Estudantes de Pinheiros (ES) criam livro coletivo para combater bullying - PORVIR
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Inovações em Educação

Estudantes de Pinheiros (ES) criam livro coletivo para combater bullying

Após um caso de automutilação em sala de aula, estudantes capixabas decidiram entender as causas e realizaram diversas ações de acolhimento aos colegas

por Criativos da Escola ilustração relógio 2 de julho de 2019

O que seria apenas mais uma aula de Língua Portuguesa do 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Juracy cardoso Viana, no município de Pinheiros, Espírito Santo, transformou-se em um verdadeiro sinal de alerta de que muitos alunos e alunas precisavam de acolhimento e ajuda psicológica na escola.

Naquele dia, um dos jovens automutilou sua pele com um objeto cortante, surpreendendo os outros colegas, que entenderam que precisavam agir e, assim, criaram o “Livro dos Desabafos”, para ajudar no acolhimento e na ajuda psicológica de quem foi vítima desse tipo de violência e não tinha a quem recorrer. Essa e outras ações integraram o projeto “Sua saúde mental importa” feito a muitas mãos no espaço escolar. O projeto foi um dos finalistas no Desafio Criativos da Escola de 2018.

O caso não é isolado. A autolesão não suicida, como é conhecida clinicamente a automutilação, tem se tornado um problema de saúde pública no Brasil. Além disso, segundo relatório sobre a violência nas escolas realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, em 2018 cerca de 150 milhões de estudantes do mundo todo, com idades entre 13 e 15 anos, relataram ter sofrido bullying no ambiente escolar.

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Solidariedade

Uma das primeiras ideias foi abrir o diálogo por meio de conversas envolvendo todas as turmas do colégio e encorajando-os a falar sobre seus problemas, em um verdadeiro processo de acolhida entre pares.

“Alguns alunos que estavam mais à frente no projeto passaram nas turmas para incentivar outros a contar conosco. Além disso, colocamos cartazes nos banheiros masculinos e femininos com frases de apoio”, relata a estudante Élen Joyce Moreira Pegô, de 15 anos, atualmente estudante do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Nossa Senhora de Lourdes.

A partir dos relatos, os jovens perceberam que um dos principais problemas no colégio era o bullying. Com essa constatação, realizaram uma pesquisa com todos os estudantes sobre o tema e os resultados foram surpreendentes: 62% já haviam sofrido algum tipo de preconceito, que, muitas vezes, estava relacionado também a práticas racistas, machistas e homofóbicas dentro do espaço escolar.

“Se a pessoa não atendia ao padrão de beleza que a sociedade impõe, ela acabava sendo julgada. E isso ocorria muito também pelo racismo, mesmo a maioria [dos estudantes] sendo negra e a minoria branca”, explica Daniely Rodrigues Carvalho, de 15 anos, agora aluna do 1º ano do Ensino Médio do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), localizado no município de Venécia (ES).

Os resultados do questionário também evidenciaram casos relacionados a assédios sofridos pelas meninas, assim como preconceitos contra a orientação sexual de algumas pessoas. “Eu acredito que no fundo de todo agressor tem uma vítima, e a gente foi comprovando isso com o projeto. Os estudantes são criados em um local de agressividade. Eles só reproduzem o que vivem, em casa e no seu meio social, descontam a raiva ou a angústia em outras pessoas”, opina Daniely.

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Ajuda coletiva

Com o resultado em mãos, os estudantes fizeram uma série de ações para ajudar os colegas na resolução de seus problemas. O primeiro deles foi um “livro de desabafos”, que circulou entre as salas e no qual todos puderam relatar anonimamente suas experiências. Além disso, produziram uma “caixa de denúncias”, que coletava denúncias de casos de bullying e assédio. Também realizaram palestras com psicólogos, grafitaram os muros da escola e criaram camisetas do projeto.

Em setembro, mês mundial de combate ao suicídio, receberam os colegas com frases de apoio e com balões amarelos, para que todos se sentissem acolhidos. Também participaram de uma marcha na cidade.

Sementes

Dentro de dois anos, a Escola Municipal Juracy Cardoso Viana não irá mais oferecer aulas para estudantes do 6º ao 9º ano, por conta de questões institucionais. Mas, mesmo separados, os jovens já estão pensando em como disseminar o que aprenderam em outros locais.

“Eu combinei o seguinte com eles: cada um vai levar essa ideia pra onde for. Então, eu tenho um aluno que está estudando em Vitória, por exemplo. Nesses dias, ele me mandou um ‘zap’: ‘professora, eu posso repartir essa ideia que eu faço parte?’. Eu falei: ‘com certeza, você deve’”, contou Cleia Silva, professora de Língua Portuguesa e orientadora do projeto.

Redação: Guilherme Weimann
Edição: Jéssica

*Publicado originalmente no site do Criativos da Escola.


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educação integral, ensino fundamental, socioemocionais

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