Veduca desenvolve Mooc personalizado
Plataforma brasileira que já atraiu a atenção de investidores de fora vai oferecer plano de estudos com sugestões individuais
por Patrícia Gomes 22 de julho de 2013
Desde a ideia inicial, que era colocar legendas em português em aulas das melhores universidades do mundo e disponibilizá-las gratuitamente na web, muito aconteceu. Quase um ano e meio depois de Carlos Souza e Eduardo Zancul terem lançado o Veduca, o portal cresceu – e cresceu muito. Com seus mais de 270 cursos inteiros, majoritariamente de universidades norte-americanas, legendados e aulas exibidas mais de 230 mil vezes, a plataforma chamou a atenção de investidores estrangeiros e recebeu um aporte que ganhou destaque na imprensa internacional. No mês passado, se tornou a primeira da América Latina a surfar na onda dos Moocs (cursos abertos, gratuitos, de nível superior e on-line) e oferecer cursos com certificado. Agora, a promessa vai além: nos próximos seis meses, o Veduca vai passar a oferecer planos de estudo individualizados, começando a pavimentar um caminho de personalização do ensino superior novo até para os pioneiros em Moocs no mundo.
“O aluno vai nos dizer o seu objetivo, nós vamos buscar informações sobre ele no LinkedIn, no Facebook e no próprio Veduca. Com isso, faremos uma lista personalizada de cursos ideais para cada um”, afirmou Souza, fundador e CEO da plataforma, apontando as redes sociais como um dos meios que utilizará para inferir interesses dos alunos. Hoje, o Veduca tem três cursos oferecidos em formato de Moocs, sendo dois da USP (física e probabilidade e estatística) e um da UnB (bioenergética) – para acessá-los, basta clicar na aba “certificados”. Os próximos lançamentos confirmados são de cursos do ITA, FGV, PUC-Rio e PUC-SP. Para participar, os alunos podem se inscrever a qualquer momento, as aulas e as ferramentas da plataforma são 100% gratuitas. “Nossa crença, no Veduca, é que o conteúdo tem que ser gratuito e que o maior responsável pelo conhecimento é o próprio aluno”, enfatiza Souza. Ao completar o curso, o estudante tem a opção de fazer uma prova presencial para obter um certificado, também gratuito, por enquanto.
Quando a ferramenta de personalização for lançada, os Moocs oferecidos pelo Veduca darão um passo importante na direção personalizar o ensino superior, conforme as intenções de cada estudante. A tendência já tem sido percebida com o uso de plataformas adaptivas e seus algorítimos complexos no ensino básico; essas ferramentas, como a Knewton e a DreamBox, são capazes de entender o que o aluno sabe e sugerir conteúdos e formas de aprender que possam promover um aprendizado mais eficiente. Apesar de todo esse movimento nas escolas de ensino fundamental e médio, hoje, plataformas mais tradicionais de ensino superior, como Coursera, edX e Udacity, ainda não são capazes de personalizar sugestões.
Na semana passada, Sebastian Thrun, o fundador da Udacity, apontou o desenvolvimento de softwares inteligentes como uma tendência para a sua plataforma, que foi lançada no ano passado e se tornou uma das responsáveis pelo avanço rápido dos Moocs pelo mundo. “Nós realmente temos que trabalhar com inteligência artificial. Aonde poderemos levar um estudante se eles tiverem um perfil de aprendizagem específico? Nós fazemos um pouco disso manualmente, mas ainda não começamos a automatizar esse processo. Eventualmente, teremos inteligência artificial capaz de observar o aluno aprendendo para ajudá-lo a escolher a tarefa mais adequada para que o aprendizado seja mais efetivo e prazeroso”, disse ele ao MIT Technology Review.
No Brasil, além do plano de estudos individualizado, o Veduca também já prevê, agora para um prazo um pouco mais dilatado, que a plataforma identifique o perfil psicológico de cada aluno para entender de que forma cada um aprende melhor. Para tanto, Souza diz que planeja abrir uma chamada pública para desenvolvedores ajudarem a criar jogos para cada um dos cursos da plataforma. “Se fôssemos fazer os games internamente, não teríamos perna. Assim, nós dividimos com a comunidade a responsabilidade de criar games. O compartilhamento é uma tendência forte que temos visto”, diz o empreendedor. Tantas têm sido as possibilidades de parceria e colaboração que a vida de Souza está agitada. Entre tocar o negócio e definir novos rumos para a plataforma, Souza tem usado boa parte do seu tempo em conhecer gente interessada em contribuir com o Veduca das mais variadas formas. Mas, em tempo, ele faz uma ressalva: “De algumas coisas não podemos abrir mão. A curadoria dos vídeos, das melhores aulas, é um exemplo”, afirma.
Outra novidade que está nos planos é o lançamento da versão móvel, para tablets e celulares. De acordo com Souza, essa nova funcionalidade tem tudo a ver com a missão do Veduca, que é democratizar o acesso à informação. “A versão mobile remove barreiras. Ela permite que pessoas que passam muito tempo se deslocando para o trabalho possam aproveitar esse tempo estudando”, afirma. Souza diz que boa parte dos acessos que recebe hoje vem de pessoas que tentam cumprir lacunas de formações acadêmicas deficitárias que receberam na universidade. “Infelizmente, hoje temos um ‘analfabetismo funcional’ também no ensino superior”, diz.
De família de professores, Souza se formou em engenharia pelo ITA, trabalhou em banco e fez carreira numa multinacional até se dar conta de que não era bem isso que queria. A virada em sua vida veio com a ideia de democratizar o ensino. “O Brasil é a sétima economia do mundo e está sempre nas piores posições nos rankings internacionais da educação. É pela educação de qualidade que a gente vai conseguir reduzir esse gap”, avalia.