Estudar para o Enem: como professores podem ajudar e o que o estudante pode fazer sozinho
Ouvimos especialistas em avaliação e organização dos estudos para reunir recomendações que ajudam o estudante a enfrentar a maratona que vai até janeiro de 2021
por Vinícius de Oliveira 9 de julho de 2020
A confirmação do próximo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para o final de janeiro e início de fevereiro de 2021 resolveu apenas uma das incertezas que rondavam a prova. De agora em diante, professores e alunos finalmente podem estabelecer um cronograma realista para os estudos. Entretanto, ainda não é possível cravar quando alunos e professores voltarão a se encontrar presencialmente, uma vez que a pandemia do coronavírus mantém escolas e cursos pré-vestibulares fechados.
Resumir três anos de ensino médio em dois dias de prova nunca foi tarefa fácil. Agora, com menos tempo de preparação, o caminho para um bom desempenho passa pela realização de uma avaliação diagnóstica pela instituição de ensino, boas devolutivas pedagógicas por parte do professor e uma dedicação do aluno para aprender a se auto-organizar.
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Para entender como educadores podem traçar esse plano de estudo, o Porvir conversou com Daniel Jacuá, gerente de avaliação da Plataforma de Ensino Eleva, e Fábio Mendes, doutor em filosofia com cinco livros publicados sobre o desenvolvimento da autonomia na educação.
Diferente de todas as anteriores, a preparação para o Enem 2020 conta com o ingrediente das aulas remotas. Com a experiência de quem tem realizado aulas de história para turmas que vivem essa ansiedade pelo Enem todos os dias, Daniel afirma que os simulados continuam sendo um sinal de alerta importante para o professor para a retomada. “Eles acabam mostrando quais assuntos, conteúdos ou objetivos de aprendizagem são deficitários para os alunos e como é possível atuar na volta das aulas presenciais”, diz.
O representante da Eleva lembra também que esse é um momento que o educador precisa conversar com seus alunos para calibrar as expectativas e mostrar que o progresso não aparece no simulado ou na redação logo no dia seguinte. “É difícil estar estudando, estudando, estudando e fazendo redação e ver que a nota TRI (sigla para Teoria de Resposta ao Item, a metodologia aplicada pelo Inep na correção do Enem) ainda não muda tanto. É óbvio que o aluno espera uma decolagem, mas ela não é constante e tem todo um processo para acontecer”, avalia Jacuá.
Para lidar com esses altos e baixos, contextualizar com trechos de filmes e quebrar o ritmo de aula também traz benefícios. Na aula sobre História Antiga, ministrada no dia anterior à conversa com Porvir, o professor disse que venceu a resistência de alguns em se manifestar do outro lado do programa de videoconferência quando decidiu por uma aula temática.
“O combinado era que a turma toda tivesse usando roupas e apetrechos romanos, o que no final das contas era só pegar lençol e fazer uma toga. Grande parte apoiou e aí eles ligaram a câmera”, afirma.
E quando estiver sozinho?
Nem sempre online e nem sempre na constância do modo presencial. Para muitos estudantes, estudar para o Enem por conta própria tem colocado à prova sua capacidade de se organizar e criar uma rotina. Essa dificuldade é citada com frequência em pesquisas sobre o momento atual, como foi o caso da “Juventudes e a Pandemia”, que contou com apoio do Porvir.
Diante de uma carga horária menor no ensino remoto, Fábio diz que no momento em que estão estudando sozinhos, estudantes devem concentrar seus esforços em consolidar o que sabem e ter consciência do que eles não sabem. “Eu sou defensor da ideia que o estudante precisa saber formular perguntas. Sempre fomos tratados e acostumados com respostas prontas, mas o aprendizado começa com a dúvida. Várias vezes em sala de aula, não há nem chance para ela aparecer porque a gente já está enfiando conteúdo goela abaixo”, disse.
Para o especialista, a dificuldade dos alunos em estabelecer a rotina de estudos fora de uma sala de aula tem uma origem que vai além da ausência do professor no mesmo ambiente. “Temos um modelo de educação que não forma uma autonomia. Os alunos são acostumados a terem professores ditando o ritmo de conteúdos e também o controle de horário. Tudo é muito regrado”, avalia Fábio, que agora vê alunos diante de um choque de realidade. “Grande parte da dificuldade que eu vejo dos alunos ao fazerem provas como a do Enem, é que eles precisam interpretar coisas que não aparecem exatamente do jeito que o professor ensinou”.
Fazer perguntas que levem a uma reflexão mais profunda, no entanto, não exige que o aluno decore tudo de todas as áreas cobradas no exame. “É natural que ele não saiba tudo. Isso é importante porque senão a gente começa a ficar numa angústia que impede estabelecer uma programação dos estudos. Se a pergunta sobre o que se deve saber tiver tudo como resposta, o estudante vai pensar que é melhor nem começar porque não tem como resolver esse problema”.
Ter bom um bom desempenho, segundo Fábio, depende mais da capacidade de relacionar fatos. “É pegar por exemplo, conteúdos e pensar o que eles têm de diferente ou em comum. É pegar a Revolução Francesa e a Revolta da Vacina. É uma coisa difícil saber a relação, mas essa pergunta tem que ser feita: qual é a relação entre elas? O estudante vai encontra semelhanças, como uma parte da população privilegiada, outra excluída e também uma revolta porque alguém quer o reconhecimento dos seus direitos”, exemplifica.
Por isso, antes de se preocupar em sair decorando apostilas e livros do começo ao fim, candidatos precisam lembrar que o caminho até o final de janeiro de 2021 se assemelha mais a uma maratona do que a uma corrida de 100 metros. Todo apoio é necessário e, diante de um cenário em que o estudo em casa vai ser decisivo, aprender a aprender passou a ser a questão número zero da próxima edição do Enem.
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