Professor usa o corpo como instrumento para desmistificar a música
Em Belo Jardim (PE), projeto traz significado ao ensino de música com atividades que envolvem movimento, respiração e exploração
por Gledson Lamartine Nunes de Lima 10 de abril de 2019
Muitas vezes, o aluno só tem acesso à apreciação musical e aos conteúdos teóricos, o que faz com que a criança não associe a música as suas fontes naturais de ritmo do corpo, como a respiração e batimentos cardíacos, configurando um ensino sem significado e desenvolvimento.
O projeto “Musicalize & Ação” nasce em meio a minha inquietação de como trabalhar a música no ensino regular na rede pública de Belo Jardim (PE). Percebi que nos diários de classe do ensino fundamental existiam competências musicais a serem trabalhadas com os alunos, mas na escola esses campos eram respondidos de qualquer forma e também não eram realizadas atividades com essa temática.
Em 18 de agosto de 2008, a Lei 11.769/08 altera a Lei n. 9.394 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para dispor da obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. No entanto, as leis citadas estão somente no papel e os sistemas educacionais não conseguem êxito na inserção das disciplinas no conteúdo escolar. Cada instituição trabalha como e quando quer, reduzindo as aulas com atividades de pintura e teoria musical, sem união entre conteúdos e práticas.
E surgem as indagações: Como trabalhar música em sala de aula? O professor deve fazer avaliações de que maneira diante de tal realidade? É correto avaliar o estudante quando não foi dado o conteúdo?
Com a vontade de mudar essa prática, desenvolvi o projeto “Musicalize & Ação” para propor um método prático para o ensino musical em sala de aula que pudesse ser utilizado também por outros docentes. A proposta tem base na utilização do próprio corpo como instrumento musicalizador, buscando a interação do aluno através de suas possibilidades de movimento.
É comum que o aluno só tenha acesso à apreciação musical e aos conteúdos teóricos, o que faz com que a criança não associe a música as suas fontes naturais de ritmo do corpo, como a respiração e batimentos cardíacos, configurando um ensino sem significado e desenvolvimento.
Os benefícios dessa linguagem transpassam o universo musical, melhorando a concentração, a memória, a sociabilização, o bem-estar físico e mental, além de elevar a autoestima, proporcionando a descoberta do próprio corpo como instrumento artístico de educação.
No primeiro encontro, os alunos não acreditavam que poderiam usar o próprio corpo nas aulas de música, alguns afirmaram não ter jeito para tocar ou ter vergonha de se apresentar em público, mas por meio das atividades propostas nas oficina eles conseguiram se desenvolver.
Os resultados podem ser observados em depoimentos de estudantes e famílias:
“Foi como uma mágica, usar as palmas e brincadeiras… quando menos esperei, estava tocando”, afirmou um estudante.
“No início, eu pensei que era uma besteira, mas depois foi ficando divertido”, disse outra jovem.
“Eu nem imaginava que poderia fazer outros ritmos batendo palmas”, afirmou uma mãe.
“Meu filho já chegou mostrando em casa o que era percussão corporal”, contou outra mãe.
Diante os relatos citados, chega-se à conclusão que o trabalho com percussão corporal e brincadeiras cantadas quebra paradigmas como, por exemplo, ver a música como algo intocável, apenas um dom, ou até mesmo pensar em música só por meio de instrumentos e bandas.
Após o término da oficina, as experiências vividas serviram de respostas para as dúvidas dos alunos sobre a música, a percussão corporal, as cantigas de roda em brincadeiras cantadas, a música sustentável e novos meios de criação sonora.
Gledson Lamartine Nunes de Lima
Músico e professor da rede municipal de Belo Jardim, região do agreste de Pernambuco. Licenciado em música pelo Centro Universitário Claretiano Claretiano (CEUCLAR), em Maceió (AL). Atuou durante 3 anos em uma sala de ensino regular. Atualmente está na formação de bandas marciais/fanfarras.