Não ensine determinação. Incorpore
Michael Horn, especialista em inovação, discute a importância de um modelo de ensino baseado em competências e que consiga desenvolver a autonomia dos estudantes
por Michael Horn 5 de setembro de 2016
Em seu novo livro, o jornalista Paul Tough escreve que os educadores que melhor desenvolvem habilidades não-cognitivas – ou de caráter –, como determinação, em estudantes dificilmente mencionam esses termos em sala de aula. Trata-se de uma observação que chamou a atenção e conquistou admiradores como o colunista do jornal The New York Times David Brooks.
Mas o que faltou ser dito é como o sistema de educação atual trabalha de forma sistemática contra o ensino de tais habilidades, e como poderíamos proporcionar naturalmente o desenvolvimento de determinação nos estudantes – de maneira que não se fale abertamente sobre isso – ao adotar um sistema de aprendizado baseado em competências.
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No modelo atual, o tempo é a constante e o aprendizado de cada estudante é a variável. Estudantes avançam de conceito em conceito após dedicarem um número fixo de dias, semanas ou meses em um tópico. Os educadores ensinam, às vezes aplicam provas, e levam os estudantes para a próxima unidade, seja lá qual for o desempenho, esforço ou entendimento da classe sobre o assunto. O retorno e os resultados são feitos muito tarde, só depois que os alunos já tenham progredido.
O sistema também envia ao estudante sinais confusos, dizendo que ele precisa avançar mesmo se ainda estiver dedicado a algum assunto. Essa abordagem compromete o valor da determinação assim como o desenvolvimento de habilidades não-cognitivas, como a autonomia e a curiosidade, por ignorar o potencial de recompensar estudantes que passam mais tempo em um determinado assunto. Isso também causa desmotivação, pois muitos estudantes ficam entediados quando não trabalham em conceitos que parecem mais fáceis, ou os deixam para trás quando não entendem o conhecimento base e ainda assim a aula continua. Como consequência, são criadas lacunas em seu aprendizado.
Compare isso com um modelo de aprendizado baseado em competências, em que o tempo se torna a variável e aprendizagem é a constante. Os alunos só avançariam a partir do momento em que demonstrassem claramente que dominam os conhecimentos e habilidades. Se não, tudo bem. Eles continuam em uma tarefa, aprendem com os erros, trabalham até demonstrar domínio e, então, seguem em frente.
Sem falar sobre determinação e perseverança, o aprendizado baseado em competências incorpora a construção dessas habilidades no seu projeto e na prática.
Mudar para um ensino baseado em competências pode ter um outro benefício para melhorar nosso entendimento sobre determinação e outras habilidades não-cognitivas. Uma questão principal no setor atualmente é como avaliar habilidades como determinação para ajudar estudantes a ampliá-las. Alguns querem usar esses parâmetros para mostrar toda a qualidade de uma escola. Mas isso é um risco. Angela Duckworth, professora de psicologia da Universidade da Pensilvânia, que já escreveu muito sobre determinação, alerta que “não estamos nem um pouco preparados – e talvez nunca ficaremos – para usar demonstrações de personalidade como uma métrica para avaliar a eficiência de professores e escolas”.
Entretanto, eu me pergunto se em um sistema de aprendizado baseado em competências fomentado por tecnologia nós poderíamos medir habilidades como determinação – sem uma pesquisa ou prova específica – ao entender e gravar como estudantes gastam seu tempo? Será que os dados de ferramentas digitais podem dar ideias do que estudantes fazem quando falham? Eles estão depressivos? Continuam animados? Sua reação varia dependendo do assunto? Eles se recuperam, voltam ao trabalho e demonstram resiliência de verdade? Eles precisam de tempo e espaço – e conseguem criar isso intencionalmente – antes de retomar? Ou apenas sentem dificuldade de se reengajar? Como desenvolvem paixões – e como trabalhar em áreas que não gostam afeta sua determinação?
E como as respostas a essas questões mudam com o passar do tempo dependendo das circunstâncias – muitas externas à escola – da vida dos estudantes? É possível ver evidências de estudantes ampliando sua determinação – assim como sua autonomia e autocontrole, curiosidade, otimismo e mais – não perguntando ou aplicando prova, mas observando o que realmente fazem e onde gastam seu tempo? Assim como o melhor jeito de incorporar determinação não é ensinando explicitamente, eu suspeito que avaliá-lo também não o é.
Seria bom que pesquisadores envolvidos em trabalhos de ponta sobre habilidades não-cognitivas investiguem como um sistema de aprendizado baseado em competências pode melhorar o que eles estão aprendendo sobre o que precisamos fazer para transformar nossas escolas a ajudar estudantes a construírem conhecimento, habilidades e disposição para atender todo o seu potencial humano. Por exemplo, o que poderia uma Angela Duckworth aprender ao estudar o comportamento de alunos em uma plataforma como a Khan Academy ou em uma rede fechada de escolas como a AltSchool, que acompanha atividades personalizadas e as reações a momentos de dificuldade?
Não teremos um mundo em que desenvolveremos habilidades não-cognitivas de forma sistemática e em escala a partir do momento em que continuamos travados em nosso sistema educacional calendarizado. Estimular estudantes a perseverar e a desenvolver suas paixões pessoais demanda um modelo diferente que encoraja e recompensa quem assume riscos.
Publicado originalmente no EdSurge e traduzido mediante permissão.
Michael Horn
Michael Horn fala e escreve sobre o futuro da educação e trabalha com um portfólio de organizações educacionais para melhorar a vida de cada um dos estudantes. Ele é cofundador do Clayton Christensen Institute for Disruptive Innovation e consultor da Entangled Solutions, que oferece serviços de inovação para instituições de ensino superior. Também é diretor do Education + Technology Fund.