Professoras trazem primeiras impressões sobre Jogo da Lei 10.639 para uma educação antirracista
Iniciativa do Porvir e da Piraporiando, tabuleiro busca estimular educadores a refletirem e implementarem uma educação antirracista
por Mariana Rossi 21 de novembro de 2022
No dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra, data que simboliza a luta do movimento negro no Brasil. Foi nesse dia, em 1695, que Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes negros brasileiros e o último do Quilombo dos Palmares, foi morto, um ano após o quilombo ter sido invadido por uma expedição bandeirante.
Sancionado por lei desde 2011, o Dia da Consciência Negra não apenas lembra a história de Zumbi, como também é marcado pela celebração da cultura negra e reflexões sobre a herança escravocrata e o racismo ainda presente na sociedade brasileira.
Apesar da data ser fundamental, o combate ao racismo deve ir muito além do mês de novembro e envolver todos os setores da sociedade. Foi pensando nisso que, em agosto, o Porvir e a Piraporiando lançaram o Jogo da Lei 10.639, “uma ferramenta pedagógica e formativa, que pode ser mobilizada em quaisquer contextos, para que gestores, professores e educadores de todas as áreas tenham a oportunidade de dialogar sobre a educação antirracista e construir, de forma conjunta, novos caminhos de atuação”, explica Diana Costa, coordenadora técnica e consultora de projetos da Piraporiando.
O Jogo
Mary Sônia Alencar, professora da Escola Estadual Ministro Waldemar Pedrosa, de Parintins (AM), usou o tabuleiro com um grupo de professores e trouxe algumas impressões sobre o material, que segundo ela não segue a linha de entretenimento de um jogo tradicional. “São questões provocativas, pontos de reflexão que o professor pode trabalhar para um projeto de intervenção, que podem acompanhar o projeto político-pedagógico da escola. Enfim, são reflexões que pautam o trabalho pedagógico”, avalia a professora.
Desenhado para ajudar educadores a adequarem o currículo e as práticas de sua escola à Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de história e cultura africanas e afro-brasileiras para estudantes brasileiros, o tabuleiro acompanha a história de dois professores, Helder e Luiza.
São questões provocativas, pontos de reflexão que o professor pode trabalhar para um projeto de intervenção
Mary Sônia Alencar, professora da Escola Estadual Ministro Waldemar Pedrosa
Os professores desejam implementar uma educação antirracista na escola, mas, ao longo do percurso, se deparam com cenas comuns nas escolas brasileiras, que impõem desafios para o estabelecimento de um currículo alinhado à Lei 10.639. As reflexões geradas a partir das provocações, ajudam os jogadores a definir os passos para iniciar ou potencializar um trabalho de educação antirracista em sua comunidade escolar.
“De forma geral, as reflexões propostas no jogo impulsionam os participantes a um olhar mais dedicado para os desafios e potencialidades do seu contexto de atuação”, conta Diana Costa, “além de promover o acolhimento no ato da interação, com dinâmicas ativas de escuta e partilha de experiências que conduzem os educadores a um universo de possibilidades de criação a partir de suas realidades”, analisa.
Na escola de Mary, o material ajudou a continuar o projeto de educação antirracista na escola, e as inquietações provocadas geraram o “Somos diferentes #TamosJuntos”. Apresentado na VII FEBIC (Feira Brasileira de Iniciação Científica), o projeto de alunos do ensino fundamental envolveu a pesquisa na literatura sobre diversidade e a investigação das ações que a escola faz para abordar o tema.
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Giovana Picolo, professora da rede estadual e municipal de Pinhal da Serra (RS), usou o material com colegas da coordenadoria regional de educação, professores de creche e das escolas em que atua, além de alunos do 3º ano do ensino médio. No início, ela se deparou com alguns professores que se sentiam inseguros em trabalhar com a educação antirracista e que gostariam que tivesse algum projeto pronto para ser aplicado. Outros, mostraram dúvidas de não saber como inserir o tema em suas disciplinas.
“Percebi que o tabuleiro causou mudanças, uma vez que os colegas começaram a pensar mais sobre a educação antirracista. Alguns citaram os griôs e os livros infantis que retratam sobre o tema. Inclusive, alguns foram até a biblioteca para buscar livros e estão pensando em formas de trabalhar mais sobre o assunto, não deixando apenas para novembro! Buscaram máscaras, músicas, bonecas e até mesmo a influência na literatura e na religião”, conta a professora.
Percebi que o tabuleiro causou mudanças, uma vez que os colegas começaram a pensar mais sobre a educação antirracista.
Giovana Picolo, professora da rede estadual e municipal de Pinhal da Serra (RS)
Este ano, a professora da área de linguagens e seus alunos trabalharam com a origem de expressões racistas. Em um painel, as expressões foram colocadas e os alunos, sem pesquisar, deveriam substituí-las. Depois, eles discutiram a origem de cada uma delas.
Para Giovana, muitas vezes, assim como seus alunos falaram, apenas o professor de linguagem trabalha sobre o assunto, por isso recomenda o material para todos os educadores. “Acho que todos precisam trabalhar o tabuleiro, e já na reunião de início do ano, para que assim já vão traçando projetos, pensando em como abordar o tema e propondo atividades interdisciplinares. Precisamos falar mais nessas questões e não apenas com os alunos”, comenta.
O Jogo da Lei 10.639 está disponível para download gratuito aqui. Baixe as cartas e o tabuleiro, reúna a equipe pedagógica e os gestores da escola para participar. Se não conseguir formar um grupo completo, a discussão já pode ser iniciada com pelo menos um colega.