‘Inovar é resgatar as brincadeiras tradicionais’
Especialistas em primeira infância defendem tempo livre para brincar como ferramenta importante de aprendizado
por Vagner de Alencar 27 de abril de 2012
Ferramentas tecnológicas têm tomado cada vez mais conta das salas de aula e se tornado sinônimos de inovação e modernidade na educação. Recentemente, o governo federal destinou R$ 180 milhões à distribuição de tablets para professores do ensino médio. Mas quando o assunto é educação na primeira infância, como inovar? Especialistas nessa etapa da vida defendem que tempo para brincar livremente é importante para o aprendizado.
“Curiosamente, o que tem de mais inovador atualmente são as brincadeiras tradicionais. Hoje, as escolas têm pouco espaço para que as crianças brinquem. Embora as pessoas tendam a ver a brincadeira como um lugar à parte, é justamente nestes momentos que acontece boa parte do processo de ensino e aprendizagem”, afirma Marcos Ferreira Santos, professor de Educação da USP (Universidade de São Paulo) e membro da Aliança pela Infância.
Para o especialista, a brincadeira de uma criança equivale, por exemplo, ao trabalho de um cientista. “Imagine um cientista em seu laboratório, enquanto desenvolve um experimento químico. Ele tem que imaginar situações, ver se aquilo funciona ou não”, compara. “Por meio das brincadeiras, as crianças estão aprendendo, experimentando coisas, descobrindo outras possibilidades.”
Mexer na areia, tomar banho de mangueira, se sujar com lama, correr, brincar ao ar livre e ter contato com os animais são algumas das atividades consideradas importantes para o processo de aprendizagem infantil.
Segundo Santos, em geral, os adultos reconhecem apenas a sala de aula como espaço para aprender. “O problema em muitas escolas é o curto intervalo para atividades livres, normalmente de 15 a 20 minutos.” Ele acredita que uma das alternativas para inovar é ampliar esse tempo: “Às vezes, algo é inovador porque abre espaço para essas brincadeiras tradicionais. Quanto mais espontânea, mais verdadeira é a aprendizagem”.
A fala de Santos é reforçada também por Gandhy Piorski, especialista em brincar que discursou na Premiação Programa Pelo Direito de Ser Criança, que condecorou escolas brasileiras que reconhecem a importância do brincar e do aprender pela experiência. “Diante do universo que temos hoje, a proposta pedagógica deve ter no seu cerne o respeito ao movimento da criança. ”
Os dois especialistas fizeram parte do corpo de jurados do prêmio. O Porvir esteve presente no evento e conheceu alguns projetos, leia a matéria aqui.