16 hábitos para aprender e desenvolver ao longo da vida escolar
Pesquisadora neozelandesa Karen Boyes discute hábitos e pensamentos que melhoram a nossa relação interpessoal e que podem ser trabalhados na escola
por Vinícius de Oliveira 6 de junho de 2019
Que atitudes as crianças devem tomar quando não se deparam com um fato novo ou um problema que não encontram referência nos livros ou experiências anteriores? E se as respostas não forem sequer conhecidas? Karen Boyes, pesquisadora neozelandesa, que esteve no Brasil no último mês de abril para evento com pais de estudantes da Escola Concept, onde explicou como eles podem apoiar as crianças a lidar com os altos e baixos da vida escolar, lidar com frustrações e encontrar o próprio caminho.
Karen é associada ao Instituto Habits of Mind, uma organização ligada à Universidade de Harvard (Estados Unidos), fundada por Bena Kallick e Arthur Costa, pesquisadores que estudaram o comportamento e pensamentos comuns a pessoas bem-sucedidas, como artistas, atores, cientistas e executivos até chegar aos 16 hábitos da mente.
Da mesma forma que as Competências Gerais da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), os hábitos promovem o entendimento e a busca pelo raciocínio criativo, a perseverança e a inteligência emocional. Como resultado, crianças de 5, 7, 10 anos, manifestam tanto na escola quanto em casa melhorias significativas em suas relações interpessoais e a forma como lidam com os problemas.
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Abaixo, alguns destaques da conversa:
Como um professor pode praticar com seus alunos
Karen lembra que sempre que são perguntados sobre quais habilidades gostariam que as crianças desenvolvessem, tanto pais quanto professores provavelmente dizem que seria bom que elas nunca desistam; que sejam capazes de encontrar novas maneiras de resolver problemas; que saibam ouvir; que sejam respeitosas; e se divirtam. Essas características estão representadas pelos hábitos da mente.
Segundo Karen, professores podem ensinar a criança em sala de aula como desenvolvê-los. No caso do controle da impulsividade, por exemplo, pode-se adotar a analogia do sinal de trânsito para ajudar o estudante a imaginar as consequências de seus atos. A leitura da situação corresponde à luz vermelha e demanda parar. Antes de fazer qualquer coisa, pense (amarelo). E só então agir (luz verde).
Preparação para o futuro
Com regras de trabalho cada vez mais flexíveis em todo o mundo, segundo Karen é necessário que os estudantes aprendam a adaptar seu comportamento e hábitos como autorregulação são essenciais. No caso do trabalho autônomo, uma tendência no Brasil puxada pela atual crise financeira, demonstrar autorregulação se faz sempre necessário, pois ninguém fiscaliza horários e prazos. Nesta situação, é cada vez mais importante saber quando é necessário rever uma abordagem para cumprir tarefas, seja trabalhando menos, mais ou adotando uma estratégia não prevista no início.
Diante de mudanças constantes e cada vez mais rápidas na natureza das profissões, a função de uma escola passa a ser a de oferecer maneiras de agir e pensar diante do desconhecido. Para isso, lembra ela, existem metodologias ativas como a aprendizagem baseada em projetos, que permitem encontrar soluções a partir do conteúdo que foi aprendido, mas de modo prático.
Ajudar sem proteger demais
O professor Arthur Costa, pesquisador dos hábitos da mente, diz que a escuta com compreensão e empatia é a rainha dos hábitos da mente. E se todos pudessem ouvir uns aos outros, o mundo não seria um lugar diferente para entender outro ponto de vista, mesmo sem ter que concordar? Não há problema com pessoas terem outros pontos de vista. O hábito sobre assumir riscos responsáveis, que é relacionado a tentar coisas novas, mostra que não há problema em cometer erros, porque é assim que aprendemos.
Ao invés de superproteção dos pais, é preciso desenvolver a resiliência, que por sua vez demanda administração da impulsividade e saber como pensar de maneira flexível diante de problemas. Esses hábitos ajudam as crianças a se tornarem mais bem-preparadas, aprender estratégias e se ajudar, mesmo quando demonstram vulnerabilidade. “E espero que os pais saibam que vai ficar tudo bem”, disse.
Como avaliar o desenvolvimento
De acordo com Karen, “sempre podemos melhorar e nunca podemos dizer que somos os melhores”. Escolas, no entanto, podem notar sinais de progresso com observação criteriosa e autoavaliações em que as crianças explicam em quais situações adotam determinado hábito. Karen explica que elas podem usar como exemplo o trabalho de arte, em que dizem onde foram desafiadas e tiveram que persistir até considerar que obteve sucesso. Cabe ao professor oferecer as estratégias para que as crianças saibam identificá-los.
Confira a lista de 16 hábitos da mente:
1. Persistir: aderir e colocar mãos à obra; seguir até a conclusão e manter-se focado
2. Gerenciar a impulsividade: pensar antes de falar ou agir; permanecer calmo quando desafiado; manter-se reflexivo e atencioso com os outros
3. Escutar com compreensão e empatia: prestar atenção e não descartar pensamentos, sentimentos e ideias alheias
4. Pensar de maneira flexível: ser capaz de mudar a perspectiva; considerar a sugestão de outros; gerar alternativas; e pesar opções
5. Entender seus próprios pensamentos, sentimentos, intenções e ações
6. Buscar a precisão: verificar se há erros; medir e analisar pelo menos duas vezes
7. Questionar e levantar problemas; perguntar-se: “como eu posso saber?”
8. Aplicar conhecimentos prévios para novas situações: usar o que é aprendido; considerar o conhecimento e a experiência anteriores
9. Pensar e comunicar-se com clareza e precisão: esforçar-se para ser claro e preciso ao falar e escrever para evitar desencontros.
10. Reunir dados por meio de todos os cinco sentidos
11. Criar, imaginar, inovar: pensar sobre como algo pode ser feito de forma diferente do habitual; propor novas ideias
12. Responder com curiosidade e fascinação
13. Assumir riscos responsáveis: dispor-se a tentar algo novo e diferente, encarando o medo e assumindo ganhos e perdas
14. Encontrar humor: rir de si mesmo
15. Pensar em equipe, dispor-se a trabalhar com os outros e acolher suas contribuições e perspectivas
16. Permanecer aberto ao aprendizado contínuo. manter-se orgulhoso e humilde o suficiente para admitir quando não se sabe algo