Professora cria projeto de alimentação saudável para combater a obesidade infantil
Em Marilena (PR), experiências de agricultura familiar e brincadeiras serviram como estratégia para mudar hábitos alimentares das crianças
por Elaine Cristina Benteo Marcos 10 de maio de 2017
Sou professora alfabetizadora há 23 anos e trabalho na Escola Municipal Padre Nelson Ângelo Rech, na cidade de Marilena (PR). Em busca de soluções para mudar hábitos alimentares das crianças e incentivar que elas tenham uma vida menos sedentária, desenvolvi o projeto “A Agricultura Familiar no Combate a Obesidade Infantil”.
A ideia surgiu durante uma aula do segundo ano. Para trabalhar grandezas e medidas de massa, propus uma atividade lúdica em que os alunos teriam que se pesar, estabelecendo relações com os conteúdos apresentados. Quando eles subiram na balança, me assustei com os números encontrados: mais de 50% deles estavam acima do peso recomendado.
Ao notar essa situação, decidi buscar parcerias com a secretaria de saúde para fazer o cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal) dos alunos. Como foi detectado que muitos deles estavam em obesidade ou acima do peso, também contei com o apoio de uma pediatra e uma nutricionista para orientar os pais.
Na hora de fazer um levantamento com a turma para identificar o que motivava o excesso de peso, percebi que isso era consequência de uma alimentação inadequada e uma vida muito sedentária. Muitas crianças relataram que passavam suas tardes na frente da TV, videogame, smartphone ou tablet. Elas não tinham mais o prazer da infância de brincar e correr.
Os alunos ainda falaram que comiam muita batata chips e bolachas, além de tomar refrigerante. Foi aí que também comecei a fazer um trabalho de conscientização sobre hábitos alimentares.
Para incentivar que as crianças criassem gosto por uma nova alimentação, busquei parceria na secretaria de agricultura. A ideia era que, além de participar de palestras, os alunos também pudessem visitar propriedades locais. Se eles acompanhassem o processo de produção dos alimentos, participando do seu plantio e colheita, seria mais fácil ocorrer uma mudança alimentar.
Na tentativa de estimular que as crianças tivessem uma vida menos sedentária, também fizemos um trabalho de brincadeiras infantis. Todos os dias saímos da sala para conhecer uma brincadeira nova.
O primeiro impacto desse projeto já começou a ser percebido durante o lanche da escola. Os alunos começaram a trazer alimentos diferentes, e as famílias também relatavam que eles estavam cobrando uma alimentação mais saudável dentro de casa. Eles chegaram até a fazer horta no fundo do quintal.
Depois que eu desenvolvi esse projeto, a participação dos alunos melhorou muito. Eles compraram a ideia e participavam com entusiasmo. O aprendizado foi mais gratificante porque eles se engajaram naquela situação, que partiu da realidade deles.
* Em 2015, a professora Elaine Cristina Benteo Marcos foi vencedora do Prêmio Professores do Brasil, promovido pelo Ministério da Educação, na categoria Ciclo de Alfabetização.
Elaine Cristina Benteo Marcos
Professora do segundo ano do ensino fundamental. Sempre atuou no ciclo de alfabetização, no 1°,2° e 3° ano das series iniciais do ensino fundamental. Graduada no curso de pedagogia, tem pós-graduação em educação especial e picopedagógia. Participou de todas as etapas do Programa de Formação do governo federal: PROFA, Pró-Letramento e PNAIC, onde assumiu a função de orientadora na disciplina de língua portuguesa, em 2013, e participou como cursista, nos anos de 2014, 2015 e 2106.