Xadrez literário coloca em xeque a falta de interesse pela leitura
Professora de Araçatuba (SP) usou a lógica do jogo de tabuleiro para engajar os alunos e mostrar que as obras literárias também podem ser desafiadoras
por Ana Lúcia Lopes Viana 7 de junho de 2017
Percebi que os meus alunos gostavam muito de desafios, mas não se engajavam em atividades de leitura. Pensando nisso, criei a atividade xadrez literário, que envolve obras literárias e técnicas do jogo. Para estimular a leitura, contextualizar disciplinas e trabalhar de forma lúdica, usei os livros “O diabo dos números” e “Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho”.
Tive como motivação desse projeto os alunos, em especial dois, que utilizavam a sala de leitura para jogar, mas não tinham interesse em obras literárias. Eles aproveitavam o espaço para ler regras de xadrez, conversar sobre jogos, mas não acreditavam que a leitura seria uma aliada na vida e nas jogadas de enxadristas.
Desafiada a fazer algo que despertasse a atenção deles, tive a ideia de elaborar um jogo de RPG (Role Playing Game) com pistas que levariam os alunos aos capítulos de livros para desvendar um enigma final e vencer uma jogada de xadrez. Meu objetivo era ampliar o número de leitores na turma e mostrar que a leitura poderia ser introduzida na vida como estratégia de solução aos problemas, além de também criar o senso crítico e desenvolver o raciocínio lógico com as palavras.
Como eu não tenho muito conhecimento em jogos de RPG e técnicas de xadrez, pedi aos alunos para me ajudarem a montar uma gincana literária. Tive que convencê-los de que era possível trabalhar leitura e interpretação de texto dentro de uma disputa de xadrez.
Diferente de uma partida tradicional, em um jogo de RPG os jogadores assumem papéis de personagens e criam narrativas de forma colaborativa. Para isso, construímos diversos enigmas que remetiam a livros, páginas e trechos da história que traziam instruções de jogadas para dar xeque mate.
Um dos alunos que me ajudou a construir essa atividade foi o Davi Queiroz, 16. Nas palavras dele, o jogo funciona da seguinte forma: “Cada pista indica a classe de um jogador: peão, cavalo, bispo ou rei/rainha. De acordo com a categoria, os participantes deveriam fazer as suas jogadas.”
Com os enigmas criados, eu tive a ideia usar QR Codes na hora de espalhar as pistas pela escola. Colocamos um roteador de internet na sala de leitura e no pátio para os alunos codificarem as dicas com a câmera do celular.
Depois dessa gincana, também fizemos uma atividade com o livro “Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho”. Usamos os personagens da obra, a leitura e as regras de xadrez para montar novas pistas. Para isso, trabalhamos em parceria com os ex-alunos e a turma da escola.
Após a gincana, os alunos começaram a usar o espaço da sala de leitura, não só para jogos, mas também para ler. Ali começou uma bela parceria. Essas atividades fomentaram na escola o desejo de jogar xadrez e, ao mesmo tempo, o interesse por livros literários.
Ana Lúcia Lopes Viana
Graduada em letras pela faculdade Toledo e em pedagogia pela FIU (Faculdades Integradas Urubupungá). Está cursando psicologia pela FAC/FEA (Faculdade da Fundação Educacional Araçatuba) e faz algumas extensões em leitura.