Educadora transforma corredores da escola em lugar de acolhimento - PORVIR
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Diário de Inovações

Educadora transforma corredores da escola em lugar de acolhimento

Na Escola Castanheiras, em SP, o espaço se transformou em tema de pesquisa acadêmica e palco de arte, cultura e educação

por Ester Malka Broner Giannella ilustração relógio 24 de outubro de 2018

Passando férias em Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto, fui recebida por um jovem estudante, guia turístico da região nas horas vagas, de quem ouvi em poucas palavras uma afirmação que impactou meu olhar sobre o ambiente escolar e desdobrou-se numa pesquisa acadêmica, iluminando minhas ações na gestão da escola em que eu já trabalhava na coordenação pedagógica. A certa altura da conversa sobre os encantos de uma cidade como aquela, o jovem respondeu friamente à pergunta que lhe fiz sobre sua escola:

“Dona, escola é escola em qualquer lugar. Minha escola não tem a beleza, que vemos aqui. Não tem nada a ver com isso, não tem nada de encantamento por lá… ela é contemporânea.”

Esta afirmação se apossou de minhas velhas inquietações: escola é escola em qualquer lugar?

Assim, buscando as manifestações da aprendizagem nos registros dos alunos, nas salas de aula, nos corredores, retomei meus caminhos de pesquisa, conectando Arte, Cultura e Educação, como modos de ocupação da dimensão estética da escola, oferecendo à comunidade – alunos, professores, funcionários e pais, oportunidades de contato e apreciação da produção expressiva, criativa e subjetiva do conhecimento.

Passei a analisar os corredores da escola para ver o que as produções expostas poderiam captar da escola e devolver para ela como reflexão. Mergulhei num estudo profundo sobre a expressividade dos signos na aprendizagem.

Defendi como tese a ideia de que há uma “cenografia do conhecimento”. De modo bem resumido, é pensar os corredores das escolas não como um lugar de fuga da sala de aula ou de breve passagem, mas um espaço de recepção e acolhimento com exposições das produções dos alunos, elaboradas cuidadosamente através de ferramentas de uma curadoria. Selecionar os trabalhos, os suportes, as conexões sobre a temática em questão, os textos explicativos, as cores, as formas de interação e tudo o mais que instigar a apreciação do público, passa a fazer parte de uma intenção pedagógica que tem como valor, partilhar o conhecimento com a comunidade. Nesta cultura que criamos é possível conviver com o belo em corredores escolares!

A Escola Castanheiras tem sido minha grande oficina de arte, cultura e educação, o palco cuja cenografia tem não somente ocupado espaço, mas modificado o ambiente, o clima escolar. Andando pelos corredores e conversando com as pessoas, é possível ver como estas exposições impactam os alunos e também funcionários, gerando um sentido de pertencimento. Há murais interativos, instalações, visitas guiadas, delicadezas expressivas do processo de aprendizagem de crianças e jovens que são apresentadas aos alunos de outras idades. Uma das coisas mais bonitas é perceber os leitores iniciantes no esforço da leitura, movidos pela curiosidade do que está exposto. Os funcionários não-docentes manifestam outro entendimento do projeto pedagógico sobre a escola em que trabalham. De repente, somos tomados pela vontade de andar devagar e apreciar os trabalhos.

Neste encontro das possibilidades de diálogo entre o projeto pedagógico, a expressão dos alunos e as formas de recepção da comunidade, temos nos mantido atentos à percepção da função social e cultural da escola. Na descoberta de outras ressignificações cabe lembrar o poeta Mario Quintana: “O que mata um jardim não é o abandono. O que mata é esse olhar de quem passa por ele indiferente”.

* O relato resume o conteúdo apresentado na Tese de doutorado: Cenografia do Conhecimento – a dimensão estética da escola, defendida na Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Angélica Albano.


Ester Malka Broner Giannella

Doutora e mestra pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Especialista em educação pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Foi coordenadora de educação infantil e hoje é diretora pedagógica do ciclo fundamental I da Associação Escola Castanheiras. Como formadora, participou de programas de formação de professores alfabetizadores pelo Instituto Abaporu, pelo Programa Ler e Escrever da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e de formação de professores de educação infantil desenvolvendo temáticas ligadas às linguagens da infância. Foi supervisora do Programa ADI Magistério, iniciativa da Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Fundação Vanzolini.  Produziu material pedagógico e vídeos educativos coordenados pelo Projeto Abaporu de Educação e Cultura.

TAGS

arquitetura, novos espaços, pesquisas

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