Cultura digital aproxima jovens de biblioteca pública
Em Poços de Caldas (MG), projeto BiblioArte LAB estimula a criatividade e a produção de conhecimento por meio da tecnologia
por Marina Lopes 27 de setembro de 2016
Com um espaço voltado ao convívio e à interação de jovens com a cultura digital, a Biblioteca Municipal Centenário, em Poços de Caldas (MG), ganhou um novo sentido nos últimos meses. Desde o início do ano, o projeto BiblioArte LAB tem atraído estudantes da rede pública ao local para empreenderem iniciativas e ideias criativas que ajudam ampliar as experiências leitoras na cidade.
Desenvolvido pela ONG Casa da Árvore, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, o projeto utiliza a tecnologia para criar novas práticas de leitura e incentivar a formação de leitores. A ideia é transformar a biblioteca pública em um espaço inovador, capaz de estimular a criatividade e o desenvolvimento de talentos por meio da cultura digital.
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Com a percepção de que os jovens podem ser influenciadores de leitura espontânea, compartilhando conteúdos multimídia sobre suas obras preferidas, o projeto oferece um espaço para que eles possam se encontrar para criar suas próprias manifestações artísticas e culturais. Entre outras atividades, a partir da união entre a cultura digital e o universo da literatura, eles elaboram publicações eletrônicas, fazem vídeos literários para canais online e transformam obras literárias em memes ou pequenas animações para internet.
“As bibliotecas precisam ser um organismo vivo que abriga produção de conhecimento. Espaços em que as pessoas, não só utilizem as informações contidas nos livros como fonte de inspiração para sua produção cultural, mas também possam interagir com as outras pessoas” defende Aluísio Cavalcante, coordenador de projetos de inovação da ONG Casa da Árvore.
Para convidar os jovens a participarem do projeto, foram realizadas visitas às escolas públicas da região. Entre conversas e atividades práticas, que incluíam a produção de GIFs literários e mapas colaborativos, os estudantes também começaram a frequentar o espaço da biblioteca. “Com o passar do tempo não foi mais preciso fazer essa movimentação dentro da escola”, lembra.
Atualmente, cerca de 36 jovens participam regularmente do BiblioArt Lab, mas Cavalcante lembra que sempre aparecem novos visitantes. “Não tem um dia que alguém não traz uma ou duas pessoas junto”, comenta.
Os encontros e atividades do projeto acontecem em um laboratório de inovação e prática de leitura, que foi montado dentro de um espaço cedido pela secretaria. Com a ajuda dos jovens, o local foi reformado para se transformar em um ambiente de convivência, com paredes repletas de arte e equipamentos trazidos pela ONG Casa da Árvore.
Entre os itens disponíveis no espaço, estão alguns projetores, computadores, notebooks, smartphones e até uma lousa digital, além de um acervo físico e digital montado com indicações e doações da própria comunidade. Apesar de contar com muitos equipamentos, para o coordenador de projetos de inovação da ONG, o que realmente muda o ambiente é a ocupação feita pelas pessoas.
“O espaço [do BiblioArt Lab] ajuda a transformar a biblioteca a partir das pessoas que ele agrega. O espaço por si não transformaria nada, mas a presença dele, como um ambiente que se tornou mais agradável, faz com que as pessoas comecem a enxergar a biblioteca de uma forma diferente”, diz.
Entre os resultados da iniciativa, já surgiram diversos projetos desenvolvidos pelos jovens. A estudante Alice Felizarto, 13, que está no oitavo ano do ensino fundamental, da Escola Municipal CAIC Professor Arino Ferreira Pinto, participa do grupo que faz publicação eletrônica Revista Página 9 ¾. Segundo ela, o diferencial da revista é falar sobre leitura e literatura na linguagem do jovem. Na última edição, por exemplo, ela cita uma reportagem que discutiu a discriminação das histórias em quadrinhos diante de outros gênero literários.
Aluno da Escola Estadual David Campista, Yuri Duarte, 15, que está no primeiro ano do ensino médio, conheceu o projeto por meio do grêmio estudantil. Pelo menos duas vezes por semana, ele vai até a Biblioteca Centenário para produzir vídeos, GIFs e textos para compartilhar sobre produções literárias na internet. No #MeDizUmLivro, ele e outros jovens fazem o mapeamento de livros que gostam e que estão disponíveis em bibliotecas públicas, comunitárias e escolares da cidade. “É um meio de mostrar um pouco de cultura, espalhar a literatura e dar oportunidade aos jovens de conhecerem algo que eles podem gostar”, destaca.
Além dessas iniciativas, os jovens também podem participar do Cidades Literárias, que produz mapas digitais a partir de referências poéticas, e o <LEIA-ME!>, que propõe intervenções no espaço público e o uso criativo da internet como plataforma de leitura.
As experiências do BiblioArte LAB tornaram a Biblioteca Municipal Centenário reconhecida entre as três iniciativas brasileiras selecionadas pelo Programa Ibero-americano de Bibliotecas Públicas – Iberbibliotecas, que seleciona projetos inovadores de acesso à leitura, inclusão social e qualificação da educação e do desenvolvimento. O investimento recebido pelo programa será utilizado para potencializar os empreendimentos criativos dos jovens e investir na ampliação da oferta de vagas em oficinas.