Alunos criam jogo para compartilhar aprendizados sobre indígenas
Crédito: Arquivo Pessoal / Fabiane Aline Barbosa

Diário de Inovações

Turma do 5º ano cria jogo para compartilhar aprendizados sobre comunidade indígena do RS

Com o projeto "Kame e Kanhru: uma aventura extraordinária", os estudantes aprenderam mais sobre o povo indígena Por Fi Ga, de São Leopoldo (RS)

por Fabiane Aline Barbosa ilustração relógio 21 de dezembro de 2023

O nosso país é formado por muitas etnias, que não apenas nos enriquecem com suas práticas, como também desempenham um papel importante na constituição da cultura nacional. Segundo com o Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população brasileira possui 896 mil indígenas, distribuídos em 305 etnias, que se comunicam em 274 línguas distintas.  

Com o objetivo de celebrar essa diversidade e desmistificar possíveis preconceitos, surge o projeto “Kame e Kanhru: uma aventura extraordinária”, no qual os estudantes do 5° ano do ensino fundamental aprenderam mais sobre o povo indígena Por Fi Ga, de São Leopoldo (RS), adquirindo conhecimentos que foram aplicados na criação de um jogo destinado a plataformas digitais.

📳 Inscreva-se no canal do Porvir no WhatsApp para receber nossas novidades

Esta proposta foi desenvolvida na Escola Municipal de Ensino Fundamental Octacílio Ermindo Fauth, em Campo Bom (RS), em conformidade com as diretrizes do documento orientador do município, da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e das Leis 10.639/03 e a 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena.

Inicialmente, começamos a investigar e apreciar o artesanato e os instrumentos musicais indígenas disponíveis na nossa escola. A partir desse ponto, surgiu o interesse dos estudantes pela temática da diversidade cultural dos povos originários. Como a turma adora trabalhos artísticos, mergulhamos em um estudo sobre a diferença de expressões e de pinturas faciais que representam muitas etnias indígenas do Brasil. Os alunos, então, deram vida a retratos com diferentes rostos indígenas e escreveram uma narrativa sobre o desenho. 

Para aprofundar nossa compreensão sobre a desconstrução de preconceitos, nos envolvemos na leitura do conto “Índio come gente?”, de Daniel Munduruku. Em seguida, promovemos discussões sobre o conhecimento prévio dos estudantes acerca dos povos originários. Nessa etapa, aprofundamos conhecimentos por meio de uma pesquisa bibliográfica e documental, investigando as diferentes comunidades indígenas que viviam (e ainda vivem) no Rio Grande do Sul. Como resultado, reunimos nossas descobertas em um mural no Padlet.

Durante nossas pesquisas, identificamos que a comunidade indígena Por Fi Ga era a mais próxima da nossa escola. Então, organizamos uma visita, e neste momento já aproveitamos para delimitar o nosso problema de pesquisa. 

Ao visitar o local para fazer a pesquisa de campo, registramos a fala da indígena Sueli. Também conhecemos os pratos típicos, o artesanato, a dança e a língua da comunidade. 

A partir dessa experiência, surgiu a ideia de criarmos um jogo para mostrar e difundir ao maior número de pessoas o conhecimento que adquirimos. Ao buscar sites que ajudaram a criar jogos gratuitos na internet, conhecemos o GDevelop e decidimos explorá-lo. 

Como inspiração para começar, encontramos na biblioteca da escola um livreto chamado “Povo Kaingang: Vida e Sabedoria”, produzido pelo COMIN (Conselho de Missão entre Povos Indígenas). Lemos o texto “Povo Kaingang e seu território” e registramos nossas descobertas por meio de desenhos. Com o texto “Origem e modo de ser Kaingang”, aprendemos mais sobre as suas pinturas faciais, aplicando-as em diversas imagens de rostos.

Durante nossas pesquisas e leituras, desvendamos a estrutura social do povo Kaingang da Terra Indígena Por Fi Ga, identificando os clãs Kamẽs e Kanhrus. A fim de compreender melhor suas origens, voltamos aos escritos de Daniel Munduruku, para a leitura do conto “Depois do Dilúvio”. Este processo nos motivou a investigar também o grafismo indígena e a produção de tintas naturais.

Com base nessas referências, avançamos para a fase de criação do jogo. Inicialmente, realizamos uma pesquisa com os alunos da nossa escola, do 1º ano ao 4º ano, para entender quais características eles mais apreciavam e que mais despertavam seu interesse em um jogo. Essas respostas foram coletadas por meio de um Google Forms e, em seguida, analisadas pelos estudantes no caderno. Aproveitamos a oportunidade para criar gráficos e compartilhar nossas conclusões. 

Observamos mais alguns vídeos sobre o povo kaingang para melhor ilustrar nosso jogo e começamos o processo de desenvolvimento. Durante vários dias, exploramos a plataforma GDevelop e adquirimos proficiência em sua utilização. O nome escolhido, embasado em nossas pesquisas e consultas ao dicionário Kaingang-Português, foi “Kamẽ e Kanhru: uma aventura extraordinária”. O resultado pode ser conferido aqui

Ao longo do desenvolvimento do projeto, tivemos muitos aprendizados: descobrimos que os indígenas Kaingang habitam os estados do Sul e uma parte do estado de São Paulo, no Sudeste. Além disso, apreciamos e compramos o artesanato, que hoje é responsável por 95% de sua renda. Compreendemos a importância da tradição oral para a comunidade, onde os mais velhos compartilham suas experiências de vida, histórias de seus povos e suas culturas, tanto na língua Kaingang quanto em Português.

Foi possível perceber grande interesse dos alunos sobre esse tema. Eles gostaram muito de compartilhar as curiosidades e informações que encontraram, além de criar o jogo. 

Há muito o que se aprender sobre os povos da Terra Indígena Por Fi Ga. Sua cultura está sendo valorizada e transmitida para as novas gerações dentro da comunidade, mas também é necessário difundir este conhecimento tão rico para os não-indígenas. Dessa forma, possibilitamos que todos tenham uma visão mais ampla da natureza, das pessoas mais velhas e de sua própria cultura.


Fabiane Aline Barbosa

Professora de séries iniciais de escola pública há 12 anos, formada em História e pós graduada em Mídias na Educação.

TAGS

educação antirracista, ensino fundamental, Finalista Prêmio Professor Porvir, Prêmio Professor Porvir, tecnologia

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

0 Comentários
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
Canal do Porvir no WhatsApp: notícias sobre educação e inovação sempre ao seu alcanceInscreva-se
0
É a sua vez de comentar!x