Biociências da USP, atuando também como formador no curso Diálogos Interdisciplinares a caminho da Autoria, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Atualmente é coordenador pedagógico da área de Ciências Naturais da educação infantil ao ensino fundamental 2 da Escola Móbile.

TAGS

brincadeiras, competências para o século 21, educação infantil, educação mão na massa

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