'Escolas são pessoas, que se dão e se comovem' - PORVIR
Crédito: cienpiesnf / Fotolia.com

Inovações em Educação

‘Escolas são pessoas, que se dão e se comovem’

Em artigo, professor Pacheco apresenta impressões sobre Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais, na Rocinha,

por José Pacheco ilustração relógio 13 de maio de 2013

Fui ao Rio, para conhecer in loco o projeto Gente (Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais). Fi-lo com a mesma intenção (a de querer aprender e partilhar) que me conduz, quando visito escolas brasileiras, que, cada qual do seu modo, produzem inovações.

Visitei a Escola Municipal André Urani, na Rocinha, livre da influência de uma mídia que exulta com novidades, que presume serem inovações: escola com tablets, sem salas, turmas ou séries, sem paredes e quadros-negros, sem carteiras enfileiradas, sem lousas, mesas individuais e professores tradicionais. Não é neste lado exótico do projeto que reside o pioneirismo do Gente, mas na ousadia de uma Secretaria de Educação, que, consciente dos trágicos efeitos de um modelo de escola falido, opera uma significativa ruptura paradigmática. Só por isso, a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro já merece a minha maior admiração.

Não é neste lado exótico do projeto que reside o pioneirismo do Gente, mas na ousadia de uma secretaria de educação, que, consciente dos trágicos efeitos de um modelo de escola falido, opera uma significativa ruptura paradigmática

Está aberto um precedente, talvez um tempo novo nos rumos que a educação brasileira percorre e que o amigo Rafael [Parente, subsecretário de novas tecnologias educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio] assim descreve: “Salas de aula onde um professor passa o conteúdo da mesma forma para cada um deles podem estar com os dias contados. É urgente repensar e recriar discursos, metáforas e pedagogia de alma brasileira.”

Reflito sobre este verdadeiro marco histórico, enquanto viajo do Rio para Sampa, acompanhado do meu amigo Fábio [Zsigmond], voluntário do Projeto Âncora. O meu amigo profundamente se comoveu, durante o diálogo com os professores do Gente, quando se referiu às crianças que ele ajuda a serem pessoas. Isso mesmo: escolas são pessoas, que se dão e se comovem. E a práxis das pessoas que educam são reflexo dos seus valores, pelo que aproveitamos para partilhar um livrinho que dá pelo nome de Dicionário de Valores…

Qual o modelo de pessoa e de sociedade que subjaz aos projetos como o Gente? Quais os valores por elas veiculados e os princípios que orientam as decisões? As novas tecnologias conferem um tom de modernidade ao projeto, mas a diretora Márcia Roberto da Silva foi objetiva na sua intervenção: Não se trata apenas da introdução de novas tecnologias na escola… Não basta mudar o quadro-negro pelo monitor digital. E, se as escolas entenderem isso, poderão migrar de um modelo de estudantes-papagaios repetidores da lição para um ambiente onde ocorra construção de saberes. Acredito que os professores do Gente isso entenderão e ajudarão os seus jovens alunos a reconstruir uma comunidade de aprendizagem chamada Rocinha e a usar as tecnologias para que isso aconteça criticamente.

É disso mesmo que se trata: de utilizar as novas tecnologias ao serviço da humanização da escola, na relação pessoa a pessoa, no estabelecimento de vínculos impossíveis de estabelecer com uma máquina, dentro e fora do edifício-escola

É disso mesmo que se trata: de utilizar as novas tecnologias ao serviço da humanização da escola, na relação pessoa a pessoa, no estabelecimento de vínculos impossíveis de estabelecer com uma máquina, dentro e fora do edifício-escola. “Estrategicamente” situado na interface entre a opulência da Gávea e as carências da Rocinha, o Gente poderá contribuir para um re-ligare essencial, poderá transformar-se numa comunidade de aprendizagem, que logre esbater a pesada herança de séculos de difícil convivência entre alguns que têm tudo e muitos que nada têm. Através de novas práticas sociais, até talvez possa contribuir com a sua parte para a redução do vergonhoso índice de desigualdade social que o Brasil ostenta e para mitigar a crise ética e moral que o país atravessa…

Como diria o mestre Freire, não é a educação que muda a sociedade, mas é a educação que muda as pessoas, e as pessoas mudam a sociedade. Isso mesmo: só precisamos de pessoas e parece que, agora, temos Gente… que foi feita para brilhar e não para morrer de fome.


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ensino híbrido, personalização

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SALET DO AMARAL

Gostei de seu artigo.Lecionei 25 anos escola pública em EREXIM- RS ,E 15 ANOS EM ESCOLA PARTICULAR. Sempre usei da liberdade em minha sala de aula.Trabalhava Português e Redação no ensino médio. As aulas eram variadas em elaboração de jornal
da própria turma,elaboravam a memória da turma( UM DIÁRIO) onde todos escreviam
suas poesias,redações,fotos da turma ,entrevist..Trabalhávamos EDITORIAIS de revista ,jornais,expressão oral co m estes editoriais.Hoje estou aposentada.
salet do amaral

Gilvanice

Amo ler sobre educação e principalmente educação democrática, e sobre os valores hoje trabalhados com os jovens , como também os vídeos relacionados. Parabéns.

Patrícia Cristiane de Oliveira

Penso que a maior dificuldade no uso de novas tecnologias na sala de aula seja a própria escola e a comunidade e não os alunos, porque em varias experiencias relatadas, percebe-se o entusiamo dos alunos. Mas a escola e também os pais não veem essas iniciativas como aula. Gostei muito do texto e abraços.

Aline A F Nogueira

A secretária de Educação do Rio faz um grande ‘de-serviço’ à infância. Acho que a experiência do Projeto GENTE é exceção.

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Aline A F Nogueira

A secretária de Educação do Rio faz um grande ‘de-serviço’ à infância. Acho que a experiência do Projeto GENTE é exceção.

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