Explicar o porquê da aula e entender as expectativas dos estudantes faz a diferença
Professor de engenharia elétrica conta o que fez para envolver alunos em uma atividade mão na massa que cria brinquedos para crianças
por Jalberth Fernandes de Araújo 2 de setembro de 2020
Atualmente, um dos principais desafios do professor é manter o estudante engajado e motivado na experiência de aprendizagem. Nas palestras e cursos que ministro para professores, uma das perguntas que mais aparece é: o que faço para motivar o estudante? Para responder a essa pergunta com clareza, tive que refletir sobre o que causava minha motivação quando eu era aluno.
Comecei a lembrar dos melhores professores que tive. Quando assistia às aulas, reparava em como eles faziam, para um dia eu ser um professor igual ou melhor. Descobri que todos eles tinham algo em comum: faziam a diferença na minha vida. E é justamente isso que hoje me motiva como professor.
Precisamos nos conectar aos estudantes. Estava aí resposta. Pesquisando sobre como motivar as pessoas, me deparei com o livro de Simon Sinek: Comece pelo Porquê. No livro, ele mostra que começar pelo porquê inspira as pessoas a agir. Comecei a testar essa teoria. Começava toda aula explicando o porquê de estudar um determinado conteúdo. Isso fez muito a diferença.
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Quando perguntei aos estudantes se essa postura os motivava a aprender a disciplina, 9 em cada 10 disseram que sim. Isso me transformou como professor. Tinha encontrado uma resposta simples, que, no entanto, não é fácil de ser alcançada. Então, para aumentar a probabilidade de mantê-los motivados, antes de começar a jornada de aprendizagem, passei a perguntar qual sua expectativa com relação à disciplina.
Tentei desenhar uma experiência diferenciada: fiz vídeos aulas e combinei metodologias de ensino e aprendizagem. Eu queria que eles experimentassem fazer a diferença na vida de alguém com os conhecimentos que eles recebiam na disciplina, chamada Dispositivos Eletrônicos. Era novembro de 2018, começando a época de Natal, quando passei na frente de uma entidade filantrópica chamada Casa da Criança Doutor João Moura, que atende crianças. Foi quando tive a ideia de pedir que estudantes desenvolvessem brinquedos eletrônicos educativos para serem doados.
Quando contei a ideia para eles, toparam sem hesitar. Para criar os brinquedos, eles tinham que produzir um vídeo que pudesse ser assistido por qualquer pessoa, fazer um pitch (apresentação rápida) de vendas para identificar uma oportunidade de negócio próprio e entregar um brinquedo na forma de produto para a entidade filantrópica. O objetivo disso era fazer com que eles desenvolvessem habilidades como resolução de problemas, criatividade, inteligência emocional, comunicação e colaboração, que são habilidades demandadas para o presente e futuro.
A atividade também tinha como objetivo de desenvolver cidadãos globais e inclusivos. Não foi fácil motivá-los e encorajá-los a dar o seu melhor. Antes da gente chegar na nossa zona de aprendizagem, a gente passa pela zona do medo. Nela nós temos ansiedade, estresse e medo de fracassar. Isso é normal e é um desafio enfrentado por qualquer pessoa quando está querendo fazer a diferença na própria vida e na vida de alguém. Mas conseguimos! O projeto dura até hoje. Nós impactamos semestralmente mais de 250 crianças com os brinquedos desenvolvidos. Já são cerca de 20 brinquedos feitos com material reciclado ou reutilizável, que são utilizados pelas crianças e professoras.
O que eu fiz de inovador na sala de aula? Comecei pelo porquê. Por que minha prática é considerada inovadora? Porque ela fez e faz a diferença na vida das pessoas. O que me motivou a buscar essa inovação? Querer ser um bom professor que faz a diferença. A diferença que vi na vida de meus alunos após nossa experiência de aprendizagem? A partir de agora eles começam pelo porquê e desejam fazer a diferença. Fui pesquisar o grau de satisfação dos estudantes com a experiência de aprendizagem recebida. Os resultados que obtive foram: 100% recomenda o curso para um colega e 100% acredita que suas expectativas foram atendidas.
Dispositivos Eletrônicos não é uma disciplina que acaba quando termina. Nela, os estudantes não recebem conteúdos para apenas fazer provas, mas têm uma experiência de aprendizagem criativa, memorável e significativa para levar consigo pelo resto da vida. Meu nome é Jalberth, sou professor do curso de engenharia elétrica da Universidade Federal de Campina Grande e, sim, eu acredito que um bom professor faz toda diferença.
Leia mais:
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– Diferenciar, individualizar e personalizar o ensino
– Por que (e para quê) tantas metodologias
– Por que os alunos não aprendem com seus slides
– Planeje sua aula levando em conta a experiência do estudante
Jalberth Fernandes de Araújo
Possui graduação (2012), mestrado (2013) e doutorado (2016) em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG-PB). É professor do curso de engenharia elétrica da UFCG. Apoia professores e estudantes a terem experiências de ensino-aprendizagem criativas, memoráreis e significativas.