Em aula de Projeto de Vida, grupo cria livro de receitas que reaproveitam alimentos - PORVIR
Crédito: FG Trade/iStock

Diário de Inovações

Em aula de Projeto de Vida, grupo cria livro de receitas que reaproveitam alimentos

Na cidade de Itabuna (BA), professora e estudantes do 2º ano do ensino médio envolvem a comunidade em projeto que utiliza produtos constantemente descartados, mas de alto valor nutricional

por Maria Goretti dos Santos Silva ilustração relógio 7 de novembro de 2022

No componente curricular Projeto de Vida, iniciamos o ano estudando sobre a importância da interação do ser humano no espaço social. A pesquisa desencadeou nas questões do meio ambiente e do consumismo, que têm dominado a sociedade contemporânea – cotidianamente, ouvimos muito sobre consumo e desperdício.

Pensando na degradação que a natureza sofre quando seus recursos são retirados e não repostos, e também no descarte inapropriado de todo o lixo produzido (bem como na poluição e seus malefícios, que, infelizmente, ocasionam inúmeros riscos a todos os seres vivos), nós, professora e um grupo de sete alunos do 2º ano do ensino médio do Colégio Modelo de Itabuna, em Itabuna (BA), pensamos e entendemos a importância de tratarmos do reaproveitamento de partes de alimentos que são jogados fora e têm alto valor nutricional.

Muitas pessoas estão passando pelo processo de insegurança alimentar, e entendemos que o momento pedia a nossa ação e intervenção para ajudar as pessoas da comunidade do entorno da nossa escola. Além do mais, chamamos a atenção aos produtos que são constantemente descartados, por falta de conhecimento de como reaproveitá-los de modo alternativo.

Para tanto, a pergunta que nos inquietou e despertou a construção do projeto de pesquisa/intervenção na aula de Projeto de Vida: “Como o reaproveitamento de partes de alimentos que são jogados fora e têm rico valor nutricional podem ser transformados em receitas, e estas ensinadas às pessoas atendidas pelo restaurante popular do bairro Nova Itabuna”?

Se pesquisarmos na internet, encontramos várias receitas testadas que são realizadas com cascas de frutas e verduras, talos, folhas, casca de ovo, dentre outros, que podem estar à mesa alimentando àqueles que estão em situação de insegurança alimentar. Entretanto, muitos desconhecem tal informação. Eis o porquê de a presente investigação ser tão importante, uma vez que proporcionou diversas contribuições sociais, tais como: a diminuição em relação à produção de lixo orgânico, conscientização sobre o reaproveitamento e como ele pode ser um bom meio de alimentação alternativa, auxiliando a reduzir a insegurança alimentar de muitos moradores da cidade.

Crédito: Maria Goretti dos Santos Silva Crédito: Maria Goretti dos Santos Silva

Para isso, com o total apoio da gestão da nossa escola, a diretora Ednailza Miranda Carvalho Aboboreira. Fizemos parceria com a ONG Espaço Educativo Santa Maria Madalena, que acompanha 50 crianças e adolescentes e suas famílias. Também contamos com o apoio do restaurante popular Bom Samaritano, da Igreja Católica Santa Maria Madalena, dirigido pelo padre Tony Valério. O espaço sediou uma oficina oferecida a pessoas do bairro, com o intuito de ensiná-las a utilizar alimentação alternativa e saborosa, por meio do reaproveitamento, ajudando a saciar a fome, nesse momento da história do Brasil em que a inflação tem encarecido tantos produtos essenciais da cesta básica.

Nossa metodologia seguiu os seguintes passos: 

  • Estudos preliminares sobre Projeto de Vida e meio ambiente.  
  • Criação de grupos para a leitura de textos do livro didático “Projeto de Vida: Pensar, sentir e agir” e de artigos relacionados ao tema.
  • Construção do problema, dos objetivos da pesquisa, bem como a metodologia. 
  • Estudo sobre alimentação alternativa. 
  • Contato com o responsável geral do restaurante popular do bairro. 
  • Elaboração e aplicação da entrevista semiestruturada. 
  • Tabulação dos dados e busca de parceiros(as) cozinheiros(as) 
  • Escolha e testagem das receitas no colégio, para a composição do livreto de receitas. 
  • Realização da oficina de alimentação alternativa às pessoas da comunidade e distribuição do livreto de receitas. 
  • Aplicação de novo questionário aos participantes da oficina. 
  • Tabulação dos dados. 
  • Comparação do primeiro com o segundo questionário. 

Os dados da nossa pesquisa estão sendo divulgados no perfil do Instagram @projetodevidameioambiente.

Em 8 de outubro, realizamos a oficina com a presença de 13 mulheres da comunidade, mais uma convidada que nos ajudou no desenvolvimento das receitas, a Gilcélia Souza, cinco alunos e eu, apresentando a proposta do projeto, o livreto com as receitas e o valor nutricional dos alimentos que são geralmente descartados, para enfim colocarmos a “mão na massa”, fazendo as receitas que constavam no livreto que havia sido confeccionado anteriormente. Fizemos questão de montar um prato completo: arroz com talo de beterraba e casca de abóbora, farofa de folha de abóbora, refogado da casca de melancia, folha de abóbora ensopada, bife da casca de banana empanada, suco da casca de abacaxi com hortelã.

Tivemos resultados já no dia seguinte da realização da oficina, quando a assistente social responsável pela ONG, Márcia Lírio, começou a enviar as fotos dos pratos que as participantes fizeram em suas casas. Nós ficamos tão felizes, tão realizados! Esperamos que o projeto seja replicado em outras escolas. 

Também faremos uma apresentação na Feira de Ciências da escola. O projeto foi selecionado para participar da FECIBA (Feira de Ciências, Empreendedorismo e Inovação da Bahia), que ocorrerá entre os dias 8 e 10 de novembro de 2022. 

Assim, acreditamos que mediante o olhar para a população do entorno da escola e a observação das necessidades nesse contexto de insegurança alimentar, convocar e sensibilizar a comunidade escolar para as demandas sociais, apresentamos o projeto “Alimentação Alternativa”. A proposta é contribuir para que esses novos saberes sejam divulgados, com vista a ajudar no processo de articular oficinas locais. Isso apoiará a escola a assumir seu papel ativo na engrenagem social, bem como o protagonismo e a participação de estudantes enquanto agentes que constroem com suas mãos conhecimento – e transformam o mundo ao seu redor. 

O que é preciso para replicar o projeto?

Para replicar o projeto, é possível seguir os passos acima, e ter a sensibilidade de saber que muitos brasileiros e brasileiras passam fome. Podemos ajudá-los a ter, minimamente, a dignidade de uma alimentação. 


Maria Goretti dos Santos Silva

Professora há 27 anos, concursada da rede estadual há 15 anos, licenciada em letras e bacharel em teologia, especialista em educação inclusiva, em mídias educacionais e em docência no ensino superior. Mestra em letras, é professora de língua portuguesa, produção textual e Projeto de Vida.

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educação mão na massa, ensino médio, projeto de vida

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