Feiras de ciências e engenharia revelam talentos
Em artigo, coordenadora da Febrace destaca importância da educação científica para estimular inovação no ensino básico e técnico
por Roseli de Deus Lopes 17 de julho de 2014
Nos últimos anos, a participação em feiras de ciências e mostras científicas tem mobilizado professores e alunos da educação básica e tem se evidenciado como uma importante estratégia pedagógica para a educação científica e difusão da ciência. Neste contexto, a Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia) assumiu um papel extremamente importante como indutora desse movimento, a partir de sua criação em 2002, como um programa de estímulo à cultura investigativa, à inovação e ao empreendedorismo na educação básica (fundamental e média) e técnica.
Além da divulgação e valorização de jovens talentos para ciências e engenharia e suas pesquisas, as feiras de ciências e mostras abrem novas oportunidades acadêmicas e profissionais, tanto para os jovens como para seus professores orientadores. Constituem-se, portanto, como importantes instrumentos para a melhoria da educação básica e técnica.
A Febrace, desde 2003, realiza anualmente na USP (Universidade de São Paulo), é uma grande mostra de talentos, pesquisas e invenções de jovens pré-universitários de todo o Brasil. Tem como principais objetivos estimular a educação científica por meio novas vocações em ciências e engenharia, além de induzir práticas pedagógicas inovadoras nas escolas.
Nos últimos anos, tem descoberto novos talentos e gerado oportunidades. Sua história é composta por alunos, professores, pais e escolas que juntos mostram à sociedade brasileira que aprendem a aprender, que querer é poder, poder é fazer e que estão prontos para fazer um mundo melhor.
Atento à importância deste movimento, em outubro de 2011, o governo brasileiro lançou a primeira edição de um edital de R$ 7 milhões anuais para apoiar a realização de feiras de ciências e mostras na educação básica em âmbitos nacional, estadual e municipal. Os recursos deste edital têm sido decisivos para a qualificação e ampliação desse movimento.
Igor Ogashawara foi finalista da Febrace por três anos consecutivos e é um exemplo de que a participação em feiras de ciências contribui para a descoberta e desenvolvimento de vocações. bacharel em geografia pela Unesp – Rio Claro (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Campus de Rio Claro), mestre em Sensoriamento Remoto pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), onde fez um mestrado sanduíche com a Universidade da Georgia, nos Estados Unidos, atualmente, é doutorando do curso de Applied Earth Sciences pela Universidade de Indiana. E é ele quem relata seu amor à primeira vista pela Febrace: “Primeiramente, por ela proporcionar o encontro de pessoas, que, assim como eu, tem o sonho de mudar a realidade brasileira através da ciência. (…) Como dizem que o primeiro amor a gente nunca esquece, acredito que nunca me esquecerei das experiências vividas durante minhas três participações na Febrace, que, com certeza, foram essenciais para confirmar as escolhas que eu já tinha feito: de ser cientista e de divulgar a ciência para todos.”
Luan Merida de Medeiros participou da Febrace em 2010 com o projeto “Castanha de Caju: Aplicações Alternativas de suas Propriedades, na área de engenharia. Concluiu o curso técnico em química, na Escola Técnica Getúlio Vargas, em São Paulo. Atualmente, está no quinto ano do curso de engenharia química na Escola Politécnica da USP. “A Febrace me encantou desde a primeira vez em que estive lá (em 2009, como visitante). Quando vi todos aqueles projetos pela primeira vez dentro da USP, minha cabeça se encheu de inspiração e ideias, vontades e a certeza de que no ano seguinte eu iria estar atrás daqueles estandes fazendo a minha parte. Foi também um patriotismo muito grande, pois me mostrou que estou em um país cada vez mais intelectualizado, preocupado com o jovem, com pesquisa, ciência, e que eu realmente posso fazer mais pelo mundo. Atualmente, estudo na USP e todos os anos faço questão de ver ideias brilhantes surgindo por mentes inspiradas, e sempre agrego experiência à minha vida pessoal e à profissional, que começou recentemente”, relatou.
Já Bruno Guilherme Pacci Evaristo participou da Febrace em 2010, quando era aluno do Colégio Albert Sabin, em Carapicuíba (SP), com o projeto “Determinação de Chumbo e Cádmio em Amostras de Chorume e a Influência deste na Germinação e no Desenvolvimento de Sementes de Rúcula”, na área de Ciências Biológicas. Atualmente, estuda engenharia elétrica na Escola Politécnica da USP. Segundo Bruno, a Febrace e a educação científica contribuiram de forma massiva na vida dele, uma vez que, além de me propiciar a chance de participar da feira, o permitiu viajar para a Coréia do Sul para participar do International Science and Engineering Camp 2010 (ISEC 2010). “Lá tive a oportunidade de conhecer alunos de diversos países e das mais diversas culturas, o que abriu minha mente para outros pontos de vista”, disse.
Ao longo de 12 anos de realização, participaram da Febrace estudantes e professores orientadores de mais de 1.000 escolas de todo o país, de mais de 900 municípios diferentes, dos 26 estados e do Distrito Federal. Só em 2014, foram mais de 28.000 estudantes finalistas que participaram de 75 feiras afiliadas, além daqueles que enviaram seus projetos diretamente à Febrace. A cada ano participam aproximadamente 750 estudantes finalistas com seus cerca de 300 professores orientadores.
Um aspecto importante para a disseminação e ampliação do movimento é a visibilidade que alcança pela repercussão na mídia. Foram mais de 1.700 inserções espontâneas na mídia (impressa, eletrônica e web) destacando o talento de jovens cientistas brasileiros. A divulgação de matérias em âmbito nacional proporciona a disseminação e contribui de forma significativa para aumentar o interesse do público estudantil pelas feiras de ciências e por tudo que elas induzem no ambiente escolar.
Para o fortalecimento e qualificação deste movimento em prol da educação científica e desenvolvimento social, é fundamental o engajamento de organizações civis e entidades governamentais públicas e privadas que proporcionem premiações para valorização e estímulo de estudantes e professores. Desde sua primeira edição, a Febrace conta com diversas entidades parceiras que premiam e também seleciona finalistas para outras feiras e competições científica e tecnológicas nacionais e internacionais. Na principal feira internacional, a Intel ISEF (International Science and Engineering Fair), os estudantes brasileiros selecionados pela Febrace já conquistaram 34 prêmios extremamente relevantes para o país.
Roseli de Deus Lopes
Roseli de Deus Lopes é uma pesquisadora de tecnologias aplicadas à educação e professora livre-docente do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Trabalha como pesquisadora no Laboratório de Sistemas Integráveis da USP desde 1988, por meio do qual tem contribuído no desenvolvimento de pesquisas sobre o uso de tecnologias na educação. Em 2003, Roseli criou a feira para estudantes pré-universitários que é referência em movimentos de ciência jovem no Brasil Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), que segue coordenando até hoje.