Por que os professores querem mais tecnologia?
Ao contrário do que acreditam aqueles que dizem que os professores serão substituídos por robôs, o papel dos docentes continua e continuará sendo essencial
por Rafael Parente 1 de novembro de 2017
Vivemos uma Era em que tudo o que fazemos pode ser completamente transformado por inovações da tecnologia em curtos períodos de tempo. As novidades digitais mudaram a forma como nos comunicamos, trabalhamos, nos divertimos, nos relacionamos e até como nosso cérebro funciona. Nas escolas, os professores já não são os detentores do conhecimento. Além disso, podem ter deixado de ser a fonte mais confiável de informações, na visão de parte dos alunos. Esse fato, é bom deixar claro, acontece do ensino fundamental à educação superior. Computadores, tablets, smartphones, plataformas e modelos híbridos deram, para essa geração, muito mais acesso a uma fonte constante e inesgotável de informações, boas e ruins. O uso da tecnologia, entretanto, é insuficiente para causar uma mudança disruptiva no modelo tradicional de escola e de aprendizagem. E os professores já têm consciência de tudo isso.
O Movimento Todos pela Educação e parceiros publicaram, recentemente, os resultados da pesquisa “O que pensam os professores brasileiros sobre a tecnologia em sala de aula?”. As conclusões mostram revelações importantes:
– A grande maioria, 92% dos professores, usa tecnologia para apresentar o conteúdo em sala de aula, sendo que 25% usam sempre e 47% usam às vezes;
– O segundo motivo para o uso de ferramentas tecnológicas, segundo 44% dos entrevistados, é a avaliação dos alunos;
– Apenas um terço diz ter facilidade no uso da tecnologia e só 11% acreditam que esse uso melhora o desempenho acadêmico;
– Esses últimos dados estão fortemente relacionados à falta de formação e de infraestrutura adequada: 62% disseram que nunca passaram por qualquer formação na área e 66% afirmam que os equipamentos são insuficientes;
– Mais da metade diz que usaria com mais frequência se houvesse melhores condições.
No contexto atual e também no futuro, ao contrário do que acreditam aqueles que dizem que os professores serão substituídos por robôs, o papel dos docentes continua e continuará sendo essencial para a formação e preparação de crianças e jovens para um mundo em constante mutação, com acesso ampliado a todos os tipos de informações. Os professores continuarão sendo os guias das experiências educacionais, auxiliando os alunos para que consigam criar a melhor utilização possível de ferramentas, recursos e fontes para aprimorar o processo de ensino/aprendizagem.
Utilizando minhas redes sociais, e o acesso a dezenas de milhares de professores, fiz uma pesquisa rápida e informal sobre por que eles acham que os professores querem usar mais tecnologias em sala de aula. Além da consciência sobre as mudanças já citadas, a maioria fala sobre mais motivação e engajamento; aproximação à realidade fora da escola; maior relevância do ensino, com a conexão entre a teoria e o mundo real; mais diversificação nas atividades, mais diversão; e, o que considero o grande “pulo do gato”: a possibilidade de se personalizar o ensino com o auxílio de plataformas digitais, dados e relatórios, segundo os interesses, as paixões, as forças e fraquezas de cada aluno.
Com esses fatos e tendências em mente, criamos, há anos anos, a Conecturma: uma nova metodologia de aprendizagem que combina tecnologias inovadoras (como plataforma adaptativa) e tecnologias tradicionais (livros, fantoches e jogos de tabuleiro) para ajudar a criar um processo de aprendizagem mais autêntico, divertido e efetivo. Utilizamos elementos e estratégias de storytelling e gamificação para melhorar a formação dos professores e aumentar a atenção, o engajamento e a concentração dos alunos. Os resultados têm sido encorajadores.
Para que possamos avançar mais rapidamente, precisamos aumentar, urgentemente, os investimentos em infraestrutura tecnológica (incluindo a melhoria da qualidade da internet), em metodologias mais modernas e na formação dos professores. Precisamos ir além do ensino de habilidades básicas de informática, softwares, programação e robótica em aulas separadas. Precisamos criar e implementar políticas efetivas de integração das novas tecnologias ao currículo de forma que o processo de aprendizagem seja completamente transformado para muito melhor. Alguns municípios e estados (como Viamão, Goiás, Amazonas e Santa Catarina) já se deram conta disso e têm experiências relevantes sendo implementadas. Vamos em frente!
Rafael Parente
PhD em educação (NYU), CEO da Aondê / Conecturma (empresa de educação e tecnologia), cofundador do Movimento Agora!, criador e apresentador do Canal Educação na Veia, membro do conselho do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (FGV/EBAPE Rio) e sócio-efetivo do Movimento Todos pela Educação.