Projetos mostram como superar dificuldades em leitura reveladas pelo Pisa - PORVIR
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Inovações em Educação

Projetos mostram como superar dificuldades em leitura reveladas pelo Pisa

No Brasil, nem metade dos alunos chega ao nível básico de proficiência de leitura, mas exemplos de projetos publicados no Porvir destacam educadores que conseguiram virar esse jogo

por Vinícius de Oliveira / Marina Lopes ilustração relógio 3 de dezembro de 2019

Os resultados do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos) mostram que o nível de aprendizagem dos estudantes brasileiros permanece estagnado desde 2009, com médias bem abaixo das registradas em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O exame aplicado de três em três anos avalia o desempenho escolar de crianças e adolescentes em 79 países. No Brasil, cerca de 10,7 mil alunos em 638 escolas fizeram a prova em maio de 2018 que teve como foco a leitura e ainda questões de ciências e matemática. No primeiro domínio, o resultado mostrou que nem metade chega ao nível 2, o mínimo considerado pela OCDE para um indivíduo exercer sua plena cidadania. Quando chega a este nível, o aluno tem condições de identificar a ideia principal de um texto mediano, fazer interpretações ou inferências simples ou mesmo comparar alegações a partir de frases simples e explícitas. Isto não é comum para a maioria dos estudantes brasileiros.

Impacto da desigualdade
Um tema comum a cada edição do Pisa, o impacto do maior investimento em educação é alvo de nova análise. Diferente dos países mais ricos, que já atingiram um patamar alto de investimento em educação, no Brasil um melhor investimento por aluno faz a diferença.

No Brasil, alunos de nível socioeconômico mais baixo só 10% dos alunos de nível socioeconômico mais baixo conseguem figurar entre aqueles com melhor desempenho na prova. Em Macao (China), Kosovo e Baku (Azerbaijão), esse número varia entre 15 e 20%.

Um compilado apresentado Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) em cima de dados da OCDE mostra ainda que, em leitura, estudantes com melhor status econômico, social e cultural (25% mais ricos) tiveram um desempenho médio 97 pontos acima do desempenho médio dos estudantes com pior índice de status econômico, social e cultural (25% mais pobres). Dentre os países membros da OCDE, a diferença média foi de 87 pontos.

No Brasil, um em cada dez estudantes com baixo índice econômico, social e cultural (25% mais pobres) e com alta performance (desempenho no nível 5 ou 6) não esperam completar o ensino superior. Dentre os estudantes com alto índice econômico, social e cultural (25% mais ricos) e com alta performance (desempenho no nível 5 ou 6), essa razão é de 1 para 25.

Exemplos para superar a desigualdade podem ser vistos aqui mesmo no Brasil. A OCDE destaca o aproveitamento de recursos dentro da rede do Ceará, que beneficia as escolas de baixo desempenho. “No estado do Ceará, as escolas com melhor desempenho recebem um apoio significativa em recursos financeiros adicionais que lhes permitem contratar professores mais especializados. Elas não gastam esses recursos apenas consigo mesmas, mas também são obrigadas a alocá-los às escolas que enfrentam maior dificuldade. Assim, todos ganham: as escolas de alto desempenho ganham prestígio adicional e uma equipe ampliada, enquanto aquelas de baixo desempenho se beneficiam da experiência de escolas com boas práticas – o que pode ter sido mais valioso para elas do que dinheiro adicional”.

Projetos para virar o jogo
Para inspirar escolas e educadores a adotarem práticas inovadoras que estimulam a leitura e a escrita, o Porvir fez uma seleção de nove experiências de professores de diferentes regiões do país que foram publicadas na seção Diário de Inovação. Confira a lista:

Caçada ao QR Code
Para estimular a análise de gêneros textuais e incentivar a leitura, a professora Andréia Vitorino Marcos desenvolveu uma atividade com o uso de dispositivos móveis. Em parceria com a professora de português, Irlane Veloso, ela espalhou trechos de poemas pela escola e pediu para que os alunos saíssem em busca de QR Codes [código de barras 2D que pode ser escaneado pela câmera do celular], como uma espécie de caça ao tesouro.

Leitura no Instagram 
No Colégio Farroupilha, em Porto Alegre (RS), a professora Karina Predebon utilizou o Instagram para estimular o interesse dos alunos pela leitura. Após trabalhar o período literário do Naturalismo, os alunos iniciaram uma conversa sobre o livro “O Cortiço” e criaram perfis de personagens na rede social para reproduzir a história de forma dinâmica. As postagens seguiam um cronograma de leitura e tinham regras para número de stories, publicações na linha do tempo e comentários.

Teatro literário 
Diante dos problemas de leitura enfrentados pela Escola de Referência Gil Rodrigues, de Vertentes (PE), a professora Ilka Eliane de Albuquerque Cavalcante teve a ideia de dar início a um grupo de teatro para trabalhar clássicos da literatura brasileira com turmas de  3º ano do ensino médio. Além de incentivar a leitura, o projeto teve a proposta de promover a liberdade de expressão e permitir aos estudantes descobrirem e expressarem suas próprias emoções.

Robô que conta histórias 
Na Escola Municipal Marumbi, em Curitiba (PR), depois de escutar relatos sobre a falta de hábito de leitura entre as crianças, a professora Anai da Luz Rodrigues Santos teve a ideia de criar um robô que contasse histórias de clássicos da literatura infantil e histórias escritas pelos alunos. O robô foi construído com circuitos de LED e placas Micro:bit, incluindo caixa de som controlada pelo celular com as gravações das histórias. O projeto está disponível no e-book da terceira edição do Desafio Diário de Inovações.

Clube de leitura 
Com um “clube da leitura itinerante”, a educadora Edjanne Amaral de Almeida Silva percorreu escolas estaduais de Senhor do Bonfim (BA) com análises de obras, rodas de conversa, esquetes, músicas, recitação de poesias e outras apresentações. Durante os encontros também eram desenvolvidas dinâmicas para estimular a interação entre os estudantes e desestressar.

Xadrez literário
Ao perceber que os seus alunos gostavam de desafios, mas não se envolviam nas atividades de leitura, a professora Ana Lúcia Lopes Viana, de Araçatuba (SP), teve a ideia de elaborar um jogo de RPG (Role Playing Game) com pistas que levariam os alunos aos capítulos de livros para desvendar um enigma final e vencer uma jogada de xadrez.

Jornal pelo WhatsApp
Em São Leopoldo (RS), a professora Debora Cristina Schilling Machry começou a enviar fotos de artigos de opinião dos jornais para os seus alunos analisarem em casa. A partir dos conteúdos compartilhados pelo aplicativo WhatsApp, a turma deveria refletir sobre os textos e buscar aplicações do que leram.

Leitura em família
Devido à falta de um tempo de leitura que pudesse envolver toda a família, a professora Tereza Mara Uchôa, de Fortaleza (CE), montou kits de leitura para as crianças levarem para casa e terem um momento de interação com os pais ou responsáveis. Além de estimular o interesse pela leitura, o projeto teve o objetivo de fortalecer laços afetivos dentro de casa.

Produções autorais
Para incentivar o interesse dos alunos pela leitura e ainda debater questões locais do Ceará, a professora Francisca Márcia dos Santos estimulou a criação de produções autorais. A partir da obra “O quinze”, da autora Rachel de Queiroz, os alunos produziram um álbum com biografia da autora, problemas sociais enfatizados na obra, contexto social e entrevistas com pessoas da comunidade que tinham algum grau de parentesco com sobreviventes da seca de 1915.


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competências para o século 21, educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, equidade

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