‘Não podemos ver o celular
como inimigo’
Especialista defende uso de dispositivos móveis dentro e fora da sala de aula para desenvolvimento profissional de docentes
por Vagner de Alencar 24 de junho de 2013
O uso dos dispositivos móveis é apontado por especialistas como uma modalidade de ensino-aprendizagem que aproveita, de forma mais intensa e integrada, o ensino tanto dentro quanto fora da sala de aula. Conhecido também como mobile learning, o uso dessas ferramentas ainda é visto com certa desconfiança por muitos educadores e gestores. No entanto, alguns estudiosos, à contramão dessa perspectiva, estão se mobilizando para comprovar a eficácia dos dispositivos móveis na educação. “Existem inúmeras escolas em que o aluno não pode entrar com o celular. Precisamos romper essa barreira, a de que o aparelho é um inimigo”, afirma Antônio Carlos Xavier, pesquisador-chefe de Nehte (Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional), da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Para ampliar a discussão sobre o tema, Xavier, que também é titular em linguística na UFPE, está coordenando o 5o Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação, que acontece em novembro em Recife. O congresso, que é pago e está com inscrições abertas, pretende discutir a integração de celular e tablets às práticas pedagógicas, com a proposta de sensibilizar os educadores para o uso cada vez mais frequente dos aparelhos móveis. “Vamos reunir experiências de projetos executados com sucesso por meio da modalidade dessa ensino. Não é fácil convencer os professores e gestores, mas lentamente vamos fazendo esse processo”, assegura.
No Brasil, iniciativas, ainda embrionárias, estão mostrando que o uso concreto e produtivo desses dispositivos está contribuindo para engajar os alunos no aprendizado. “A partir dos dispositivos móveis, os estudantes podem gravar, escutar e reescutar o que produziram. Podem receber conteúdos enviados diretamente pelos professores, até receber as tarefas e treinar idiomas por meio do envio de torpedos aos amigos. A mobilidade é o principal trunfo desses aparelhos, que podem ser acessados a todo momento e em qualquer parte”, afirma.
Segundo Xavier, o uso dos dispositivos surgiu para dar conta da educação em situações extraordinárias que impediam os estudantes de frequentarem a escola – como em guerras, catástrofes e conflitos armados. Hoje, no entanto, eles vêm ajudando, muito mais além de uma modalidade de ensino alternativa e complementar ao ensino presencial. Para ajudar educadores interessados em adotar os dispositivos, a Unesco apresentou, em fevereiro passado, durante a Mobile Learning Week, um guia com 10 dicas e 13 motivos para usar celular na aula.
Xavier, porém, aponta dois dos principais desafios à adoção das mídias móveis em sala de aula: a capacitação tecnológica dos professores e a descentralização do protagonismo docente. A formação, afirma, é necessária para que o educador consiga desenvolver conteúdos específicos para a utilização efetiva desses aparelhos – e não deve ficar apenas à mercê das secretarias de Educação e governo. “Quando a gente quer mudar, a gente vai atrás. Se o professor ficar esperando iniciativas do governo, nada vai acontecer”, afirma. “Fazer aulas tecnológicas é algo muito mais trabalhoso do que por um pincel no bolso, esboçar um esquema no quadro branco e falar, falar, falar… O professor precisa entender a tecnologia lhe dará vantagens”, completa.
Para Xavier, outro desafio ao professor é encarar um novo modelo de educação que se apresenta, o de tornar-se mais facilitador de conteúdos do que protagonismo hegemônico em sala de aula. “O educador precisa compartilhar com seus alunos. Seu papel agora é muito mais de um facilitador de conexões do que um fornecedor de informações. Ele não pode competir com o Google”, diz ele, que completa: “Vamos nos capacitando, os alunos também. É uma questão de convencer que ferramentas conspiraram a favor da educação”, afirma.
Atualmente, estão nas mãos dos brasileiros 264,5 milhões de celulares, segundo dados divulgados em abril pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). De acordo com Xavier, esses aparelhos, que são manuseados facilmente pelos jovens, sobretudo para entretenimento, devem ser mais bem aproveitados pelos professores para fins pedagógicos – especialmente para o complemento e ampliação do aprendizado.
Prêmio Artes Digitais e Aplicativos Educacionais
Os educadores interessados podem participar, até 30 agosto, da segunda edição do Prêmio Artes Digitais e Aplicativos Educacionais (Prêmio Hipertexto2013). O concurso pretende incentivar a produção de apps educacionais, além de estimular a exposição de obras educativas produzidas digitalmente. O prêmio é dividido em duas categorias: arte digital e aplicativos educacionais. Os participantes podem concorrer em diferentes áreas: literária, plástica, musical, fotográfica e cinematográfica até aplicativos digitais.
Serão selecionados 10 trabalhos que farão parte de uma exposição no Centro de Convenções da UFPE, além de ingressos para o congresso. Os dois primeiros colocados receberão prêmios em dinheiro e também hospedagem para participar do simpósio. As inscrições custam R$ 50.