STEAM na educação infantil incentiva o protagonismo das crianças
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Inovações em Educação

STEAM na educação infantil desperta curiosidade e incentiva protagonismo

Projetos desenvolvidos com crianças podem partir das questões dos pequenos para inovar e promover a criatividade

Parceria com Fundação ArcelorMittal

por Ruam Oliveira / Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 5 de dezembro de 2023

E se a turma fizesse um robô que desse orientações aos alunos? Essa seria uma ideia relativamente simples, não fosse o fato de a sugestão ter partido de uma turminha com apenas 5 anos de idade. Na educação infantil, pensar em projetos que envolvem STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), exige dos professores imaginação, criatividade e também que estejam atentos às vontades e ao que os estudantes têm para oferecer. 

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A professora Maria de Fátima Eloi Reis, do Cemei (Centro Municipal de Educação Infantil) Luiz de Melo Viana Sobrinho, que fica em Varginha (MG), desenvolveu o projeto “Cuidando do(a) coleguinha, eu cuido do mundo!” com alunos do pré 2. Depois da leitura do livro “Meu amigo robô ”, de Giselda Laporta Nicolelis e Dika Araújo, ela propôs aos alunos que fizessem um robô igual, para também servir como um amigo para os pequenos. 

O projeto envolveu o trabalho com sustentabilidade – para iniciar a construção do robô, a professora pediu que as crianças trouxessem caixas e outros materiais recicláveis. E antes mesmo de a turma colocar a mão na massa, ela fez questão de mostrar, ao vivo, uma versão real de robô, levando as crianças para uma visita ao Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) da cidade. 

“Elas ficaram muito encantadas, viram a possibilidade de a gente incluir voz, músicas e mais efeitos no robô”, conta a professora, que passou a gravar os estudantes dando recados e robotizar a voz por meio de um aplicativo de computador.

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Todos os aspectos de STEAM foram trabalhados no mesmo projeto. A engenharia se deu com a montagem do robô; a ciência e tecnologia com a programação de luzes e voz; as artes com os enfeites pensados pelas crianças e a matemática com alguns cálculos necessários para pensar nas dimensões do projeto. 

Interação e protagonismo 

Na educação infantil, convidar as crianças para fazer parte das diferentes etapas de criação é fundamental. Até hoje, depois de terem o robô finalizado, a turma ainda traz suas opiniões sobre como usar o projeto, quais novos comandos podem ser gravados e até mesmo se ele pode ser usado por outras escolas. 

“Todos ficaram muito envolvidos em todas as etapas. As crianças foram muito protagonistas, eu só auxiliava. Eles opinaram bastante”, diz. 

A principal diferença para a docente desde que começou a atuar com STEAM foi observar o aumento no nível de engajamento da turma. Com esse mesmo projeto, ela até mesmo realizou uma mini eleição, com cédulas de votação, para definir o nome do robô. A turma escolheu o nome “Amigão” porque os estudantes também utilizam o boneco para “compartilhar segredos”, conforme conta a professora. “Ele acabou servindo também como um apoio para trabalhar o lado emocional das crianças”, afirma.

O projeto de Fátima é finalista do prêmio Liga STEAM 2023, uma iniciativa promovida pela Fundação ArcelorMittal e Fundação Banco do Brasil, em parceria com a AVSI Brasil e a Tríade Educacional. O objetivo é valorizar a aplicação da abordagem STEAM nas diferentes etapas da educação básica e o engajamento de alunos e professores em desafios de suas comunidades locais.

O desafio da edição deste ano, que revelará os ganhadores em 8 de dezembro, é: “8 bilhões de motivos para mudar o presente. Sua contribuição para o planeta começa em sua comunidade”.

Conexão com o território

Outro trabalho que figura entre os finalistas é o “Café além da xícara: reutilizando a borra de café”, desenvolvido pela professora Sabrina Aparecida Pereira, do Cemei Professora Ariadna Balbino Gambogi Mesquita, também de Varginha (MG). 

Esse é o primeiro contato da professora com STEAM. Antes de conhecer melhor a abordagem em sua prática diária, a educadora tinha a impressão de que se tratava de algo que demandava muito conhecimento e estrutura mais robusta. E ficou surpresa com as oportunidades oferecidas.

“Eu já tinha ouvido falar, mas achava uma coisa muito difícil, que eu não ia conseguir fazer ou que precisava de muitos recursos para a gente conseguir trabalhar com as crianças. Não imaginava que teria tantas possibilidades”, comenta a docente. 

A ideia de trabalhar com o café se deu devido à produção da fruta na cidade. A partir dessa observação, a docente questionou o que era feito dos resíduos do café e daí surgiu a ideia de aplicar o STEAM dentro de um projeto voltado à sustentabilidade. 

“Nós criamos um projeto onde a gente conseguiria trabalhar de forma lúdica e que as crianças pudessem se desenvolver nessas áreas também dentro dos campos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”, diz a docente. 

As artes, por exemplo, apareceram por meio de algumas intervenções em que as crianças usavam a borra de café para criar desenhos e pinturas. “Nós enviamos para as famílias algumas sugestões de atividade, como uma lixeira própria para reciclagem, na qual eles passariam a jogar o pó do café produzido em casa”, conta. 

As famílias receberam sugestões para o uso da borra de café, como adubo, cosméticos e até para remover arranhões de móveis.

O projeto final foi um robô aspirador de pó, batizado de “Papa pó”. “Conversamos sobre o destino da borra e os alunos entenderam os possíveis problemas ambientais que ela pode causar”, relata a professora.

Além de material de sucata, a escola utilizou utensílios do Kit de STEAM enviado pela Liga para criar o projeto.

Extrapolando os muros da escola 

O “Amigão”, projeto de robô do Cemei Luiz de Melo Viana Sobrinho, já esteve até em feiras de ciências. Foi em uma dessas atividades que ele se tornou conhecido de outras escolas. 

A professora Fátima relata que houve um pedido para que ele “fizesse uma visita” a outra escola, oportunidade para trabalhar aspectos socioemocionais com as crianças. “Algumas delas ficavam meio enciumadas com esse pedido, também com medo de que ele não voltasse. Aí a gente já faz um trabalho explicando que a função do robô é ajudar os coleguinhas e contribuir com um mundo melhor”, diz. 

As diferentes áreas do STEAM, para a professora, apareceram de forma natural ao longo do processo de construção do robô. Para ela, algo que é característico das próprias crianças – a criatividade e curiosidade – também contribuem para o desenvolvimento de trabalhos assim nesse segmento da educação.

Entre os desafios, contudo, a professora destaca que está fazer a ligação entre os diferentes pontos da abordagem STEAM. Separadamente, a ciência, as artes ou a matemática, por exemplo, aparecem naturalmente, ela diz, contudo, fazer a ligação desses âmbitos requer paciência. 

Sabrina diz que, ao mesmo tempo que há dificuldades como as citadas anteriormente, trabalhar com STEAM na educação infantil é uma oportunidade de sair da zona de conforto. Para isso, a sugestão é: começar. “O primeiro passo é querer conhecer e ir em busca de material de apoio, pesquisando e experimentando”, afirma. 

Folclore no STEAM

Em Piracicaba, interior de São Paulo, a professora Suzana Lopes Coelho, da Escola Municipal Professor Doutor Angelo Zoccante Filho, seguiu os mesmos caminhos das educadoras Fátima e Sabrina para trabalhar pela primeira vez com STEAM com sua turma do Jardim 2: apostou na experimentação e na curiosidade das crianças.

Em agosto de 2022, as crianças tinham estudado o folclore brasileiro. A partir das lendas contadas, especialmente aquelas em que os personagens são guardiões das florestas, surgiu uma série de perguntas sobre o meio ambiente. “Elas queriam ser como os personagens, ter superpoderes para punir as pessoas que jogam lixo no chão, cortam árvores e poluem os rios”, conta Suzana.

De volta à sala de aula, com todas as informações do passeio em mãos, Suzana lançou uma pergunta: “Como podemos solucionar esse problema?” Cada aluno criou uma ideia e, após uma votação, o desenho escolhido para ser prototipado foi o do Miguel, de 5 anos: um carro-robô para sugar a sujeira do chão, apelidado carinhosamente pelas crianças de “carro de super poderes”. 

Em cima do carro, um arco íris representava as principais cores da reciclagem: azul para a coleta de papel e papelão; vermelho para o descarte de plásticos; verde para vidros e o amarelo destinado aos metais, como latas e tampas. Na parte de baixo do robô, um aspirador sugaria por um cano cada tipo de lixo para reciclagem, separadamente. Os pais e responsáveis também se envolveram na atividade, tanto na separação dos recicláveis quanto na aprendizagem sobre coleta seletiva.

“No dia da exposição na escola, o Miguel ficou perto do carrinho, explicando como ele funcionava. Isso foi muito legal. O currículo de Piracicaba trabalha com projetos voltados ao protagonismo infantil, sempre ouvindo o que a criança traz de curiosidade, e a abordagem STEAM traz muitos benefícios”, comenta a professora. “As crianças nos ensinam diariamente. É muito rico vê-las reunidas planejando algo, como foi a ideia do carrinho com esses super poderes. Ver tudo o que você estudou na teoria sendo concretizado com tanta criatividade não tem preço”, finaliza Suzana. 

Para trazer o debate sobre preservação da natureza na comunidade onde vivem, a professora convidou a turma para um passeio no entorno da escola. “Todos viram de perto e constataram o sério problema de entulho nas calçadas, que em dias de chuva é carregado para os bueiros.”

Saiba mais sobre o programa Liga Steam para educadores
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Fundação ArcelorMittal

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, educação infantil, steam

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