Projeto leva robótica e novas formas de aprender para escolas públicas - PORVIR
Crédito: Ricardo Ara/Aprendizes Digital

Inovações em Educação

Projeto leva robótica e novas formas de aprender para escolas públicas

Parceria com Aprendizes digital

por Marina Lopes ilustração relógio 24 de maio de 2023

Ainda nos anos 70, antes mesmo da internet se popularizar, o matemático e educador sul-africano Seymour Papert já previu que crianças poderiam programar computadores para controlar robôs, desenhar ou até mesmo criar jogos. Décadas depois, isso não apenas se tornou uma realidade, como também chegou ao ambiente escolar – mas de forma desigual. Para despertar novas possibilidades criativas e romper com o abismo digital que ainda separa escolas públicas e privadas, o projeto Aprendizes – Digital, realizado pela Muda Cultural, Ministério da Cultura e Governo Federal – União e Reconstrução, tem levado oficinas semanais de programação e robótica para instituições públicas brasileiras. 

Com kits da LEGO Education (Wedo 2.0 e Mindstorm Ev3) e materiais didáticos elaborados pela empresa de robótica educacional Robomind, as oficinas presenciais acontecem de forma gratuita em três escolas, duas em São Paulo (SP) e uma em Nova Santa Rita (RS), e atendem cerca de 250 alunos.

“O ensino de robótica nas escolas oferece diversas oportunidades, tais como desenvolvimento de habilidades acadêmicas do currículo STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), trazendo também a igualdade de oportunidades para os alunos das instituições públicas frente às redes particulares”, defende Thiago Costa, coordenador da Robomind, instituição responsável pela implementação das atividades.

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Dentro do programa, além das oficinas de robótica, atividades híbridas correlacionam os assuntos das oficinas de robótica a práticas culturais diversas, como pintura, dança, arquitetura e cultura digital. Com isso, os alunos convivem com conceitos e conteúdos do universo da arte, que passam a ser parte de seu repertório cultural.

Acesso a novas oportunidades 

Quando o Colégio Plenitude*, em São Paulo (SP), recebeu o convite para fazer parte do projeto, a coordenadora pedagógica Luiza Lima, dos anos iniciais do ensino fundamental, quase não acreditou. “É verdade isso? Realmente vai ser tudo gratuito, as crianças vão poder participar e ter acesso aos materiais da LEGO?”, recorda. “O nosso sonho era que os alunos pudessem ter contato com a robótica, porque alguns professores já viram esse trabalho em outras escolas”, conta a educadora. No entanto, esse desejo ainda parecia estar distante da realidade local. 

Localizado no bairro Vila Nhocuné, na zona leste de São Paulo, o colégio é uma instituição filantrópica mantida pelo Instituto Energia do Saber. “Nossos alunos são 100% bolsistas, e a gente sabe que eles não têm acesso a essa oportunidade. Então aqui acaba sendo um sonho para eles”, afirma. 

Desde março, uma vez por semana, acontecem as oficinas de programação e robótica na escola, conduzidas por um educador da Robomind. Elas envolvem turmas do 4o e 5o ano em missões, em que os estudantes precisam se organizar em grupos para fazer a montagem e a programação dos robôs. “Eles já montaram um braço, um coelho, cada dia tem um desafio novo. Quinta-feira é o dia que eu tenho menos falta aqui na escola. A turma que participa da robótica é muito frequente. Os alunos são apaixonados.”

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Desenvolvimento de habilidades e competências 

Todo o percurso formativo das oficinas foi construído a partir das habilidades e competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), introduzindo conceitos de programação e robótica de maneira gradual. Enquanto os estudantes participam de missões para construir seus robôs, eles exercitam competências como pensamento científico, crítico e criativo, cultura digital e empatia e cooperação. 

Para Luiza, uma das competências mais perceptíveis que os estudantes têm desenvolvido com as atividades é a autonomia. “Quando os alunos se organizam em atividades em grupo, eles já têm maior percepção do que cada um vai fazer. Então tendo muita autonomia para liderar e se organizar. Também perderam o medo de errar e fazer de novo as coisas”, indica. 

Na Escola Estadual Professor Sebastião de Souza Bueno, localizada na Vila Medeiros, também em São Paulo (SP), o diretor André Luiz da Silva também tem percebido um salto dos estudantes no desenvolvimento de raciocínio lógico. “Nas disciplinas de exatas, matemática, ciências, física e química, os alunos têm um melhor desempenho. O próprio comportamento também muda, com uma outra postura em sala de aula”, destaca. 

Integrante do Programa de Ensino Integral, a escola está no Aprendizes – Digital desde a primeira edição. Neste ano, as oficinas são oferecidas para duas turmas, uma do 6°ano e outra mista, com alunos que estão se preparando para participar de torneios de robótica. “Vamos inscrever uma equipe no Campeonato Estadual de Robótica, que vai ser o nosso primeiro. No ano passado, já organizamos um minicampeonato aqui na escola com os estudantes “, conta o diretor. 

De acordo com ele, ao oferecer essa e outras oportunidades na escola, também é possível fortalecer o trabalho com projeto de vida, já que os estudantes conseguem descobrir novos interesses ou até mesmo se aprofundar nas áreas que já tinham afinidade. “Quando a gente faz a atividade do varal dos sonhos, no início do ano letivo, para descobrir o projeto dos estudantes, isso dá uma esperança a mais para eles. A gente começa a dar uma perspectiva de futuro nessa área [de tecnologia] para os alunos”, explica. 

Formação de professores 

Para participar do projeto, como contrapartida, as escolas também precisam inscrever equipes de educadores em encontros mensais de formação. Na Escola Estadual Professor Sebastião de Souza Bueno, essas atividades envolvem todos os professores nos momentos de estudo coletivo, conhecidos como ATPCG, que são instituídos na rotina escolar. 

“A capacitação do corpo docente é um passo importante para o seguimento do projeto nas escolas, onde os professores são preparados para futuramente ministrar aulas de robótica, fazendo com que as oficinas sejam apenas um primeiro passo para o desenvolvimento tecnológico da instituição”, avalia Thiago Costa, coordenador da Robomind. Ele também diz que ao final do projeto, as escolas terão posse de todos os materiais LEGO Education para continuarem o trabalho. 

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia, localizada no centro de Nova Santa Rita (RS), o interesse dos professores pela oficina foi grande. “Eles estão envolvidos, até os assistentes da educação infantil querem participar”, conta a diretora Cintia Branco. 

Motivação e engajamento 

A escola recém começou a trabalhar com robótica, desde o início de março, mas ela conta que já é possível notar o encantamento mútuo, tanto dos docentes quanto das crianças. “A gente consegue perceber que no projeto de robótica eles fazem descobertas que não seriam feitas em uma aula tradicional”, cita. 

Por lá, todas as terças-feiras, são atendidas duas turmas de 3° ano, uma de 4°ano e uma de 5°ano. A expectativa da diretora é que esse trabalho tenha sequência para ampliar o envolvimento das crianças na escola. “O que brilha o olho para nós é ver o que faz brilhar o olho do nosso aluno. É conseguir tirar ele do aprendizado tradicional, do caderno, do giz, do quadro”, conclui. 


*As atividades no Colégio Plenitude, exclusivamente, são viabilizadas pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), com patrocínio da Comerc e realização da Muda Cultural e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.


Atualmente em sua 3a edição, o projeto Aprendizes – Digital é viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Braskem, apoio da Lockton e The Lycra Company e realização de Muda Cultural, Ministério da Cultura e Governo Federal – União e Reconstrução.

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TAGS

ensino fundamental, equidade, robótica, socioemocionais

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