Global Teacher Prize: professor brasileiro especialista em metodologias ativas é finalista Top 50
Do Amazonas ao 'Nobel da Educação': professor Galileu Pires é reconhecido por projetos sustentáveis que unem ciência, tecnologia e impacto social na escola pública
por Redação
16 de dezembro de 2025
As metodologias ativas e a realização de projetos práticos são estratégias comprovadamente eficazes para o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de inovação dos estudantes. Essas abordagens transformam os alunos em protagonistas ativos na busca por soluções para problemas reais. No entanto, muitos educadores enfrentam dificuldades, pois a sobrecarga na rotina e a escassez de tempo para o planejamento das aulas são um desafio constante.
Para quem busca inspiração e exemplos de sucesso para transformar a cultura da sala de aula, vale conhecer a trajetória do professor Galileu da Silva Pires. Ele acaba de ser selecionado entre os 50 finalistas da edição 2026 do Global Teacher Prize, prêmio conhecido como “Nobel da Educação”. A premiação é uma iniciativa da Fundação Varkey em colaboração com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Galileu leciona biologia na Escola Estadual José Mota e na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru (AM), e tem se destacado em premiações nacionais, como o Solve for Tomorrow, da Samsung, do qual já foi finalista diversas vezes ao orientar projetos de estudantes que unem ciência, tecnologia e saberes locais.
📳 Inscreva-se no canal do Porvir no WhatsApp para receber nossas novidades
Da reativação do laboratório à cultura de projetos na escola pública
Formado em engenharia mecânica e biologia, com mestrado em ecologia, o educador começou sua carreira na docência em 2016. Naquela época encontrou o laboratório da Escola Nossa Senhora de Nazaré fechado e alunos sem qualquer contato com práticas de iniciação científica. Após uma conversa com o gestor, reativou o espaço.
“Cheguei a Manacapuru sem conhecer ninguém. Aos poucos, fui organizando o laboratório e levando os alunos para as aulas práticas, além de incentivar os colegas a fazerem o mesmo. Foi em 2019, com minha primeira participação no programa Solve for Tomorrow — já conquistando o primeiro lugar no júri popular —, que meus colegas e alunos se sentiram mais motivados”, disse Galileu.
Esse momento impulsionou a escola rumo a competições científicas e ao uso de metodologias ativas como STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) e o STEAM (que insere artes e criatividade) por meio aprendizagem baseada em projetos (aprender a teoria resolvendo desafios reais). Essa mudança instaurou uma cultura de ação coletiva, na qual os alunos deixaram de ser espectadores para se tornarem agentes capazes de criar soluções reais para os problemas locais.
O resultado de maior engajamento na vida do professor veio rapidamente:
- Venceu o prêmio Solve for Tomorrow 2019 na categoria nacional com o projeto “Fibras de algodão a partir de escamas de peixe”, uma fibra natural sustentável inédita no mundo, utilizada para ecopapel e aplicações médicas.
- Figurou entre os 10 melhores professores em diversas competições nacionais com inovações voltadas às mudanças climáticas, à sustentabilidade e à saúde — incluindo o fogão híbrido, a máscara canguru e um sistema contra a covid-19, desenvolvidos durante a pandemia.
- Foi reconhecido internacionalmente pelo inovador “Indicador de Saúde Feminina Jaci”, o primeiro absorvente do mundo capaz de medir o pH menstrual para auxiliar na detecção de condições de saúde da mulher, uma inovação que combate a pobreza menstrual e promove dignidade nas escolas.
Em sua iniciativa mais recente, na Escola Estadual José Mota, orientou o projeto ArapainaAtivo para enfrentar a falta de água potável em comunidades ribeirinhas, agravada pela seca. A iniciativa reaproveita ossadas de pirarucu, que normalmente seriam descartadas, para produzir carvão ativado usado em um biofiltro de água. Após testes e análises laboratoriais, o sistema mostrou-se capaz de transformar água do rio em água própria para consumo, unindo aprendizado científico, sustentabilidade ambiental e impacto social.

Significado do reconhecimento internacional
Ao falar do reconhecimento por estar entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize, Galileu diz que motivar os estudantes é a chave de sua atuação como docente. “Para mim, o mais importante é manter a motivação e a paixão dos alunos por suas pesquisas. Um aluno motivado e apaixonado pelo que investiga é capaz de enfrentar qualquer dificuldade para alcançar seu objetivo: encontrar a resposta para a pergunta que orienta sua pesquisa”.
Ele também afirma que, mesmo em um ambiente com poucos recursos, a inovação pode florescer, especialmente quando está aliada ao compromisso com a justiça social. “Conseguir enxergar soluções para os problemas sociais principalmente os ambientais é a conexão fiel da minha profissão e do meu eu como cidadão. O que me faz diferente é ser inquieto com os problemas e querer agir, transformando tudo isso em aulas”, afirma.
Se vencer o prêmio de US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhõe) do Global Teacher Prize, pretende criar um Centro de Reabilitação Auditiva e investir em seu doutorado. Para ele, a nova titulação acadêmica estratégica para transformar a realidade escolar da Amazônia, baseado na ideia de que “o conhecimento só tem valor quando democratizado”.
Para além da sala de aula, Galileu liderou diversas ações comunitárias, algo comum entre finalistas e vencedores do Global Teacher Prize. O professor organizou um programa pré-vestibular gratuito entre 2016 e 2019, focado em jovens em situação de vulnerabilidade, enquanto oferecia cursos gratuitos de robótica para estudantes das zonas rural, urbana e indígena. Além disso, ele organizou o Campeonato de Robótica de Manacapuru, garantindo a participação inclusiva de estudantes com deficiência, e ainda promovia aulas gratuitas de música, estimulando o enriquecimento cultural e o engajamento comunitário.
Impacto além da sala de aula
Sua liderança também contribuiu significativamente para a valorização da profissão docente. Como representante da Amazônia no STEM Tech Camp Brasil — uma iniciativa estratégica fruto da parceria entre a Embaixada dos Estados Unidos e o Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico da USP (Universidade de São Paulo), com o objetivo de fomentar a aprendizagem ativa e a educação STEAM nas redes públicas de ensino —, ele se tornou multiplicador da formação STEAM em todo o estado.
Desde sua primeira conquista em nível nacional, cerca de 70% de seus colegas passaram a participar de competições científicas, impulsionados por sua mentoria. O sucesso dos estudantes que orienta também chama atenção: 90% daqueles que participaram de seus projetos ingressaram na universidade.
Siga o professor Galileu Pires no YouTube e Instagram.
Conheça os finalistas do Global Teacher Prize 2026
* Conheça a classe dos 50 finalistas do Global Teacher Prize de 2026, educadores que, com criatividade e tecnologia, estão promovendo inclusão e transformando comunidades em todo o mundo. Inspire-se com suas histórias.
Vencedor em 2025: educação como transformação social
O professor saudita Mansour Al-Mansour, conhecido por ensinar prisioneiros a ler e escrever, também lidera iniciativas sociais focadas em educação financeira e mudança climática. Sua trajetória começou em 2001, em uma escola sem estrutura, onde transformou uma cozinha em sala de aula.
Atualmente, trabalha na Escola Prince Saud bin Jalawi, em Al-Ahsa, defendendo uma educação centrada no estudante, com foco em projetos, experiências práticas, pensamento crítico e no uso da inteligência artificial. Autor de mais de 20 livros e criador de programas de alfabetização, empreendedorismo jovem e desenvolvimento de habilidades do século 21, o professor acredita que transformar obstáculos em oportunidades é um dos papéis mais importantes que desempenha na educação.
Histórico do Global Teacher Prize
O prêmio tem um histórico de homenagear professores que transformam vidas em contextos desafiadores:
- 2023: Sister Zeph (Paquistão) – Fundou uma escola para crianças carentes no pátio de sua casa aos 13 anos.
- 2021: Keishia Thorpe (EUA) – Focou no acesso ao ensino superior para imigrantes, refugiados e alunos de baixa renda.
- 2020: Ranjitsinh Disale (Índia) – Transformou a educação de meninas em uma comunidade rural.
- 2019: Peter Tabichi (Quênia) – Professor de ciências que doa 80% de sua renda aos pobres.
- 2018: Andria Zafirakou (Reino Unido) – Atua em uma das áreas mais diversas e desfavorecidas de Londres.
- 2017: Maggie MacDonnell (Canadá) – Trabalho em comunidades remotas e indígenas.
- 2016: Hanan Al Hroub (Palestina) – Abordagem focada na não-violência e paz.
- 2015: Nancie Atwell (EUA) – Vencedora inaugural, pioneira no ensino de alfabetização.





