MIT, USP e ITA levam design social a comunidades de SP - PORVIR

Inovações em Educação

MIT, USP e ITA levam design social a comunidades de SP

Evento que dura um mês vai a três favelas tentar produzir tecnologias que ajudem no desenvolvimento local

por Patrícia Gomes ilustração relógio 3 de julho de 2012

Estudantes de universidades como MIT, ITA e USP, engenheiros, designers e jovens profissionais das mais diversas formações se uniram a pessoas vindas de comunidades de baixa renda de todo o mundo para passar o mês de julho no Brasil. Férias? Não, longe disso. Eles são os cerca de 70 participantes do IDDS, Encontro Internacional de Design para Desenvolvimento Social, um evento anual que propõe uma experiência de imersão que, nesta edição, visa desenvolver soluções para problemas cotidianos de três comunidades de regiões vulneráveis de São Paulo ­­– Jardim Keralux, perto da USP Leste, Bairro dos Freitas, próximo ao ITA, e Dois Palitos, em Embu.

Serão quatro semanas de, como os organizadores gostam de enfatizar, mãos na massa. Baseado na USP Leste, o evento teve o pontapé inicial dado ontem. Agora, pessoas do mundo inteiro correm contra o tempo para se conhecer, entender as capacidades e habilidades uns dos outros e formar grupos que desenharão protótipos para responder a alguma necessidade local. Tudo isso até 31 de julho. Mas o desafio não se restringe ao espaço de tempo apertado. Não basta aos participantes resolver o problema até o final do mês. É preciso que as soluções propostas utilizem tecnologias simples, acessíveis para a comunidade e possam ser incorporadas pelos moradores quando o evento acabar.

MIT leva design social a comunidades de SPHP Photo / Fotolia.com

“É por isso que a gente bate muito na tecla da continuidade. Os projetos não podem morrer quando o pessoal do IDDS for embora”, diz Miguel Chaves, engenheiro formado pela USP e organizador do evento no Brasil. Para tanto, explica o brasileiro, é fundamental a participação das pessoas da comunidade na criação dos protótipos, já que, quando elas cooperam em todas as etapas do processo, se sentem mais donas e responsáveis pelo que está sendo elaborado. Esse papel é reforçado por participantes vindos de várias regiões de baixa renda do mundo, como Índia e países da América Central, que já participaram de outras edições do evento e agora vêm compartilhar experiências.

“Estamos preocupados em desenvolver as pessoas, não apenas tecnologias”, complementa Amy Smith, idealizadora do IDDS e do D-Lab (no MIT), eleita pela Time uma das cem pessoas mais influentes do mundo em 2010. Amy falou para o Porvir descalça, na área comum de um hostel simples localizado na República, centro de São Paulo, já em plena atividade pouco depois das 7h. “Você olha em volta e vê um monte de gente diferente. A diversidade é muito importante para a inovação.”

O primeiro IDDS nasceu da frustração que eu tinha toda vez que participava de uma conferência tradicional. Reuníamos pessoas inteligentes num encontro, eles passavam dias falando, falando… e não faziam nada

Essa perspectiva de engajar as comunidades nos projetos, conta Miguel, começou a ser trabalhada na edição de São Paulo muito antes do encontro. Primeiro, ele e sua equipe contaram com a ajuda de agentes comunitários de saúde que atuam nos locais, conhecem as pessoas e têm a confiança delas para ajudar a identificar aquelas que têm o chamado “espírito IDDS”: vontade de promover a mudança, abertura a aprender coisas novas e compartilhá-las, entusiasmo e aposta na tecnologia. Com esse time recrutado, os organizadores brasileiros começaram a entender as oportunidades ­– e não demandas, frisa Miguel – de design social para desenvolvimento naquela comunidade.

Uma das já identificadas, exemplifica Miguel, é que o chão das casas, nas comunidades anfitriãs, é feito de terra batida, o que provoca um grave desconforto térmico – no frio, é muito frio; no calor, é muito quente. Uma proposta para o IDDS pensar nos próximos dias é desenvolver formas de revestir esse assoalho com algum material que seja mais barato que os pisos de cerâmica tradicionais e que seja acessível para esses moradores. “Pode ser uma espécie de carpete, quem sabe?”, fala o organizador, deixando a dúvida e as possíveis respostas para os workshops das próximas semanas.

Como o trabalho dura um mês inteiro, alguns participantes das comunidades recebem uma bolsa. No mais, o IDDS é financiado por algumas empresas, mas, a maior parte das ações, dizem os organizadores, se baseia no trabalho de voluntários que acreditam no projeto.

Protótipos, não artigos

Desde o primeiro IDDS, em 2007, o evento vinha sendo realizado em universidades americanas que apoiavam a iniciativa. Mas, diante da necessidade de estar mais próximo das pessoas a quem os protótipos se endereçavam, no ano passado, o IDDS ocorreu em aldeias de Gana em um formato parecido com o encontro de São Paulo.

“O primeiro IDDS nasceu da frustração que eu tinha toda vez que participava de uma conferência tradicional. Reuníamos pessoas inteligentes num encontro, eles passavam dias falando, falando… e não faziam nada. As discussões só resultavam em publicações e nunca em coisas práticas”, conta Amy, que organizou o primeiro encontro com o objetivo de fazer protótipos e não artigos. Ao longo dos anos, cada evento acabou se desenvolvendo com uma característica específica. Sobre o deste ano, Amy diz ser o primeiro voltado para desafios de áreas pobres urbanas, mas que seu formato vai ser descoberto aos poucos. Apesar de tudo que ainda está por vir, a engenheira diz ter uma certeza: “v-a-i s-e-r i-r-a-d-o”, diz ela, em bom português.


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