‘Professor carismático não influi no aprendizado’
Estudo Aparências Enganam aponta que quantidade de informação absorvida não aumenta com oradores articulados; será?
por Redação 3 de junho de 2013
Pense na seguinte situação: você tem duas oportunidades de assistir à mesma aula. Na primeira, o professor é daqueles superarticulados, que falam bem, têm presença, mantêm contato visual, concatenam o raciocínio sem precisar ler notas. Na segunda, o professor é mais hesitante, gagueja, tropeça nas próprias palavras, evita olhar para os alunos e avança na explicação dos conceitos com o auxílio de anotações. Em qual situação você acha que aprenderia mais? Na primeira? Sim, não é só você que acha isso. A pesquisa “Aparências Engam: fluência do professor aumenta percepção de aprendizado sem aumentar o aprendizado”, recém-publicada no Psychonomic Bulletin and Review, mostra que a quantidade de informação absorvida é muito parecida nas duas situações, apesar de a percepção de aprendizado ser maior no primeiro caso.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores da Universidade do Estado de Iowa Shana Carpenter, Miko Wilford, Nate Kornell e Kellie Mullaney pediram que o mesmo professor apresentasse um conceito científico específico de duas formas radicalmente diferentes e gravasse essas duas apresentações em vídeo. Na primeira, ele se mostrou articulado e carismático; na segunda, muito menos fluente na comunicação. Nas duas circunstâncias, porém, o conteúdo transmitido era o mesmo.
Com os vídeos prontos, os pesquisadores dividiram 42 estudantes em dois grupos. O primeiro foi exposto à aula “mais fluente” e o segundo à aula “menos fluente”. Ao fim do experimento, os alunos do primeiro grupo tiveram de responder a um questionário em que tinham que fazer um “julgamento de aprendizado”, estimando quanta informação do vídeo eles seriam capazes de se lembrar em 10 minutos. Enquanto isso, participantes do experimento 2 tiveram a oportunidade de ler o conteúdo do vídeo.
Na sequência, os participantes dos dois experimentos responderam a um questionário de avaliação do instrutor, além de perguntas que demandavam uma autoavaliação (como sentiam que haviam aprendido o material). Os que tiveram a oportunidade de assistir à aula mais articulada tinham a sensação de ter aprendido mais que o segundo grupo. No entanto, quanto os estudantes foram submetidos a uma avaliação sobre o conteúdo aprendido, pouca diferença foi encontrada entre eles.
Quando tiveram acesso aos resultados do teste, os alunos que tiveram a aula “fluente” se mostraram desapontados com suas notas, enquanto as notas do outro grupo estavam mais relacionadas com suas expectativas. “A percepção dos alunos quanto ao seu próprio aprendizado e a efetividade do professor parecem se basear mais na fluência da aula do que no aprendizado propriamente dito”, afirmam os resultados no estudo.
Será que o resultado parecido apresentado pelos dois grupos continuaria o mesmo ao longo de um ano letivo, quando os efeitos do engajamento da turma se tornam mais evidentes nas notas dos alunos?