Neurociência analisa nível de concentração de alunos durante aulas remotas
Com dispositivo portátil acoplado à cabeça de alunos, iniciativa da SOMOS Educação mapeia tipos de atividades mais engajadoras com o objetivo de apoiar planejamento de aula, desenvolvimento de material didático e a personalização da aprendizagem
por Vinícius de Oliveira 18 de setembro de 2020
A câmera pode estar ligada e o aluno responder “presente!” na videoconferência da mesma maneira que acontecia em sala de aula. Por mais que em pouco tempo de convivência (remota ou presencial) professores consigam desenvolver a incrível capacidade de decifrar expressões e saber se sobrou “alguma dúvida”, a verdade é que existe uma grande margem para saber o que o aluno de fato entendeu. E nas aulas remotas, essa distância é sempre motivo de preocupação por parte dos educadores.
Um estudo realizado pela SOMOS Educação durante a quarentena acompanhou as atividades cerebrais de alunos do segundo ano do ensino médio para mapear momentos de maior ou menor sintonia e determinar quais tipos de atividades geraram atenção, motivação positiva e memorização. A experiência foi feita em casa, e não em um laboratório com grandes equipamentos de imagem, porque tudo o que os participantes da pesquisa precisaram foi uma headband, dispositivo que lembra uma tiara eletrônica conectada à internet.
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Entre outras descobertas, os níveis de concentração foi maior com estudantes discutindo e participando em atividades colaborativas do que aqueles trabalhando de forma isolada, como conta o professor de matemática Thales Athanásio, que participou da experiência. “A headband mostra que aquele aluno que a gente sempre desconfiou que não prestava atenção estava realmente em um plano paralelo. E quando o aluno se depara com um resultado surpreendente, no qual a epifania é até sonora, existe uma mudança drástica em sua concentração”.
Além de aulas de matemática, o estudo também acompanhou alunos em atividades de biologia, geografia, português e artes. Os dados foram agregados em uma plataforma online chamada BrainEdu, na qual professores, coordenadores e gestores podem analisar gráficos que mostram o que aconteceu quando um aluno assistiu a um vídeo, leu um texto, fez um exercício ou uma atividade em grupo. Em comparação ao que acontece na educação presencial, Ricardo Schneider, diretor para a área de ciências da SOMOS, nota que na aula remota existe uma maior divergência entre os níveis de atenção registrados pelos alunos, enquanto que, em sala de aula, os gráficos da turma apresentam maior similaridade. “O nosso desafio é criar uma nova pedagogia para a aula digital que resgate essa atenção compartilhada que resulta em satisfação, sintonia e aprendizagem”, disse.
▶️ Assista à apresentação do estudo
Evidências para personalização
Para a SOMOS, aliar o trabalho com neurociência à tecnologia portátil, que dispensa a necessidade de realização de exames em laboratório, é um passo importante rumo a uma abordagem mais personalizada para a educação. Atualmente, segundo Mario Ghio, diretor-presidente da empresa, o setor não consegue identificar a dificuldade do aluno e não apresenta uma resposta específica para ele. “Nas séries iniciais do ensino fundamental, o aluno já pode começar a demonstrar que não está entendendo alguns raciocínios matemáticos. E muitas ciências tem uma lógica tão longa e encadeada que se um elo se perde, um preço será cobrado lá na frente”, disse.
Segundo Billy Nascimento, presidente-executivo da Forebrain, empresa parceira da SOMOS no projeto, os dados obtidos durante as três semanas vão permitir entender melhor o comportamento geral de atenção no ambiente online, além de otimizar o planejamento das aulas. “A gente fala hoje de aulas expositivas, metodologias ativas e enriquecimento de aula com tecnologia, mas quais são as estratégias pedagógicas que trazem maior eficiência para o nível de concentração dos alunos? Será que para aprender é necessário estar com foco e atenção 100% do tempo?”, questionou Nascimento.
Entre outras práticas para reter a atenção, dar exemplos práticos, alterar tom de voz e falar diretamente ao aluno são aquelas que se mostraram mais bem-sucedidas, de acordo com avaliações preliminares. Schneider menciona ainda que a retenção de informações em uma videoaula pode ser facilitada quando são trabalhados três estímulos de forma simultânea. No experimento realizado pela Somos, o conteúdo da animação era apresentado de forma metafórica, o narrador modulava a voz e existia ainda uma informação em texto exibida na tela.
Neste segundo semestre, pesquisadores vão avaliar o impacto da atenção plena e como a tecnologia pode auxiliar alunos a manter o equilíbrio emocional. Será que é possível fazer exercícios mentais que tragam maior habilidade de concentração? A resposta estará nos dados da tiara eletrônica.
Novo programa
A iniciativa que une tecnologia e neurociência faz parte do SOMOS Science in Learning, no qual busca desenvolver materiais didáticos apoiados em evidências científicas e dados. Recentemente, a empresa se tornou mantenedora da Rede CpE, Rede Nacional de Ciência para Educação, associação sem fins lucrativos que tem como meta unir esforços de centenas de grupos de pesquisa pelo país e aproximar o resultado de seu trabalho do dia a dia de quem faz a educação. Entre outras sinergias, já foram criados cursos como o Curso de Estimulação Neurocognitiva em Sala de Aula, disponivel na plataforma PROFS.