Ensino híbrido incentiva autoaprendizagem no Japão
Instituto ajuda alunos a organizarem tempo e estudarem sozinhos a partir de motivações próprias fora do horário escolar
por Paula Furtado 22 de setembro de 2014
Do outro lado do mundo, em um país com alto desenvolvimento tecnológico, o uso de ferramentas digitais em sala de aula ou até mesmo os cursos on-line encontram diversas barreiras para entrar no cotidiano escolar. O ambiente educacional japonês, que causa a curiosidade de muitos estudiosos devido às inúmeras conquistas atingidas, é predominantemente tradicional e rígido em seus processos de aprendizagem. Mas isso tende a mudar, de acordo com Kenji Komatsu, CEO do iPal (innovative personalized and autonomous learning, em inglês), um instituto privado para estudos extracurriculares (mais precisamente, inglês, matemática e japonês).
Tive a oportunidade de conhecer a iniciativa inspiradora em viagem ao Japão. Após algumas conversas com Komatsu, pude perceber o quanto o rumo da educação está alinhado entre as mais diferentes culturas. Durante o tempo que estive no país presenciei o quão diferentes de minha realidade são os hábitos e costumes de lá, no entanto, a busca pela formação de um aluno mais autônomo é comum em vários países, distorcendo as fronteiras através da tecnologia e da troca de experiência em métodos educacionais que objetivam um aluno com habilidades e competências não garantidas pelos métodos mais tradicionais.
A ideia do instituto nasceu em 2011 a partir da necessidade de complementar os estudos da escola tradicional que ainda seguem os preceitos curriculares do pós Segunda Guerra Mundial. Segundo Komatsu, esses preceitos foram extremamente eficazes para o país reerguer-se e tornar-se uma potência, no entanto, hoje o país é outro, possui uma diferente estrutura social e econômica e necessita de mudanças também na educação, já que a formação não atende às demandas atuais do país e do mundo.
A chave para a inovação no iPal foi a escolha do ensino híbrido (blended learning, em inglês), conforme acredita o CEO ao afirmar que “este deve ser o caminho a ser seguido pela educação japonesa”. Esta tendência de ensino traz a aprendizagem centrada no estudante, levando em consideração seus domínios, interesses e objetivos e construindo, assim, um currículo individual e sob medida.
Komatsu frisou que o instituto não busca aumentar a quantidade de conhecimento de conteúdo no aluno, mas sim as competências direcionadas à autoaprendizagem e organização do próprio tempo. O grande objetivo do iPal é poder tornar os alunos capazes de estudar por si próprios a partir de motivações próprias e em qualquer lugar, mesmo sozinhos, em casa e sendo tentados por mil coisas que parecem mais divertidas.
Ele encontrou uma dificuldade comum entre seus alunos, que era a de organizar o próprio tempo e lidar com cronograma de atividades. Isso, para ele, é resultado da educação tradicional que acostuma o aluno a somente absorver dados e não a pensar ou motivar-se sobre o que fazer. Como exemplo, a grade fixa curricular que descreve o que cada um precisa estudar de acordo com sua idade e série.
Estudando o Blended Learning, Komatsu projetou um sistema de rotação para o iPal e renomeou a sala de aula para “laboratório”. Lá, cada aluno estuda individualmente o conteúdo on-line, pratica exercícios offline (podendo até utilizar papel e caneta) e, caso possua dúvidas, marca um horário presencial com seu tutor. Esse ciclo é repetido sempre com a inclusão de novos conteúdos ou reforço. Além disso, para investir no desenvolvimento da autonomia, não há um cronograma fixo de tarefa e horários: os próprios alunos montam seu calendário e devem agir com responsabilidade e organização com o que se comprometem.
Com essa abordagem pedagógica, os alunos passaram a ver mais sentido no que estão aprendendo, pois o aprendizado é mais personalizado às necessidades de cada um. Para auxiliar no método, Komatsu utiliza um ambiente on-line japonês, que possui objetos de aprendizagem combinados com a ferramenta gratuita de calendário do Google. A escolha do ambiente on-line foi determinada pela língua japonesa.
Paula Furtado
Pesquisadora (mestranda) em Linguística Aplicada e Tecnologia pela Unicamp, professora, designer instrucional e co-fundadora da Escola Mupi.