Peter Tabichi: Educação começa quando o professor acredita no aluno - PORVIR
Crédito: Mariana Pekin

Inovações em Educação

Peter Tabichi: Educação começa quando o professor acredita no aluno

Professor queniano ressalta a importância da autoestima para a aprendizagem e fala do impacto do prêmio Global Teacher Prize em sua escola

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 6 de julho de 2019

Em uma turnê mundial após a conquista do prêmio Global Teacher Prize no último mês de março, o professor queniano Peter Tabichi participou na última quinta-feira (4) de um debate com a professora brasileira Débora Garofalo, também finalista na mesma premiação, promovido pela Fundação Lemann e pela Associação NOVA ESCOLA em São Paulo (SP). Em sua fala, o professor de ciências lembrou que a aprendizagem acontece quando o professor se preocupa primeiro em trabalhar a autoestima do aluno.

“Como professor, você precisa ter disposição para encarar desafios e não pode achar que vai entrar na sala de aula e todos os alunos estão dispostos e motivados”, disse. “Tudo é uma questão de acreditar e ter confiança nos seus alunos. Assim, eles vão conseguir encarar desafios e conquistar mais”, explicou ao exemplificar o método centrado no aluno que adota em suas aulas. Tabichi diz evitar aulas expositivas e ajuda as crianças a criar inovação a partir de suas próprias ideias. “A gente define metas em conjunto e eles sabem que estarei ao seu lado”.

E assim, mesmo sem as instalações ideais na Escola Secundária Keriko Mixed Day, localizada em uma área remota do Quênia, Tabichi trabalha para mudar a vida de seus alunos, “sem esperar política pública ou a chance de se tornar diretor”. Cerca de 95% de seus alunos são provenientes de famílias pobres, quase um terço são órfãos ou têm apenas um dos pais, sendo que muitos não têm comida em casa. São comuns os casos de abuso de drogas, gravidez na adolescência, evasão escolar, casamentos entre jovens e suicídio.

Trata-se de uma história guarda muitos pontos em comum com a dos alunos da professora Débora que, além de viver em uma realidade social muito dura, inicialmente achavam que robótica não era feita para eles – e sim para estudantes de escolas particulares. “Foi um processo muito desafiador não só como professora, mas principalmente como ser humano. Temos que esquecer um pouco esse contrato pedagógico e olhar para as pessoas que dependem muito de nós e da nossa inspiração”, avaliou a professora que ficou entre os 10 finalistas do Global Teacher Prize. “O engajamento veio a partir do momento que eles se sentiram capazes e começaram a ver o potencial de construção que tinham nas mãos”.

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Habilidades socioemocionais

Para tratar de temas socioemocionais e promover a integração de suas turmas, Tabichi diz que o desenvolvimento de projetos organizados por clubes desempenha um papel importante na escola Keriko. “Na minha escola, o clube da paz tem atividades em que alunos plantam árvores, cantam juntos e fazem atividades esportivas. Eles precisam aprender a trabalhar em equipe e também a valorizar, reconhecer e respeitar uns aos outros. Nos projetos científicos, aprendem isso ao longo do processo de troca de ideias, em que um fala uma coisa e outro fala outra e as sugestões precisam ser respeitadas”, disse.

Como é possível imaginar, desenvolver habilidades demanda que Tabichi tenha que diversificar as metodologias adotadas durante a aula. “Fazer uma palestra sobre valores não dá muito certo. Quando você deixa os meninos participarem das atividades, aí sim permite que eles desenvolvam habilidades socioemocionais. Dá para perceber facilmente pela observação e não é necessário fazer prova”.

A escola do futuro

Ao responder uma pergunta sobre a escola que queremos para o futuro, Débora mencionou a importância de componentes curriculares como o projeto de vida, para que a aprendizagem se conecte à realidade do aluno e evite os altos índices de evasão registrados no Brasil, especialmente no ensino médio. “Precisamos encantar os meninos para colocá-los no século 21”.

Em nome de uma formação mais holística, Tabichi, que é frei franciscano, afirma que escolas também devem se preocupar em criar uma rota espiritual. “Os alunos também precisam entender por que nascemos e por que vivemos em busca de um propósito maior”.

Impacto do Global Teacher Prize

Segundo o professor queniano, a conquista do troféu Global Teacher Prize teve impacto positivo não só em sua aula e escola, mas em toda a comunidade. “Muita coisa mudou. Eu conheci muita gente que valoriza e agradece o trabalho que eu faço. Já fui convidado a participar de vários fóruns e oficinas com professores e outros profissionais porque essas pessoas também se sentiram inspiradas pelo prêmio que recebi”, disse.

“Os alunos têm estudado ainda mais e demonstram orgulho pelo fato de um professor deles ter sido reconhecido em nível internacional. O ambiente mudou não só na minha escola, como também naquelas que ficam próximas. O momento é maravilhoso para a nossa comunidade”.

Uma amostra desse ciclo virtuoso pode ser notado no último mês de maio. Um projeto feito por duas alunas de Tabichi para ensinar matemática para pessoas com deficiência visual e auditiva conquistou medalha de ouro no ISEF (sigla em inglês para Feira Internacional de Ciências e Engenharia), evento realizado nos Estados Unidos que conta com a participação de 1.800 estudantes de todo o mundo.


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aprendizagem baseada em projetos, autonomia, competências para o século 21, prêmios, tecnologia

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