Não basta jogar o currículo, diz professor finlandês - PORVIR
Crédito: City of Helsinki Education Department

Como Inovar

Não basta jogar o currículo, diz professor finlandês

Porvir conversa com educador para ampliar a discussão sobre as mudanças no sistema educacional da Finlândia

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 9 de abril de 2015

Quando entrar em vigor em agosto de 2016, o novo currículo finlandês que reforça o ensino de competências em detrimento do conteúdo promete mudar o jeito de pensar dos alunos e também o papel de professores dentro da sala de aula. No lugar de um conteúdo que vai do quadro negro para o caderno e depois é replicado na prova, a aprendizagem terá como objetivo final despertar a criatividade e o pensamento crítico.

Após publicar a entrevista com Marjo Kyllonen, secretária de educação de Helsinque, a capital da Finlândia, Porvir conversou com Petteri Elo, professor da Hiidenkivi Comprehensive School (1º a 9º ano) para ter uma visão sobre o que acontece dentro das escolas. Além da experiência de 13 anos em sala de aula, Elo se mostra um entusiasta das novidades e faz parte de um grupo que visita instituições de ensino para conversar com educadores. “Se apenas jogarmos o currículo para os professores, a mudança não vai acontecer”, explica.

CurriculoFinlândia_interna1Crédito: Arquivo Pessoal

 

Por isso, Elo detalha nos encontros com colegas ao longo dos últimos dois anos como tudo deve acontecer na sala de aula. “Tradicionalmente, ficamos felizes quando os alunos aprendem fatos e tiram A na prova, mas agora tentaremos provocá-los a usar sua capacidade cognitiva mais elevada”, diz. Nas chamadas aulas de fenômenos, obrigatórias segundo o novo currículo, professores terão que desenvolver projetos interdisciplinares de longa duração por pelo menos duas vezes ao ano.

Segundo o docente, para que o novo formato de aula seja bem-sucedido, é importante que os professores tenham uma boa noção sobre como o processo vai se desenvolver. “No início, quando esse tipo de didática for uma novidade, é essencial que se pratique com os estudantes como construir um processo investigativo de qualidade, o que é preciso para fazer boas perguntas, como elaborar uma hipótese, como avaliar diferentes fontes e construir conhecimento de forma colaborativa”, exemplifica.

Elo defende que professores tenham menos preocupação com o pré-aula e maior atenção ao desenvolvimento do processo. “Se falamos em mudar o modelo de fatos para competências, não acho que a aula deve ser preparada. O principal é que os estudantes saibam qual é o objetivo do que se está aprendendo e exercitando”.

Em 2016, a liberdade que a Finlândia dá a cidades e escolas chegará de maneira mais evidente à sala de aula. Elo explica que a decisão sobre os tópicos a serem discutidos durante as aulas de fenômenos segue uma via de mão dupla e cabe tanto a professores quanto aos próprios alunos, visto que o foco muda do conteúdo, mas nas habilidades. “Algumas competências são específicas a disciplinas como química ou história e outras são universais, como pensamento crítico ou comparação”, diz.

CurriculoFinlândia_interna2Crédito: City of Helsinki Education Department

 

Certos professores, no entanto, ainda demonstram certa resistência. “Uma professora de química de uma escola secundária disse que cada conceito de química é muito importante e que ela não pode deixar nada de lado, porque os alunos não vão aprender o suficiente. Meu ponto é que o currículo deve se concentrar em pontos principais e nos tópicos que desenvolvam maior reflexão”.

Histórias como essas, justifica, devem ser resolvidas com um maior debate dos protagonistas, leia-se diretores e professores, sobre a pedagogia levada às aulas. Elo considera que Helsinque ainda tem muitos diretores que não falam do assunto com suas equipes e que isso ainda é o maior foco de problemas. “Os diretores precisam mostrar o que o currículo traz de novo e saber como organizar as coisas dentro das escolas para que professores possam aprender uns com os outros”. E vai além: “Temos que dizer aos professor: ok, você está fazendo um bom trabalho, mas isso não é o bastante. Agora precisamos mais”.

Assim que o novo currículo chegar às escolas, Elo diz que o foco de seu trabalho estará em como melhorar métodos de avaliação. Ainda neste ano, ele conta que irá aos Estados Unidos para contar sobre a experiência finlandesa a líderes educacionais do estado da Virgínia.


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aprendizagem baseada em projetos, competências para o século 21

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