Na educação bilíngue, expressão oral deve guiar atividades presenciais e online - PORVIR
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Inovações em Educação

Na educação bilíngue, expressão oral deve guiar atividades presenciais e online

Em tempos de pandemia, escolas e educadores precisam apostar em uma diversidade de recursos para promover a interação entre estudantes e a prática de língua estrangeira

Parceria com Edify

por Luciana Alvarez ilustração relógio 12 de março de 2021

Após um 2020 praticamente todo remoto, o início deste novo ano letivo experimentou um sistema misto (enquanto a pandemia ainda não tinha voltado a se agravar): alguns alunos e professores participam das aulas dentro de sala, enquanto outra parcela de alunos acompanham de casa. Essa nova configuração tem se mostrado especialmente desafiadora para professores de língua estrangeira, que precisam dar espaço para os alunos se expressarem, independentemente de onde eles estiverem.

Longe do desejável, o modelo que coloca simultaneamente alunos presenciais e online é uma necessidade para o momento. Professores de todas as disciplinas estão passando por experiências até então inéditas na educação básica, afirma André Hedlund, mentor dos programas Edify e mestre em psicologia da educação pela Universidade de Bristol, no Reino Unido. “Só havia registro no ensino superior, com adultos, que têm mais autonomia e autorregulação. Esse formato cria um desafio logístico imenso. Nem podemos chamar de ensino híbrido, porque o híbrido tem momentos específicos e separados com os estudantes presencialmente e depois online. Já esse modelo divide a atenção do professor”, afirma.

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Para a professora Larissa Lima do Carmo, que dá aulas de língua inglesa no Colégio Degraus, em Goiânia (GO), o material didático digital tem sido a chave para conseguir atender a todos de maneira satisfatória. “O material é como o do livro, mas dentro deles há jogos, vídeos, quizz. Esse conteúdo, rico, ajuda bastante. Além disso, os alunos que estão em casa conseguem se situar melhor, saber o tempo todo o que está acontecendo e não entram em desespero”, afirma ela, ao comparar a experiência que teve antes de adotar os recursos digitais.

Outra grande vantagem, relata Larissa, é a correção instantânea dos exercícios. “Antes eu tinha que preparar slides, contar que eles iam fazer a correção. Agora, eu aperto um botão e eles podem checar se o que fizeram está correto”, conta. Ela dá aulas nesse esquema que combina casa-escola para turmas de terceiro, quarto e quinto anos do ensino fundamental. Para alunos mais velhos, de sexto a oitavo, a escola fez turmas separadas só para alunos em aulas presenciais, outras só para alunos online.

Ainda que plataformas ajudem a gerir a turma e tornar a aula mais rápida e mais interativa, garantir que os alunos se expressem depende do jogo de cintura do professor. “Tem vezes que estou atendendo um aluno do online e dois do presencial começam uma conversa paralela. Fica difícil entender. É muita demanda ao mesmo tempo”, diz. A prática da conversação e expressão oral traz ainda outro complicador: os alunos que estão em casa não ouvem o que os colegas de sala falam, pois não há microfone para todos. “Estou sempre mediando as conversas. Mas já combinei com os alunos do online e faço um sinal com a mão, para saberem quando é a vez deles lerem um trecho do texto, por exemplo”.

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Do tecnológico ao pedagógico
O planejamento das aulas que atendam ao mesmo tempo alunos remotos e presenciais deve começar por um reconhecimento do “terreno”, recomendam especialistas. O professor precisa saber qual parcela da turma estará presente e qual estará online, se terá apoio de algum assistente e a partir de qual dispositivo os alunos online vão acompanhar as aulas – para saber se os programas propostos funcionam bem.

O professor deve buscar maneiras de aumentar o tempo de fala e do trabalho colaborativo entre os alunos

No caso específico da educação bilíngue, os professores precisam ainda ter uma atenção especial para evitar que dominem o tempo de fala. “Estamos ensinando as crianças a ouvir, compreender e falar. A sala de aula não deveria ser centrada no professor; não podemos voltar para um modelo de aula assim. O professor deve buscar maneiras de aumentar o tempo de fala e do trabalho colaborativo entre os alunos”, diz André Hedlund, do Edify.

A dica de André é usar e abusar de recursos diversos com os alunos que estiverem distantes: vídeos, jogos, materiais pré-gravados, fazendo rotação de atividades. Os docentes devem também aproveitar as plataformas digitais para coletar dados sobre o que os alunos já sabem bem e onde estão as dificuldades, para assim poder personalizar o ensino.

E quanto maior a autonomia conquistada no processo de aprendizagem, mais fácil será a condução de uma aula mista. Nesse ponto, escolas bilíngues podem até ter alguma vantagem pedagógica. “Cérebros bilíngues tendem a ter ganhos cognitivos relacionados à autorregulação. Mas há um espectro muito grande de escolas bilíngues e nem todas de fato exploram a autonomia”, explica.

Em escolas que trabalham mais com projetos ou onde os alunos estão mais acostumados a fazer rotação de atividades em diferentes estações de trabalho, a nova dinâmica tende a correr melhor. Os professores podem, por exemplo, deixar os alunos presenciais realizando alguma atividade prática, trabalhando autonomamente, enquanto atende aos alunos que estiverem online.

Diversificação é tudo
Carla Xavier, professora doutora na Universidade de Surrey, na Inglaterra, e fundadora da plataforma de formação Educantes, lembra ainda que cabe ao professor escolher o ritmo que ele quer dar à turma. E tanto pode escolher deixar os alunos caminharem em ritmo próprio, como estabelecer ele mesmo o passo em que precisam fazer as atividades. De qualquer forma, em qualquer modelo, ele nunca deve abrir mão de incluir possibilidades de discussão, adaptação, interação e reflexão em suas aulas.

Uma dica prática é nunca passar vídeos que durem mais de 15 minutos, em qualquer idade ou disciplina. “Se seu aluno normalmente fica atento a uma explicação de até meia hora, se ele estiver no online o tempo de atenção vai ser a metade”, afirma.

Ela também recomenda que se faça o que chama de “brain breaks”, algo como pausas mentais, para evitar a fadiga e descontrair. “Eu sou fã de alguns apps de aprendizado para essas atividades curtas. Se eu começo com uma atividade de interpretação de texto, depois faço um pequeno jogo de vocabulário antes de passar para a próxima. Meu alunos adoram quando passo um “emoji translate”: faço em emojis uma expressão idiomática como cavalo dado não se olha os dentes”, cita.

Assim como o formato das aulas são diferentes, a avaliação também precisa ser diversificada, recomenda Carla. “O professor tem que manter o aspecto avaliativo, mas não dá para fazer da maneira que fazia antes. A avaliação tem que ser mais curta, interativa e progressiva”, afirma. Ela cita que, se o conteúdo são verbos irregulares no presente, o professor pode dar uma explicação (no momento ou em um vídeo gravado) e já fazer um quizz – para quem estiver presente ou online. “Você tem a estatística na hora de quem acertou, o quanto acertou e já pode ir para a próxima aula sabendo quais são as dúvidas.”

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