Leitura ajuda estudantes a nomear emoções - PORVIR
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Inovações em Educação

Leitura ajuda estudantes a nomear emoções

O contato com livros e a possibilidade de vivenciar experiências é uma maneira de auxiliar estudantes a nomear e compreender suas emoções

Parceria com Árvore

por Ruam Oliveira ilustração relógio 2 de setembro de 2022

Nem sempre, mesmo sendo adultos, nomear emoções é uma tarefa fácil. No livro “Tenho Monstros na Barriga”, de Tonia Casarin, o menino Marcelo conhece monstrinhos que representam emoções como alegria, raiva, medo, ciúmes. Como lidar com elas?

Publicações como essa podem ser boas ferramentas para trabalhar competências socioemocionais em sala de aula. Na retomada das aulas presenciais, muitas crianças e jovens voltaram ao ambiente escolar apresentando agressividade ou ansiedade. É, portanto, momento importante para tratar do tema.

Livros geralmente têm esse feito de estimular pessoas a pensarem sobre outras vivências. “A leitura promove essa experiência”, aponta Laís Rodrigues, consultora da área pedagógica da Árvore. Ela explica que, por exemplo, as crianças podem não estar necessariamente vivendo uma situação de bullying, mas ao ler a respeito conseguem identificar situações semelhantes.

Outro ponto importante: há também a possibilidade de autoconhecimento e de reconhecimento por meio dos personagens propostos nas narrativas.

Emoções costuradas

A professora Eliane Fagundes, do Colégio Santo Antonio de Lisboa, em São Paulo (SP), usou o livro de Tonia Casarin para abordar emoções com sua turma. Ela não só trouxe o texto, como também confeccionou bichinhos em diferentes formatos e cores para os alunos do primeiro ano. “Quando voltaram da pandemia, percebemos que as crianças estavam mais fragilizadas e sentimos a necessidade de resgatar essa questão e focar no acolhimento”, conta a professora.

Os bichinhos costurados pela professora foram nomeados pela turma de primeiro ano como “Monstrinhos da concentração”.

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Apesar de existir certa dificuldade em nomear tais emoções, ter esse tipo de elemento associado à leitura auxilia as crianças a criar associações. A professora Eliane conta que os próprios alunos já pedem os monstrinhos “para ajudá-los nas atividades”.

Leitura e empatia

A leitura não apenas possibilita encontrar novas experiências, como também explorar aspectos muito variados das emoções. Laís reforça que a empatia, por exemplo, é uma competência que pode ser mais abordada, para que os professores desenvolvam mais segurança para lidar com os sentimentos.

A empatia trabalha questões como respeito, algo muito importante dentro do ambiente escolar, ressalta a consultora. “É uma maneira de desenvolvê-la por meio da leitura”, explica Laís. E a ciência comprova essa afirmação. Uma pesquisa da Universidade de Toronto, no Canadá, mostra que ler ficção, de fato, fomenta a empatia, pois transferimos as emoções dos personagens para a vida real.

“Os escritores não precisam descrever cenários de modo exaustivo, só têm de sugerir uma cena e a imaginação do leitor fará o resto”, explica Keith Oatley, psicólogo e romancista responsável pelo estudo. “Quando lemos ficção, nós nos tornamos mais aptos a compreender as pessoas e suas intenções”, complementa Keith, que também é professor emérito em psicologia e desenvolvimento humano da universidade canadense.

Quando o educador conhece bem a própria turma, pode criar estratégias mais eficazes para lidar com esses temas. “O professor pode começar a mapear quais habilidades ele sente que precisa investir mais. Quem conhece a turma vai saber que tipo de situação que os alunos vivem, quais tipos de situação que os estudantes não estão sabendo lidar bem”, afirma Laís. “Mapeando essas habilidades, ele consegue encontrar literatura [para debater o assunto]”, complementa.

Conexões com a realidade

A abordagem mais lúdica, principalmente com crianças menores, é facilitada por diversas representações, como o caso dos “monstrinhos”. Mas a leitura, de uma maneira mais ampla, consegue atingir diferentes públicos, de idades variadas.

“A leitura ajuda demais porque tem essa capacidade de transportar a gente para outro mundo. A criança que não consegue falar como está se sentindo em primeira pessoa, fala como personagem. Ela tem essa capacidade de se colocar empaticamente no lugar do personagem”, comenta a professora Eliane.

Seja com livros, redes sociais ou vídeos, trabalhar emoções não é uma tarefa fácil, mas necessária para os dias de hoje.

Pedro Bandeira, premiado autor de literatura infantojuvenil, costuma dizer que os livros são para que o leitor se identificar com os personagens. “A literatura faz com que a gente sofra na pele, sem precisar sofrer na realidade”, afirma, em entrevista ao portal G1. Essa identificação, também pontuada pela professora Eliane em seu trabalho com os “monstrinhos de concentração”, repete-se em debates que envolvem leitura e habilidades socioemocionais.

As obras de Pedro, bastante trabalhadas em sala de aula do fundamental 2, contam com temas variados. Na entrevista ao G1, ele conta que sua preocupação maior ao escrever um livro é saber como retratar as transformações da infância para a vida adulta. “Nessa idade, a gente entende que não é mais papai e mamãe que cuidam da gente, teremos que ser nós mesmos. Nós vamos ter que nos virar. Então isso é uma coisa que um autor como eu, que está ligado à educação, tem de pensar. Tenho que pensar no meu leitor. Esses meus livros tratam desse ser humano, desse novo ser humano que somos todos nós”.

Ao tratar das emoções em sua obra para os jovens, Pedro ressalta que precisa trabalhá-las de uma maneira interessante e engraçada, sem saber que está sendo ensinado. “Ele está lendo só para se divertir. Só que, enquanto ele se diverte, ele vai ter compreensões, ele vai se compreendendo melhor.”

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leitura, socioemocionais

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