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Inovações em Educação

Por que os adolescentes precisam dormir mais

Escolas nos EUA e no Reino Unido decidem começar a aula mais tarde para respeitar o relógio biológico dos alunos

por Patrícia Gomes ilustração relógio 2 de maio de 2013

Quem nunca, no tempo de escola, sentiu um sono incontrolável durante aquela aula de química? A verdade é que os olhinhos pesados dos adolescentes têm relação com as distrações do mundo moderno e com o hábito de ir para cama cada vez mais tarde. Mas, conforme defendeu o neurocientista Russel Foster, professor da Universidade de Oxford, em recente artigo na New Scientist, pesquisas comprovam que os jovens precisam de mais tempo de sono que os adultos para se recomporem. A discussão é tão grande no Reino Unido e nos EUA que algumas escolas têm postergado o início de suas atividades para mais tarde na manhã e têm conseguido que seus alunos tenham melhores resultados acadêmicos.

Um dos exemplos mais recentes foi o da UCL Academy, em Londres, uma escola que abriu em setembro passado já com a proposta de começar as aulas às 10h, em vez do horário tradicional, entre 7h e 9h – foi até chamada de “A Escola dos Sonhos” na imprensa local, por deixar os alunos dormirem. A justificativa dada pelos responsáveis da escola, na época do lançamento, é que o horário respeita as necessidades de sono dos adolescentes. Nos EUA, que adota horários diferentes para a entrada dos alunos, uma pesquisa da Universidade de Minessota mostrou que alunos que entram mais tarde têm resultado melhor, frequentam mais as aulas, cochilam menos e se sentem menos deprimidos.

Os resultados, explica Russel, têm a ver com a própria biologia humana. “As horas do sono humana, como a de outros mamíferos, mudam conforme a idade. Assim que a puberdade começa, a hora de dormir e acordar fica mais tarde”, afirma o pesquisador, que ressalta que essa tendência continua até os 19,5 para as mulheres e 21 para os homens. “Na média, isso significa que, para um adolescente, o despertador às 7h é o mesmo que às 5h para uma pessoa aos 50”, afirma. Os motivos para essa mudança, diz ele, não estão muito claros, mas se relacionam com as com alterações hormonais da puberdade e com o declínio nos hormônios à medida que o tempo passa.

Russel cita ainda um estudo da pesquisadora Mary Carskadon, da Brown University (Rhode Island), pioneira na análise dos sonos dos adolescentes. A professora afirma que os jovens precisam de 9 horas de sono por noite para manter o grau de alerta necessário para um dia de estudo, ao passo que é muito normal que eles durmam apenas 5 horas por noite. Entender a fisiologia dos jovens pode ajudá-los a terem melhores resultados na escola, garante o neurocientista, mas que também dá um alerta. “Apenas começar a aula mais tarde não é suficiente. A sociedade em geral, e jovens em particular, precisam começar a pensar no sono como algo sério.”

Dormir não é um luxo nem um castigo, mas uma necessidade biológica fundamental, que envolve criatividade, produtividade, humor e a habilidade de interagir com os outros

Isso porque biologia é só parte do problema. O uso das tais distrações do mundo moderno mencionadas no início da matéria – como TV, DVD, computador, videogame e celulares – pouco antes de dormir faz com que as pessoas prolonguem seu estado de alerta e demorem mais a cair no sono. Com um sono de pior qualidade, as pessoas tendem a ter problemas de concentração e memória, estresse, impulsividade, falta de empatia e de senso de humor, enumera o especialista.

Talvez de uma forma menos óbvia, completa Russel, a perda de sono é associada a mudanças metabólicas. “Pesquisas têm mostrado que a regulação de glicose no sangue foi muito prejudicada em jovens que dormiam até 4 horas por noite por seis noites seguidas. Nesses casos, o nível de insulina comparável com estágios iniciais de diabetes”, afirmou. Como se não bastasse, a privação do sono também está associada a obesidade e hipertensão. “Dormir não é um luxo nem um castigo, mas uma necessidade biológica fundamental, que envolve criatividade, produtividade, humor e a habilidade de interagir com os outros”, completa o neurocientista.

Com New Scientist


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neurociência, pesquisas

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